Homens de Portugal, temos de falar sobre isto. Para quem não saiba, a próstata é uma pequena glândula que cada um de nós tem, do tamanho e da forma de uma noz. Localiza-se por baixo da bexiga, envolvendo a uretra, o tubo que transporta a urina da bexiga para o exterior. Com o avançar da idade, este órgão tende a aumentar de tamanho – chamamos Hiperplasia Benigna da Próstata a esse aumento, que causa o estreitamento da uretra à saída da bexiga e dá origem a queixas ou sintomas. Os mais comuns são o enfraquecimento do jato urinário, ou a sua interrupção, a sensação de esvaziamento incompleto, o aumento do número de idas à casa de banho, acordando-se uma ou várias vezes durante a noite para urinar, assim como a vontade imperiosa de urinar e, às vezes, a incontinência.
É uma doença progressiva, muito comum – estimando-se que 30 a 50% dos homens têm sintomas decorrentes de Hiperplasia Benigna da Próstata a partir dos 50 anos –, crescendo o número com o aumento da idade e causando um grande impacto na qualidade de vida dos homens.
No que respeita aos tratamentos, existem várias abordagens, desde os fármacos às cirurgias mais ou menos invasivas. Como regra, a cirurgia é a melhor opção sempre que os sintomas interferem de modo significativo com a qualidade de vida e o tratamento farmacológico não é eficaz.
Até há alguns anos atrás, os tratamentos cirúrgicos clássicos eram essencialmente dois: a ressecção endoscópica de próstata, uma técnica realizada através da uretra, e a prostatectomia aberta, carecendo de uma incisão da pele abaixo do umbigo.
Há alguns anos atrás, esta ressecção endoscópica de próstata – em que se utilizava uma corrente elétrica monopolar – obrigava a um internamento médio de 3 a 5 dias. As fontes de energia evoluíram e, em 2001, surgiu uma nova técnica, a ressecção endoscópica prostática através de corrente bipolar, mais segura para o doente, com menor risco de hemorragia e com menor tempo de internamento. Depois, existe a vaporização fotosselectiva da próstata, com a utilização do laser como fonte de energia, que diminui a hemorragia e o tempo de internamento, embora com taxas ligeiramente maiores de desconforto a urinar e de necessidade de uma nova intervenção.
Atualmente, é possível também realizar prostatectomia por via laparoscópica e robótica, com menor hemorragia, menor dor e menor tempo de internamento do que a via clássica, aberta. A enucleação laser da próstata permite tratar próstatas volumosas (que seriam tratadas por prostatectomia) por via transuretral (sem incisões) com internamento de apenas 1-2 dias.
Nos últimos anos, têm surgido várias técnicas com o objetivo de serem menos invasivas, com menos tempo de internamento, menos hemorragia e redução de outros fatores. Na Hiperplasia Benigna da Próstata, quanto maior é a invasão, melhores são os resultados, mas maior é a probabilidade de ter impacto nas funções urinárias e sexuais.
Novas técnicas – como o Rezum, com vapor de água, a Aquablation, com jacto de água, o iTind, um dispositivo de nitinol, o Urolift, um implante metálico que abre a uretra prostática, e o Optilume, com a utilização de um balão de dilatação – têm taxas altas de preservação da função sexual e são menos invasivas.
O Rezum, por exemplo, é uma técnica minimamente invasiva, com um sistema inovador que consiste numa injeção de vapor de água que liberta energia térmica na zona central da próstata, destruindo o tecido prostático que causa a obstrução, permitindo, assim, uma redução do seu volume central, através da criação de um espaço oco no interior do órgão. Facilita, deste modo, a passagem da urina sem obstáculos e com um alívio dos sintomas urinários. O procedimento é rápido, dura cerca de 15 minutos e é realizado em regime de ambulatório, com o doente a poder voltar para casa no próprio dia. Os estudos científicos efetuados indicam que este método permite tratar esta doença de forma eficaz e menos agressiva do que as cirurgias convencionais.
Na Hiperplasia Benigna da Próstata, dada a multiplicidade de técnicas cirúrgicas, é fundamental definir com o seu urologista a técnica que melhor se adequa a cada doente, assim como às suas expectativas, nomeadamente a preservação da função sexual. Digamos que não há uma técnica perfeita, mas, sim, várias possíveis.
Além disso, importa desmistificar a ideia de que as cirurgias têm consequências graves: os doentes por vezes têm receio de realizar estas intervenções, mas a verdade é que têm elevadas taxas de sucesso e permitem uma melhor qualidade de vida.