Portugal, um país de beleza ímpar e rica história, carrega um título preocupante: é o quinto país mais desigual da Europa. Esta distinção vergonhosa exige uma reflexão profunda e acções urgentes. Por trás das estatísticas esconde-se uma realidade desoladora que afecta milhares de pessoas em todo o território nacional. De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de risco de pobreza em Portugal atinge 42% quando excluímos as transferências sociais. Em termos práticos, isso significa que quase metade da população estaria na pobreza sem o suporte social. Em 2023, mais de 500 mil portugueses viviam em condições de privação material e social severa. Aproximadamente 2 milhões não conseguiam manter as suas casas aquecidas durante o inverno, 250 mil não tinham acesso a uma alimentação adequada e mais de 10 mil estavam desabrigados.
Na raiz dessas desigualdades está a incompetência e falta de empatia dos nossos líderes políticos, exacerbada por uma cultura de elitismo partidário que ignora as necessidades dos mais vulneráveis. Embora a desigualdade não seja um problema novo, os governos das últimas décadas contribuíram significativamente para o seu agravamento. As políticas implementadas falharam em abordar as questões centrais e, em muitos casos, pioraram a situação. Os sucessivos governos têm mostrado uma desconexão alarmante com a realidade vivida pela maioria dos portugueses. Políticas mal concebidas e mal executadas, falta de investimento e reformas em áreas críticas como educação, saúde e habitação, e uma burocracia asfixiante têm ampliado as disparidades socioeconómicas.
Muitos políticos, envoltos em bolhas de privilégio e distanciamento da realidade da maioria da população, frequentemente ignoram as necessidades prementes dos mais desfavorecidos. Para grande parte dessa classe, que vive dos privilégios partidários, a mobilidade ascendente é apenas uma palavra bonita que fica bem nos discursos políticos, enquanto para o comum dos portugueses significa uma luta diária constante para poder proporcionar o mínimo de qualidade de vida à sua família.
É fácil para aqueles que nunca enfrentaram a pobreza ou a precariedade ignorarem os desafios enfrentados por aqueles que vivem diariamente na linha de frente na luta pela sobrevivência. Aqueles que nunca sentiram na pele a angústia de não conseguir pagar o aluguer das suas casas, as despesas de saúde, as contas da alimentação e os custos da educação, nunca serão capazes de compreender a gravidade dessas situações. A retórica da ascensão social, por exemplo, reflecte não apenas uma desconexão entre as promessas dos políticos e a realidade vivida pelos cidadãos, mas também uma crise mais ampla de confiança nas instituições democráticas. Quando a retórica vazia substitui a acção substancial, quando as palavras bonitas superam os compromissos reais com a justiça e a igualdade, a integridade do processo democrático é erodida e todo o sistema democrático é posto em causa.
O conceito de que a política, infelizmente, não é o local ideal para a promoção da verdade tem ganho terreno na percepção dos portugueses. Os debates no Parlamento mostram-nos que a Assembleia da República tornou-se um espaço onde a semântica é rainha, a distorção dos factos é habitual e a verdade é apenas um conceito relativo, utilizada com mestria pelos partidos. Ao longo dos últimos anos, temos permitido a construção de uma política baseada na mentira, relegando a muitas vezes referida “ética republicana” para o baú dos valores inúteis.
Um sistema político em que a mediocridade é promovida aos lugares de decisão inevitavelmente perpetuará uma sociedade onde o demérito é elogiado e a pobreza de um país se assume como endémica. Devemos rejeitar o elitismo e compadrio típicos dos sistemas partidários que nos têm governado nestes últimos 50 anos e promover uma sociedade baseada no mérito, solidariedade, justiça e igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. Este é o desafio que enfrentamos como nação, um desafio que deve ser encarado por todos nós com seriedade, coragem e determinação se quisermos evitar o definhar contínuo de Portugal rumo à cauda da Europa.
O combate à desigualdade exige, portanto, uma mudança radical na mentalidade e nas políticas. É necessário que os governantes sejam sensíveis às necessidades dos mais vulneráveis e estejam dispostos a agir de forma decisiva para resolver essas questões. A competência e empatia não podem ser um luxo reservado apenas para alguns, mas sim uma qualidade essencial para todos os que querem ocupar cargos de liderança política.
Em última análise, a luta contra a desigualdade em Portugal não é apenas uma questão de justiça social, mas uma batalha crucial pelo futuro da nossa democracia. As promessas vazias e a retórica política desprovida de acções concretas têm corroído a confiança dos cidadãos nas instituições. Esta desconfiança crescente ameaça a integridade do nosso sistema democrático e perpetua um ciclo vicioso de desigualdade e desilusão.
A sociedade portuguesa não pode continuar a aceitar a mediocridade e a inacção. Devemos exigir transparência, responsabilidade e integridade por parte dos nossos representantes. Só assim poderemos construir um futuro mais equitativo e significativo para todos.
A luta pela igualdade e uma Cultura de Mérito e Acção é, afinal, uma luta pelo coração e pela alma de Portugal. Se não encararmos este desafio de frente, arriscamo-nos a perder não apenas o nosso bem-estar económico, mas a própria essência da nossa democracia e identidade enquanto nação.