Estamos na época do ano em que todos gastamos uma boa parte do que fomos ganhando nos meses anteriores em bens de consumo. Prendas para a família, amigos e para nós próprios. Se exageramos, ou não, neste frenesim consumista não é o tema deste artigo, mas sim de que forma podemos poupar no processo, continuando a comprar os mesmos produtos.

Hoje em dia, em qualquer loja de eletrodomésticos ou de tecnologia, tentam vender-nos um seguro que cobre a quebra ou avarias do aparelho que estejamos a comprar. Pelo que vejo de quem me antecede na fila, conseguem-no com muita frequência. Julgando pela insistência dos comerciais, parece razoável supor que as margens deste ramo segurador serão bastante interessantes para os intermediários.

Tanto a nível empresarial como pessoal, o propósito dos seguros deverá ser o de nos deixar dormir bem, sabendo que não enfrentaremos situações de um choque financeiro extremo. Faz por isso todo o sentido para a generalidade das pessoas ou empresas que subscrevam seguros que cubram potenciais perdas significativas. Para a maior parte de nós, isso poderá significar a nossa casa, carro ou saúde. Para as empresas, as suas instalações, trabalhadores ou riscos decorrentes da atividade.

Como todos sabemos, o papel das seguradoras e dos seus intermediários é o de juntar os pagamentos de todos os clientes e pagar aos que tenham o infortúnio de um acidente. Por esta tarefa é justo que sejam remunerados, cobrando uma margem. Se, por hipótese, todos os clientes juntos pagam 100 euros para cobrir um determinado risco, é porque a seguradora calculou que em média pagará uns 70 ou 80 euros a quem tenha sinistros, ficando em média com 20 ou 30 euros para pagar os seus serviços, os dos seus agentes, mediadores ou corretores. Pagando esta margem, ficamos isentos de uma perda que poderia significar a nossa ruína. É um bom negócio para todos.

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Serviu este parêntesis sobre o mercado segurador para enquadrar uma questão que nos deveríamos colocar sempre que equacionamos subscrever um seguro: faz mesmo sentido?

Se o risco é a ruína financeira, a resposta deverá ser um inequívoco “sim”, mas noutros casos a resposta deveria ser um rotundo “não”. Se arder a nossa casa ou estourar o nosso carro significa para a maior parte de nós uma perda muito importante, ruinosa até. Partir um telemóvel, por outro lado, não o deveria ser. Seria bastante desagradável, sim, mas não ruinoso. Pode parecer cruel dizê-lo mas, se a perda do seu telemóvel o leva à ruína financeira, provavelmente deveria adquirir outro mais barato.

Recentemente, um conhecido dizia-me que fazia sempre estes seguros porque, ao fim de um ano, partia o telemóvel de propósito para lhe darem um novo. Casos destes tornam a compra deste tipo de seguro uma decisão ainda pior para a maior parte dos consumidores. Voltando ao facto de que o montante que todos os clientes pagam será sempre menor do que aquele que todos recebem, dadas as margens das seguradoras e intermediários, os clientes honestos estão a pagar não só isso mas também a subsidiar aqueles que aldrabam o sistema.

Assim, à sugestão do vendedor de fazer um seguro sobre a televisão, o frigorífico, o computador ou o telemóvel, a sua resposta racional deveria, claramente, ser “não”. Seguindo o mesmo raciocínio, poupe esse dinheiro para o dia em que tenha o infortúnio de ter alguma avaria. Se não quiser ser tão racional, gaste-o noutra prenda: para mim, por exemplo, em agradecimento a este bom conselho que lhe dei.