Nos últimos meses foram conhecidos os resultados de vários estudos científicos que apresentaram dados alarmantes sobre o estado nutricional da população Portuguesa principalmente nas crianças e nos idosos.
Paradoxalmente, é no grupo dos idosos que se encontram alguns dos mais preocupantes valores de prevalência de obesidade e de desnutrição, com diferenças significativas nos dados recolhidos entre indivíduos institucionalizados e não institucionalizados.
Exemplo claro desta realidade são os dados recolhidos pelo estudo “Portuguese elderly nutritional status suveillance system (PEN-3S)”, desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, que apontam para uma prevalência de desnutrição de 4,8% em idosos institucionalizados e de 0,6% em não institucionalizados. Os estudos Nutrition UP 65 e PRONUTRISENIOR, desenvolvidos pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto encontraram resultados similares. O estudo Nutrition UP 65 verificou que 15% de uma amostra representativa da população idosa portuguesa apresentava desnutrição e que mais de dois terços apresentavam deficiência de vitamina D (68,9%). Por sua vez, no estudo PRONUTRISENIOR, 0,9% e 11,5% dos idosos não institucionalizados que frequentavam uma unidade de saúde familiar do concelho de Vila Nova de Gaia tinham, respetivamente, desnutrição ou apresentavam risco de desnutrição.
Além disso, o estudo PEN-3S observou uma maior proporção (38,7%) de idosos institucionalizados em risco de desnutrição comparativamente aos não institucionalizados (16,9%).No que toca à obesidade, as diferenças entre os dois grupos esbatem-se (34,7% para idosos institucionalizados e 38,6% para idosos não institucionalizados), mas vêm ao encontro dos resultados apresentados no recente Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física que demonstra ser na população idosa que se encontram os valores mais altos de obesidade em Portugal, com uma prevalência na ordem dos 39%.
Estes são dados que nos devem alarmar a todos, uma vez que a desnutrição e a obesidade encontram-se associadas a um maior risco de morbilidades, morte prematura, aumento dos anos de vida saudável perdidos e diminuição da qualidade de vida, bem como a custos substanciais para os sistemas de saúde.
Mas tão ou mais reveladores são as diferenças que estes estudos apontam no que toca ao estado nutricional de idosos institucionalizados quando comparados com idosos não institucionalizados, demonstrando que é nas instituições de solidariedade social – nos lares e centros de dia – que se devem centrar as intervenções prioritárias.
Com efeito, é imperioso que as instituições que prestam cuidados à população idosa garantam, além das condições higio-sanitárias, que as necessidades nutricionais dos utentes sejam satisfeitas de acordo com as suas morbilidades e incapacidades e que implementem medidas estratégicas para a promoção de hábitos alimentares saudáveis.
E esse desígnio só poderá ser verdadeiramente atingido com a integração de nutricionistas nas instituições de solidariedade social, de forma a garantir a necessária intervenção junto destas populações mais sensíveis para reverter alguns dos problemas de saúde identificados nestes estudos.
A urgência na integração de nutricionistas nestas instituições é mais do que uma mera reivindicação corporativista por parte de uma Ordem Profissional em defesa da sua classe. É um imperativo de Saúde Pública, comprovado por evidências científicas.
Um estudo do investigador Júlio Cesar Rocha concluiu, em dezembro de 2016, que a presença de nutricionistas nas pré-escolas pode contribuir para prevenir a obesidade infantil. Os autores verificaram que a prevalência de obesidade e excesso de peso entre as crianças do jardim de infância do Centro de Apoio Social de Mozelos, onde os hábitos alimentares são supervisionados por um nutricionista há mais de uma década. Os resultados demonstraram que a prevalência global de excesso de peso e obesidade nas crianças desta instituição de solidariedade social que conta com a supervisão de um nutricionista é de 11,7%. Um valor três vezes menor que a encontrada na população pediátrica portuguesa.
Este é, por isso, um dos exemplos mais notórios dos benefícios que uma intervenção preventiva nos hábitos alimentares podem exercer diretamente sobre a saúde dos utentes das instituições de solidariedade social e, indiretamente, sobre a sustentabilidade e eficácia dos nossos sistemas de saúde.
Bastonária da Ordem dos Nutricionistas