Quando olhamos para a sociedade portuguesa, é cada vez mais visível o fenómeno da bipolarização.

A democracia é sinónimo de pluralidade de ideias e, só vivemos numa verdadeira democracia, quando temos a liberdade para as exprimirmos. É através do confronto de ideias que conseguimos evoluir enquanto sociedade, e procurar as melhores soluções para resolvermos os problemas com os quais vamos sendo confrontados.

No entanto, vivemos um momento em que se procura o confronto inconciliável de ideias, que só é capaz de gerar a divisão da sociedade. Ficamos com a sensação de que, hoje em dia, existem assuntos que são intocáveis, e dos quais devemos sentir vergonha em debater. Mais ainda, perdemos a liberdade de opinião. Temos que pensar todos da mesma forma, pois há uma e uma só verdade.

Basta refletirmos um pouco sobre o caso mais recente da morte de Odair Moniz por um PSP. Ainda pouco se sabe em concreto sobre o caso, pois o mesmo está em segredo de justiça, e a ser investigado pelo Ministério Público e, em todos os canais televisivos, vemos a grande maioria dos comentadores e intervenientes políticos com discursos extremados. Sem conhecermos totalmente os contornos do caso, temos, por um lado, aqueles que vêm prontamente acusar a PSP de racismo e de violência racial e, do outro lado, temos aqueles que vêm defender a PSP e propor a condecoração de um agente que matou um homem. E não somos capazes de chegar a um meio termo. Não conseguimos aguardar pela conclusão do inquérito para tecermos todas as considerações. Não nos é permitido, ao mesmo tempo, defender as nossas forças de segurança, admitindo que, pontualmente, existam casos de racismo nas nossas forças policiais, sem recurso à generalização, e compreender o sentimento de revolta que está presente naquelas populações. Ou defendemos a soberania das forças de segurança, às quais tudo passa a ser permitido, ou defendemos aquelas populações, tentando legitimar os comportamentos de vandalismo. O que nós não somos capazes é de nos colocarmos de cada um dos lados e compreender as suas posições, aguardando a conclusão do processo para, aí sim, tecermos as devidas conclusões sobre o mesmo, e atuando de acordo com a verdade do que realmente aconteceu.

Temos seriamente que perguntar, onde está o sentimento de empatia? Onde foi que ele se perdeu e, com ele, foi também a liberdade de opinião?

O ser humano tem que perceber que a sociedade não é, nem nunca será, preto e branco. Existem imensos tons de cinzento que só conseguimos ver quando nos colocamos na posição do outro, nos obrigamos a pensar como ele e a compreender as razões por detrás da sua opinião. Se fizermos uma breve pesquisa nas redes sociais, conseguimos perceber que se tem tornado cada vez mais difícil, para o ser humano, aceitar a diversidade de opiniões. Ouvir o que o outro tem para dizer, os seus argumentos e as suas vivências, para compreender que a verdade que se tem como única, não o é. Porque a opinião de cada um é baseada única e exclusivamente nas suas experiências pessoais. Mas, vivências, cada um tem as suas e, portanto, isto leva a que a pluralidade de ideias seja inevitável. E ainda bem que assim é! Pois só assim, conseguimos uma democracia forte, que avança com as mudanças da sociedade e que encontra sempre as melhores soluções que servem o bem comum.

Assim, a disciplina de Cidadania revela-se de verdadeira importância. É também para estas aprendizagens que serve esta disciplina. Porque há certos valores da sociedade que se estão a perder. E, mais do que educação sexual, é importante que esta disciplina possa contribuir para o redescobrir de certos valores, que são de extrema importância para o respeito pela individualidade de cada um e pelas suas escolhas! Se conseguirmos fomentar o sentimento de empatia nos mais jovens, conseguiremos garantir que todos os seres humanos sejam respeitados na sua individualidade. Conseguimos garantir que temos uma democracia cada vez mais forte, que se desenvolve com a pluralidade de ideias. E, no final de contas, é só isso que todos queremos!

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