Portugal é sem dúvida uma das grandes potências do futebol mundial. A nossa seleção nacional é campeã da Europa e da recém criada Liga das Nações, temos dois clubes que consistentemente se apresentam com sucesso na Liga dos Campeões e se debatem com grande nível contra os melhores clubes do mundo.

O futebol é uma das poucas áreas onde o pequeno país à beira mar plantado, com apenas 10M de habitantes, se debate com sucesso no plano internacional. Muito se fala da falta competitividade das nossas empresas e gostaríamos nós que essa competitividade estivesse próxima da competitividade do nosso futebol.

Pois bem, o nosso futebol está bem e recomenda-se, já a nossa economia nem por isso. E se o Futebol Português fosse gerido por comunistas?

Neste exercício de extrapolação de uma realidade socioeconómica para uma realidade desportiva vai-se simular a aplicação de algumas medidas defendidas pelo Partido Comunista Português no último Programa de Governo, ao futebol português e estimar o seu impacto.

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Para tornar possível este exercício, vai-se encarar a Federação Portuguesa de Futebol como se de o Estado se tratasse. Os jogadores serão obviamente os trabalhadores e os clubes serão encarados como empresas privadas. Assim, o conjunto de intervenientes no futebol português representarão a totalidade da economia nacional.

Uma a uma, vai-se simular a aplicação das seguintes medidas:

  • Política fiscal redistributiva
  • Código de trabalho protetor do trabalhador
  • Sistema de saúde 100% público
  • Sistema de educação 100% público
  • Proteção da economia nacional

Política fiscal redistributiva

Aplicando uma política fiscal redistributiva aos clubes portugueses (as empresas) através da aplicação de impostos fortemente progressivos que permitam à Federação Portuguesa de Futebol (o Estado) redistribuir a riqueza para setores mais desfavorecidos, estaríamos a contribuir para combater as desigualdades no futebol português. Taxando o grande capital e grandes empresas, leia-se os grandes clubes, onde vamos incluir o Porto, o Sporting e o Benfica, poderíamos contribuir para a transferência de fundos para clubes de menor dimensão e financeiramente mais desfavorecidos. Falamos assim em taxar receitas provenientes de grandes contratos de publicidade, venda de valiosos direitos televisivos e receitas de bilheteiras dos grandes jogos. Assim, decretar-se-ia que 50% deste tipo de receitas dos 3 grandes reverteria a favor da FPF, que as distribuiria pelos restantes clubes. 
A uma política fiscal redistributiva pode-se ainda acrescentar um combate à especulação financeira, a incidir sobre as vendas especulativas dos grandes jogadores, com uma taxa de 75% a aplicar às mais valias de transações financeiras de passes de jogadores acima dos 5 milhões de euros.

Efeitos: Entre muitos efeitos previsíveis, destacar-se-ia o aumento do preço dos bilhetes para os jogos dos 3 grandes, de forma a compensar a taxa de 50% de imposto, em claro prejuízo dos adeptos. Quanto à venda de direitos televisivos e contratos de publicidade haveria pouca margem da parte das televisões e grandes empresas para aumentar esses valores de compra, pelo que se prevê que a taxa de 50% seria uma quebra de receita gigantesca nos orçamentos dos grandes clubes. Quanto à taxa sobre a venda especulativa de jogadores, prevê-se que inibiria os clubes portugueses em geral de vender os seus melhores jogadores, impedindo os clubes de aproveitar uma valorização de uma das suas estrelas para comprar 3 ou 4 jogadores para outras posições onde houvesse necessidade de contratações. Mais ainda, os jovens jogadores estrangeiros em fase de crescimento deixariam de ver em Portugal uma ponte para aceder aos clubes europeus mais ricos, o que dificultaria as contratações por parte dos clubes portugueses. Os clubes mais pequenos beneficiariam a curto prazo de um aumento de receitas por via dos subsídios da FPF. Concluindo, os grandes clubes seriam fortemente penalizados em benefício dos pequenos contribuindo para uma maior equidade no plano nacional e com uma perda de competitividade clara a nível internacional dos melhores clubes portugueses.

Um código de trabalho protetor do jogador (trabalhador)

A vida está cheia de riscos e surpresas e os jogadores são muitas vezes vítimas de infortúnios que levam os seus patrões, os clubes, a dispensá-los, atirando-os para o desemprego. Quer seja por lesão prolongada, por falta de adaptação, falta de rendimento ou incompatibilidade com colegas de trabalho, os jogadores podem ver a sua estabilidade profissional em risco. Aplicando um código de trabalho protetor do jogador, como defendido pelo Partido Comunista Português, seria praticamente impossível a dispensa de jogadores por parte dos clubes, salvo pagamento de chorudas indeminizações que permitissem ao jogador fazer frente ao período de desemprego.

Hoje em dia, jogador e clube são livres de fazer um contrato a termo pelo período que acordarem, mas como defende o PCP, a Federação Portuguesa de Futebol impediria a realização de contratos a termo, promovendo contratos permanentes, válidos até à idade de reforma do jogador.

Assim, a rotatividade de jogadores no plantel de todos os clubes portugueses seria reduzida. Os clubes apenas dispensariam os jogadores que claramente não pudessem contribuir de qualquer forma para o rendimento da equipa. Nesses casos, o clube poderia pagar as indeminizações devidas e tentar contratar um novo jogador, ainda que dispondo apenas da verba que sobrasse após o pagamento dessa indeminização. Outro dos efeitos seria que os clubes ficariam com jogadores medianos no seu plantel, mas que simplesmente seriam demasiado caros de dispensar, contribuindo para a perda de competitividade da equipa. Os clubes passariam ainda a pensar duas, três ou quatro vezes antes de contratar um jovem jogador, porque saberiam que caso o rendimento desse jovem ficasse abaixo da espectativa a sua dispensa seria demasiado cara. Assim, seria de esperar que os jovens jogadores teriam mais dificuldade em encontrar um clube disposto a contratá-los. Enfim, perdiam os clubes, perdiam os jovens jogadores com potencial, em benefício apenas de um grupo de jogadores medianos ou maus que pouco contribuíam para a competitividade do futebol português e dos seus clubes.

Um sistema de saúde 100% público

Ora é sabido que os grandes clubes usufruem de departamentos médicos privados, bem equipados, contratam os melhores profissionais e estão constantemente em contacto com profissionais de saúde a nível internacional à procura de métodos e técnicas inovadoras que permitam tirar melhor rendimento dos seus jogadores. Por vezes, pagando autênticas fortunas para uma rápida recuperação de lesão de uma das suas estrelas.

Esta realidade está longe da realidade vivida nos clubes mais pequenos. Com vista ao desenvolvimento de um sistema de saúde mais igualitário e acessível a todos os clubes e jogadores, a Federação Portuguesa de Futebol criaria o Departamento Médico Nacional. Este departamento substituiria os departamentos privados existentes hoje em dia nos clubes e serviria todos os clubes de igual forma, utilizando as verbas angariadas com o sistema fiscal redistributivo anteriormente apresentado. Os clubes pequenos teriam ao seu dispor um departamento médico melhor do que o atual, enquanto os grandes clubes deixariam de ter a liberdade de contratar os médicos à sua escolha e recorrer a tratamentos com custos elevados para tratar as suas estrelas. Resumindo, mais uma vez os grandes clubes portugueses estariam a perder argumentos para se debaterem com os melhores clubes da Europa. Nesta fase, seria já praticamente impossível conseguirmos um representante na Liga dos Campeões.

Um sistema de educação 100% público

Em semelhança ao projeto da FPF para o Departamento Médico Nacional, a FPF, seguindo os ideais do Partido Comunista Português, criaria a Academia Nacional. Substituindo assim as academias de formação dos clubes. Desta forma, os clubes de grande dimensão deixariam de usufruir das suas academias privadas, deixando assim de conseguir atrair os melhores talentos nacionais para as suas academias. Esta Academia Nacional da FPF receberia todos os jogadores que estivessem interessados em aprender futebol, independentemente da sua qualidade. Os jogadores formados nesta academia seriam igualitariamente distribuídos pelos vários clubes portugueses conforme as necessidades posicionais dos respetivos planteis. Aos jogadores formados que não fossem escolhidos por nenhum dos clubes portugueses, era-lhes dado um subsídio de desemprego proveniente do orçamento da Federação Portuguesa de Futebol e por consequência dos impostos dos clubes portugueses. Assim a formação em Portugal seria mais rígida e burocrática, impedindo desta forma os clubes de competirem entre si com diferentes estratégias de investimento na formação. A centralização da formação de jogadores beneficiaria os clubes que atualmente aplicam uma má estratégia de formação, mas impediria que clubes se destacassem pelo seu sucesso e aposta na formação.

Defesa da produção nacional

Com vista à defesa da produção nacional, defendida pelo Partido Comunista Português, a Federação Portuguesa de Futebol apressar-se-ia em aplicar medidas que defendam o jogador português em detrimento do jogador brasileiro, ou outro qualquer jogador proveniente outra parte do globo. Aplicaria assim uma taxa alfandegária de 40% sobre a compra do passe de qualquer jogador que não fosse nacional. Defendendo desta forma os jogadores portugueses provenientes da Academia Nacional, financiada em parte por esta taxa, que para defesa dos portugueses não aceitaria formar qualquer jovem jogador estrangeiro. Com esta medida os clubes portugueses perderiam margem de manobra para aceder a talento internacional, quer

os clubes grandes para aceder a estrelas sul americanas, quer os clubes pequenos para contratarem jogadores baratos, mas que garantissem um nível competitivo desejado.

Conclusão

Aplicando as ideias comunistas ao futebol português, deixaríamos as boas intenções de ajudar os mais desfavorecidos arruinar a competitividade do nosso futebol. Deixaríamos seguramente de ter fortes representantes na Liga dos Campeões, deixaríamos de poder competir internacionalmente de igual para igual. Os melhores jogadores portugueses seguramente escolheriam emigrar em busca de oportunidades mais aliciantes em campeonatos de futebol mais competitivos. Provavelmente nunca voltaríamos a ser campeões da Europa e não voltaríamos a ganhar títulos Europeus de clubes. Os jogadores em Portugal receberiam salários mais baixos, consequência da perda de poder económico dos clubes portugueses e ser-lhes ia mais difícil aceder a campeonatos internacionais visto que o incentivo para os clubes portugueses venderem o seu passe estava inibido pela carga fiscal. Pior, muitos dos jogadores com menos método de trabalho treinariam menos, seguros de que seria difícil ao seu clube despedi-los, destruindo o rendimento desportivo das equipas nacionais.

Pois bem se temos em 2019 um campeonato de futebol liberalizado, competitivo e que orgulha os portugueses, mas que provavelmente seria dizimado pelas ideias comunistas, como podemos nós esperar que as empresas portuguesas sejam competitivas a nível internacional se as submetemos a um governo de Geringonça Socialista, apoiado pelo Partido Comunista Português? Como podemos nós esperar que os salários dos trabalhadores em Portugal sejam melhores, se os submetemos a um sistema que arruinaria até os salários dos melhores futebolistas?

Se gosta de futebol, mantenha os comunistas fora da sua gestão.

Se gosta de Portugal e dos portugueses, apoie a liberalização da economia nacional e sejamos campeões da Europa em muito mais setores para além do Futebol!