O Porto de Lisboa tornou-se um peso para a cidade, essencialmente pela falta de cultura marítima que cada vez mais notamos nos portugueses.

A cidade de Lisboa existe neste local desde há inúmeros séculos, porque quem por aqui passou entendeu que o estuário do rio Tejo é um dos melhores portos do Mundo.

E durou todos estes séculos porque, à medida que se foi dando o desenvolvimento da sociedade e das suas tecnologias, o porto de Lisboa continuou sempre a demonstrar as suas enormes qualidades enquanto responsável pela atração de inúmeras atividades económicas que deram à cidade a sua capacidade de se desenvolver.

O investimento em estruturas portuárias é, em todo o mundo, um dos maiores geradores de riqueza, e tem sido sempre um elemento fundamental à sustentabilidade do desenvolvimento da cidade de Lisboa.

Nas últimas décadas, infelizmente, Portugal virou as costas ao mar, à cultura marítima e ao desenvolvimento de tecnologia ligada à exploração do maior recurso que detemos e que nos poderá a trazer um crescimento tecnológico, económico e social que seria verdadeiramente transformador da nossa realidade.

Essa falta de cultura marítima levou muitos dos nossos políticos a tratar estes temas, e os portos em particular, como elementos negativos para o Portugal do século XXI.

Assim, sistematicamente, assistimos a decisões que pretendem solucionar os problemas de outros sectores através da anulação do recurso marítimo, em vez de apostarem na coordenação desse recurso com as restantes preocupações, conseguindo resultados bem melhores.

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A tentativa de utilizar cada vez mais as áreas que tradicionalmente estavam destinadas à atividade marítima para suprir as falhas de soluções habitacionais, recreativas e de turismo, sem tentar cuidar de proteger as necessidades futuras dessas atividades, compromete a sua contribuição para a criação de riqueza da cidade e cria relações difíceis entre as duas realidades sem qualquer benefício para os cidadãos.

Pelo contrário, a planificação da convivência salutar e mesmo da interdependência das duas realidades permite criar soluções duradoiras de qualidade em que se interajudam nesse desenvolvimento.

A atividade marítimo-portuária é de um interesse enorme, que está profundamente ligada com a vida do dia a dia das pessoas, seja no que representa nos custos de todos os produtos que consomem, seja no que influenciam as empresas em que trabalham e, claramente, no valor com que contribui para a riqueza criada na cidade.

Mas os portugueses estão muito afastados desta realidade e isso leva-nos a perder toda a possibilidade de ganharmos mais com este maravilhoso recurso que temos, e que poderá representar mais de dois milhões e meio de quilómetros quadrados do nosso território – que em terra firme apenas tem noventa mil quilómetros quadrados.

Também aqui, a possibilidade de aumentarmos a convivência dos cidadãos lisboetas com a atividade marítimo-portuária, seria da maior importância para que se pudesse aumentar o nível de conhecimento médio sobre o recurso marítimo, tornando-nos mais capazes de contribuir para o seu eficiente aproveitamento.

Matar o porto de Lisboa é um erro para o presente e um terrível comprometimento do nosso desenvolvimento para o futuro.

Nestes momentos em que praticamente todo o nosso crescimento económico resulta do turismo e em que estamos demasiado dependentes deste sector que, mais cedo ou mais tarde, nos poderá trazer dissabores, é o tempo em que devemos ser mais profundos na preparação da nossa estratégia para o futuro e esse está completamente ligado ao Mar.

A ligação da economia, da habitação, do recreio, do estudo e da inovação ao Mar é a condição essencial para que possamos um dia fazer de Portugal um país diferente.

A aprendizagem para saber beneficiar dessas vantagens começa hoje e o aprofundamento do conhecimento sobre o mar implica querermos viver mais com ele.

O Porto de Lisboa é um criador de riqueza que deve ser cuidado, desenvolvido e aproveitado, sem que se comprometa o seu futuro.

O desenvolvimento da cidade de Lisboa não passa por anular o seu porto, mas por aprender a conviver com ele, aproveitando as suas vantagens e promovendo o seu futuro.