O conceito de valor em saúde representa um modelo inovador de prestação e de financiamento dos cuidados de saúde.

No modelo clássico, os prestadores (médicos, hospitais…) são, em regra, pagos de acordo com os serviços que prestam ou com o tempo e os recursos que despendem para realizar uma determinada intervenção.  Ainda que o objetivo seja sempre o de melhorar a saúde das pessoas, na verdade o facto de os prestadores atingirem ou não esse fim, ou de garantirem a sustentabilidade do impacto destas ações na melhoria futura da saúde, qualidade de vida e/ou funcionalidade de cada pessoa, acaba por não ser expressamente equacionado nesta forma de pagamento.

Os prestadores, ainda que responsáveis pelo seu desempenho profissional, transferem a generalidade dos riscos e incerteza destas intervenções na saúde (presente ou futura) para quem procura os cuidados.

Ora, o modelo de prestação de cuidados de saúde baseado no valor modifica esta equação e promove uma troca entre aquilo que são a qualidade e os resultados em saúde, efetivamente garantidos por cada prestador a cada indivíduo, e aquilo que em função disso lhes é pago.

Os prestadores estão assim envolvidos e diretamente coresponsabilizados pelos resultados de cada prestação na melhoria imediata da saúde das pessoas (realizar por exemplo uma cirurgia prostática sem complicações imediatas), mas também no impacto futuro desta intervenção na saúde destas (por exemplo, garantindo que as taxas de complicações como a incontinência ou a impotência são também tidas em consideração).

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Este exemplo da partilha do risco e de maior continuidade é ainda mais evidente na abordagem de uma pessoa saudável ou no caso de doenças crónicas, como por exemplo a diabetes ou a insuficiência cardíaca.

Para um indivíduo saudável é essencial envolvê-lo e coresponsabilizá-lo numa estratégia de prevenção que evite os determinantes de doença mais relevantes – o sedentarismo, o excesso de peso, o tabagismo ou a solidão, entre outros.

No caso das doenças crónicas, o modelo de valor distancia-se de um relacionamento puramente prescritivo, envolvendo de forma próxima e continuada os doentes e os profissionais numa estratégia multidisciplinar, em que não apenas se trata, mas simultaneamente se previnem agudizações e se otimiza o curso da doença de forma a manter e prolongar a saúde.

Esta continuidade de cuidados torna, para além disso, mais eficiente e parcimonioso o uso de medicamentos e evita a utilização ou duplicação de exames e testes dispendiosos, mas pouco relevantes, fazendo com que a utilização de recursos, sempre limitados, possa ser canalizada para pessoas com necessidades mais prementes.

A equação de valor abre naturalmente a porta a que às propostas de resultados alternativos se associem compensações financeiras diferentes, assim como cria um novo incentivo a que prestadores e cidadãos se envolvam em novas escolhas e parcerias.

O desafio é por isso o de combinar a importância de obter os melhores resultados clínicos com a necessidade de satisfazer as expectativas específicas de cada indivíduo, garantindo de forma simultânea que se organizam e utilizam os recursos necessários e se gerem os custos envolvidos, na medida do que seja estritamente necessário.

O conceito de valor em cuidados de saúde permite obter um maior envolvimento e responsabilização de todos os intervenientes, dos sistemas e organizações de saúde aos profissionais e aos próprios cidadãos, que assim contribuem, em sinergia e ativamente, para melhorar a saúde de cada pessoa e otimizar o funcionamento dos sistemas de saúde.