14 de janeiro de 2005 

Estávamos em 2005 e a Metro do Porto, S.A. publica na Internet o projeto da então Linha F, a Linha Matosinhos–Boavista.

Uma linha de 6,3 km, com 11 estações e que colocaria a Casa da Música a apenas 15 minutos de Matosinhos Sul, dotando finalmente a zona ocidental da cidade do Porto de uma Linha de Metro, algo que ainda não se concretizou, após 22 anos da entrada em operação do Metro do Porto.

Esta linha rebateria na atual estação Matosinhos-Sul da Linha A (Azul) e na estação da Casa da Música, permitindo 3 importantes sinergias com a rede do Metro do Porto:

Interface, mediante túnel pedonal subterrâneo com a atual estação de Casa da Música, permitindo que os utentes pudessem fazer transbordo com o tronco comum da rede, com a Linha Rosa e com a Linha Rubi sem estarem expostos aos elementos, conforme imagens infra:

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Rebatimento da Linha Matosinhos–Boavista com a atual Linha Azul em Matosinhos Sul, permitindo, nessa estação, a criação de um interface e a captação de utentes neste importante ponto gerador de tráfego;

Por último, e o mais importante, a “desmontagem da serpentina”, que é o traçado da Linha Azul, em Matosinhos, com 8 curvas de 90 graus (conforme imagem infra).

Essa “desmontagem” permitiria:

(i) que a Linha Azul fosse encurtada a Matosinhos-Sul, permitindo uma melhor orientação da mesma, Leste-Oeste, e capacitando uma potencial expansão para o Terminal de Cruzeiros de Leixões e;

(ii) que o troço Matosinhos Sul–Senhor de Matosinhos pudesse ser integrado na Linha Matosinhos–Boavista, permitindo uma melhor orientação do mesmo, no sentido Sul-Norte, capacitando inclusive uma potencial futura expansão para a Exponor e para Leça da Palmeira.

No corredor central da Avenida da Boavista, teríamos então o canal metroviário, com estações em “ilha”, ou seja, do lado esquerdo do material circulante (no Metro do Porto, não há problema se os cais das estações são à esquerda ou à direita, dado que toda a frota tem portas bilaterais).

O material circulante a utilizar nesta linha seria o mesmo de toda a rede do Metro do Porto, sem necessidade de parques de manutenção e oficinas distintas e poderia acomodar:

Bombardier Eurotram de 450 lugares (acoplados em dupla);

Bombardier Flexity Swift de 496 lugares (acoplados em dupla);

CRRC Tram de 488 lugares (acoplados em dupla).

23 de agosto de 2024

No entanto, 19 anos depois, a história é outra, completamente diferente, com o anúncio da conclusão das obras do famoso MetroBus da Boavista:

Mas o que é o MetroBus e em que difere do Metro do Porto?

O MetroBus é:

Mais poluente, dado que a ligação elétrica direta via catenária é mais eficiente que o carregamento por baterias e hidrogénio. Além disso, os autocarros têm menor vida útil e apresentam uma maior resistência ao rolamento dos pneus vs rodados/carris de um metro ligeiro;

Menos económico (para transportar o mesmo número de pessoas, autocarros são mais caros que metros ligeiros);

Tem menos capacidade (o MetroBus da Boavista terá apenas capacidade para 133 passageiros, quase 4 vezes menos capacidade que o Metro do Porto).

Por outro lado, com o MetroBus substituiu-se a ligação direta de Casa da Música a Matosinhos Sul/Senhor de Matosinhos por duas ligações absolutamente mancas:

Ligação à Praça do Império, não passando pelo Fluvial, nem pelo Bairro da Pasteleira, zonas de elevada densidade populacional, que iam ser servidas pela Linha do Campo Alegre, linha esta também na gaveta por causa do MetroBus;

Ligação apenas até à Praça Cidade São Salvador/Rotunda da Anémona. O interface em Matosinhos-Sul do anterior projeto é substituído por um “interface” com 1,2 km, a pé, entre o término do MetroBus e a estação de Matosinhos-Sul, da Linha do Metro do Porto.

No fim de contas, volvidos quase 20 anos, acabou-se por gastar 76 milhões de EUR num MetroBus, ou cerca de menos de metade do custo do projeto da linha de Metro do Porto, por um sistema que transporta 4 vezes menos passageiros.

É difícil determinar o declínio de uma nação.

Mas há sempre sinais.

Este é um deles.