Quem casa quer casa! Este é dos ditados portugueses mais conhecidos que expressa que, nomeadamente os jovens casais, procuram um teto para viver depois da sua união, na maioria das vezes com a pretensão de constituir família e terem a desejada independência dos pais.
O mercado da habitação em Portugal é dinâmico e tem conseguido dar resposta à procura, com preços mais ou menos especulativos, dependendo da localização da mesma. A verdade é que nos dias de hoje os preços são desmotivantes e implicam uma prisão durante anos (décadas, na verdade), no caso de compra com recurso ao crédito, ou o gasto de uma fatia significativa do rendimento mensal, no caso do arrendamento.
Mas não é diretamente este o problema que vos trago e que é sobejamente conhecido. Quero sim, analisar a excessiva construção nova, em área e volume, em Portugal, quando temos prédios abandonados, a cair aos poucos, nos centros das nossas urbes e que deveriam (para não dizer, teriam) de ser reabilitados e colocados no mercado de venda ou arrendamento. Segundo os dados mais recentes da Pordata, em 2020 foram construídas 8.384 novas habitações em Portugal e apenas recuperadas 1.816, ou seja, investe-se no novo, retirando espaços verdes ao País, quando temos área construída a necessitar de reabilitação. Dados obtidos através de agências imobiliárias, dizem-nos que existem em Portugal cerca de 730 mil casas vazias e abandonadas, nomeadamente nas grandes metrópoles como Lisboa e Porto. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), apontam para 14% de moradias vagas em Portugal, sem qualquer utilização. É caso para questionar se o Estado é apenas uma figura de estilo ou realmente um conjunto de instituições que controlam e administram adequadamente a nação?
Se a lei não permite a posse administrativa ou mesmo expropriação pelo Estado por ausência de cuidado do bem patrimonial do País (sim, porque o privado também é parte integrante do País), mude-se a lei, adeque-se a mesma aos tempos atuais. A reabilitação é fundamental e urgente para preservar o património já edificado, o que garante menor impacto ambiental, preservação e desenvolvimento dos espaços verdes e revitalização dos centros das cidades, sem ser apenas para alojamento local para turistas em lazer.
As pessoas que trabalham e contribuem para a economia de Portugal têm de ter a possibilidade de escolha entre viver numa casa nova ou numa casa com história, com um passado. As cidades têm de ter o orgulho de serem visualmente apetecíveis, sem monos a cair aos poucos, a criar ratos e a serem vandalizados.
Com esta disputa entre o novo e o reutilizado, pode ser que a competitividade económica do mercado imobiliário force a baixa de preços na aquisição ou arrendamento de uma casa. E já agora, o património do Estado, que a todos nós pertence, deveria ser o primeiro a dar o exemplo da boa e efetiva reabilitação. Como nos diz uma conhecida rádio portuguesa nas suas rubricas: “Vale a pena pensar nisto…”, e eu acrescentaria: e vale a pena começar o trabalho enquanto ainda temos paredes!