A investigação clínica representa uma componente fundamental do conhecimento em saúde e uma fonte de desenvolvimento científico e económico que deve ser fortemente valorizado por qualquer país.

Há 10 anos o Governo português estabeleceu uma parceria com a Universidade de Harvard para formar, no domínio da investigação clínica, 35 internos de medicina. Este programa representou um financiamento de 2,5 milhões de euros. Dois anos depois foi aprovada a Lei de Investigação Clínica e, em 2018, a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB). Estes investimentos significaram, mais pelo simbolismo do que pelo valor um si, um sinal claro da necessidade de o nosso país apostar na investigação clínica enquanto fator de desenvolvimento. Com esta aposta, poder-se-ia pensar que Portugal estaria hoje na linha da frente deste sector em termos europeus, mas tal não corresponde à realidade.

Sabendo-se que os ensaios clínicos têm vantagens para os doentes, a comunidade científica e a economia, porque é que Portugal ainda não aproveitou todo o seu potencial? Um estudo da PwC sobre este tema publicado em 2019 (uma atualização do que foi feito em 2013 para a APIFARMA) identifica vários constrangimentos em relação ao seu desenvolvimento em Portugal. Essas barreiras têm a ver com políticas sectoriais, organização, infraestruturas, incentivos, formação, carreiras, tecnologia e informação.

Os ensaios clínicos são essenciais ao desenvolvimento de novos medicamentos e à evolução da investigação clínica. São úteis para os doentes e para o corpo clínico, podendo servir para melhorar os cuidados assistenciais e proporcionar a mobilização das comunidades de investigação e desenvolvimento. Criam valor para outras indústrias e atraem investimento e a atenção de importantes stakeholders nacionais e internacionais. Colocam o país no radar das networks de inovação na saúde.

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Portugal precisa de se tornar competitivo nesta área e dez anos depois do pontapé-de-saída para ter uma indústria de ensaios clínicos é necessário mobilizar o país para aumentar a sua visibilidade internacional nesta área.

Algumas das medidas propostas no estudo da PwC passam por reforçar e difundir a importância estratégica da investigação clínica para Portugal, desenvolver uma política de incentivos fiscais mais atrativas para esta atividade, criar um sistema de reconhecimento e compensação dos investigadores e métricas relativas à investigação clínica nas unidades de saúde a nível nacional, com avaliação periódica, e dinamizar o monitorizar a integração e otimização dos diferentes sistemas de informação.

Há cinco anos o impacto económico dos ensaios clínicos em Portugal chegou aos 87 milhões de euros. Considerando as iniciativas propostas no estudo da PwC projetou-se que esse impacto poderia atingir os 145 milhões, em 2021. Por aqui se vê o potencial que esta atividade pode gerar não só na economia, mas também ao nível dos profissionais e estruturas de saúde, estimulando a inovação e a partilha de conhecimento.

Sabendo-se da relevância da indústria farmacêutica nos investimentos em investigação e desenvolvimento a nível mundial – de acordo com a Comissão Europeia, em 2016, foi o sector como maior volume nesta área – o desenvolvimento do sector dos ensaios clínicos certamente que colocaria Portugal no radar destes investimentos. Num momento crítico para o nosso país, com a aplicação dos fundos do PRR e do que isso representa para o futuro da nossa economia, é importante recentrar a atenção na investigação clínica em Portugal e no papel que ela pode vir a ter no desenvolvimento científico e económico do nosso país, bem como para os benefícios que pode trazer para muitos milhares de doentes, que anseiam por novas alternativas face às dificuldades que enfrentam.