A Teoria das Janelas Partidas estabeleceu, há mais de cinquenta anos, que a inação perante pequenos distúrbios e a lentidão na reposição das condições normais no Espaço Público, criam uma atmosfera de deterioração e desinteresse que, em última instância, agravam os problemas das cidades. Esta é a chave para compreender o que Carlos Moedas, “em apenas três anos”, não conseguiu compreender: cidades com mais lixo, geram mais lixo e ruas mais sujas, acabam mais sujas.

Os problemas de Higiene Urbana são complexos e interligados, é por isso que os serviços que lhes dão resposta são complementares e interdependentes. Carlos Moedas, “em apenas três anos”, ainda não conseguiu abandonar a sua visão concorrencial dos serviços que coloca em causa todo o sistema de Higiene Urbana.

É esta visão que permite que um vereador, depois de ser criticado pelo estado a que deixou chegar a limpeza da cidade, não consiga dizer mais que “em apenas três anos”, logo seguido por “conseguimos fazer mais e melhor que o PS em catorze anos”. Sem, de seguida, não acrescentar nem mais uma palavra, nenhum exemplo, nenhuma política, nenhuma amostra concreta do que será este “mais”, ou este “melhor”.

Podemos ser compreensivos com este abuso da qualificação. Com boa vontade, o vereador Ângelo Pereira tenta mascarar o vazio e empurrar o problema para o esquecimento. Repete a fórmula que conseguiu utilizar com sucesso nestes “apenas 3 anos”, nestes “apenas” mil e poucos dias, onde nada foi feito pelo executivo de Carlos Moedas em matéria de Higiene Urbana.

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Foram contratados motoristas e cantoneiros concluindo, claro, os procedimentos iniciados pelo Partido Socialista. Eram centenas, as vagas criadas e com recrutamento em curso, quando este novo Executivo tomou posse. Mas nem a manutenção do que existia este Executivo foi capaz de assegurar, deixou caducar contratos de controlo de pragas, de limpezas de grafittis, entre outros. Moedas, claro, dirá que, ao dia de hoje, já tem contratos para estas áreas. Mas os atrasos causados pelo desleixo não se recuperam pela simples contratação do que nunca deveria ter caducado. Esta é uma lição que em “apenas 300 dias” o Executivo Municipal já devia ter aprendido, na Higiene Urbana e em qualquer serviço do Universo: a falta de planeamento cria problemas além da própria execução dos serviços.

É preciso bastante falta de topete, ou um enorme desconhecimento, para dizer que se fez “mais” do que quem mudou totalmente a infraestrutura e a frota da recolha de lixo e quem, através da reforma administrativa da cidade melhorou drasticamente a varredura e limpeza do dia-a-dia. E é ainda mais estranho dizer que se fez “melhor” do que quem alterou totalmente o sistema de recolha, retirando lixo da rua, revolucionando indicadores de qualidade de gestão de resíduos e criando um sistema de limpeza de tags na cidade. São tantos (e tão bons) os exemplos de catorze anos, que em “apenas três anos” o Vereador Ângelo Pereira podia ter encontrado um ou dois capazes de rivalizar com o atrelado que inventou para recolher panelas e pequenos eletrodomésticos (que, já agora, sempre existiram, mesmo que sem rodas).

É verdade que nunca a cidade produziu tanto lixo, mas é também verdade que nunca a cidade de Lisboa teve tantas falhas na recolha. Isso deve-se à falta de qualidade da gestão da recolha regular, mas também à absoluta falta de visão dos trabalhos suplementares ou complementares.

Também as Juntas de Freguesia não estão em situação diferente. Nos primeiros dois anos deste mandato a Câmara Municipal decidiu atrasar o pagamento das competências delegadas. As Juntas de Freguesia, julgo que sem exceção, assumiram essas competências com enorme esforço dos seus orçamentos, adiando investimentos necessários. Também estes efeitos não foram recuperados, nem foi elaborado qualquer plano para recuperar o tempo perdido.

Ainda sobre as delegações complementares nas Juntas de Freguesia, Carlos Moedas, em “apenas três anos” ainda não conseguiu compreender que não é um problema de limpar “o balde ou à volta do balde”. Este é, precisamente, um dos grandes problemas. Moedas não compreender o papel complementar, e não central, das Juntas de Freguesia no processo da recolha do lixo, permite e valida o desleixo dos seus próprios serviços. Este desleixo, em conjunto com a total falta de fiscalização dos fiscais da Câmara Municipal de Lisboa e da Polícia Municipal, é culpa de Carlos Moedas, pois este, não tem qualquer interesse pelo assunto, pelo que jamais poderá ter uma visão para o futuro.

A solução para uma cidade limpa passa por um novo plano, que concilie serviços e respostas, modernize modelos de reporte e crie uma efetiva fiscalização. A proximidade exige responsabilidade, exige que serviços de todos os dias como a recolha do lixo e a limpeza da cidade sejam fiscalizados e tenham redundâncias de serviço.

Lisboa precisa de soluções e só as terá com o Executivo que tenha uma visão para a cidade e visão para os vários setores da sua atividade. Mais uma vez, o Partido Socialista terá de pôr a Câmara a funcionar, planeando e reformando os serviços, mas também criando planos de emergência para recuperar os problemas causados por estes “apenas três anos” de abandono cujos danos serão visíveis por muito tempo.