Esta semana termina o Exercício ARTEX24 que decorreu ao longo de 3 semanas no Campo Militar de Santa Margarida. Um evento significativo que combinou a capacidade de desenvolvimento tecnológico das empresas e universidades portuguesas, algumas com parcerias com o Exército, e a necessidade de uma verdadeira revolução tecnológica da Defesa portuguesa. Indubitavelmente, o ARTEX24 veio salientar a importância de uma maior integração entre o setor militar e civil.

O Exército Português, através deste exercício, permite às diferentes entidades um contacto direto com a realidade militar, ambiente que é praticamente inacessível em condições normais. Esta experiência prática permite que civis tenham interação com os militares e seus equipamentos, uma familiarização com as condições adversas do terreno de combate, a vivência e adaptação a temperaturas extremas, operações em ciclos diurnos e noturnos, entre tantas outras experiências únicas. Tais experiências são cruciais para o desenvolvimento de tecnologias robustas e adaptáveis. O desenvolvimento tecnológico em campo militar apresenta desafios que, uma vez superados, permitem aplicações significativas no âmbito civil, pois o teste de equipamentos em condições hostis permite identificar e resolver problemas que podem não ser evidentes em ambientes de teste controlados, tal como referido pela maioria dos participantes.

Para além do mais, a presença no campo militar permite um feedback imediato por parte dos militares que utilizam e testam estes equipamentos. Esta interação pode levar a inovações rápidas e práticas, tais como a optimização da colocação e movimentação das câmaras de drones, desafios de iluminação e voo, adaptação a variações térmicas, impressão 3D no campo de batalha, desenvolvimento de materiais mais resistentes e construções modulares, e até melhorias no embalamento e logística.

O ARTEX24 ofereceu oportunidades únicas para que as empresas e universidades participantes desenvolvessem sinergias. A integração de softwares, verificação de limitações analíticas, análise de riscos e ameaças, e a facilidade para o desenvolvimento de meios para tomada de decisão são áreas que beneficiam enormemente deste tipo de colaboração. A possibilidade de experimentar e adaptar tecnologias em tempo real é uma vantagem inestimável que este tipo de exercício proporciona.

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As empresas e universidades que colaboram com o Exército e participam em exercícios como o ARTEX24 têm a oportunidade de obter valiosas certificações como “Army Tested” e “Combat Proven”. Estas certificações são um atestado de qualidade e resistência que aumenta significativamente o valor de mercado dos seus produtos, abrindo portas para novos mercados e parcerias.

O ambiente de cooperação a que se assistiu entre civis e militares durante todo o exercício é simplesmente extraordinário. Em ambas as partes, a sede de conhecimento e a vontade de inovar são palpáveis, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de tecnologias avançadas. Este tipo de convivência e colaboração seria difícil de alcançar sem a integração proporcionada por exercícios militares conjuntos.

Um Mega Projeto de Desenvolvimento Tecnológico Militar

Dado o sucesso e os benefícios demonstrados pelo ARTEX24, é pertinente questionar se Portugal não deveria apostar num megaprojeto de desenvolvimento tecnológico militar. Aproveitar as zonas reservadas militares para compromissos tecnológicos contínuos pode posicionar Portugal na vanguarda da inovação militar e civil. Esta aposta não só reforçaria a segurança nacional, como também promoveria o desenvolvimento económico e tecnológico, criando empregos altamente qualificados e estimulando o crescimento dos setores tecnológicos.

O Exército tem já o CEMTEX (Centro de Experimentação e Modernização Tecnológica do Exército), no entanto, as barreiras ao desenvolvimento são elevadas, começando pela lei de financiamento, a (in)capacidade de recrutamento, passando por toda a burocracia a que o Estado nos subjuga, e terminando no próprio código de contratação pública. Hoje, numa sociedade de respostas tão imediata, não é aceitável que uma candidatura a fundos para investigação possa demorar 3 anos para ser aceite e obter resposta. Um simples processo de compra pode demorar mais de 12 meses à luz da lei de contratação pública. Ou então, uma autorização para utilização de espaço aéreo pode demorar, no mínimo, 90 dias úteis.

Portugal tem as condições ideais para albergar o que poderia ser o maior centro tecnológico Europeu de indústria de Defesa. O seu posicionamento geográfico no canto da Europa e junto ao Atlântico, não só traz a vantagem de estar mais perto dos Estados Unidos, como o mais afastado da ameaça Russa. A vastidão do Atlântico, associado a um espaço aéreo livre, ou com menos tráfego que o resto dos países europeus, permite uma combinação de questões geográficas únicas para um centro logístico e de treino permanente para as forças da NATO.

Torna-se então crítico que os políticos portugueses, e obviamente o Governo, despertem para a realidade do mundo ocidental das próximas décadas. O desenvolvimento tecnológico militar está já em marcha. A corrida ao armamento e às novas tecnologias militares já começou. Serão investimentos na ordem das centenas de milhares de milhões de euros nas próximas décadas. Portugal terá rapidamente de escolher se quer estar do lado dos que vendem ou dos que compram.

Decisões para um futuro próximo passam por verdadeiras reformas na lei de contratação pública, na revisão da Lei de Programação Militar, nas linhas de financiamento para investigação e, claro, na criação de zonas livres tecnológicas, onde militares e civis tenham liberdade de evolução e experimentação. Do lado do Exército, tudo se apresenta com uma abertura total para uma organização estratégica e operacional. E do lado político, qual será o próximo passo para permitir que o futuro do Exército seja um mundo de oportunidades para a sociedade civil?

Assim, podemos concluir que investir na indústria de defesa é crucial. O Exercício ARTEX24 demonstrou claramente como a colaboração entre o Exército, empresas tecnológicas e universidades pode impulsionar o desenvolvimento e a inovação tecnológica, destacando ainda a importância de uma maior integração entre o setor militar e civil.

Dado o sucesso e os benefícios do ARTEX24, é pertinente considerar a criação de um megaprojeto de desenvolvimento tecnológico militar em Portugal. Aproveitar as zonas reservadas militares para compromissos tecnológicos contínuos poderia posicionar o país na vanguarda da inovação. Este projeto também promoveria o desenvolvimento económico e tecnológico, criando empregos altamente qualificados e estimulando o crescimento dos setores tecnológicos. Entretanto, para que isso seja possível, é necessário superar várias barreiras burocráticas e financeiras.

Portugal possui condições ideais para se tornar um centro tecnológico europeu de indústria de defesa. Portanto, é imperativo que o governo português considere seriamente estas reformas e investimentos. O desenvolvimento tecnológico militar está em marcha globalmente, e Portugal deve decidir se quer estar entre os líderes que vendem tecnologia ou entre os compradores que dependem de outros. Com a visão e os investimentos certos, o futuro do Exército pode-se transformar num mundo de oportunidades não apenas para a Defesa, mas para toda a sociedade civil, colocando Portugal na vanguarda da inovação e da cooperação internacional.