Assinala-se nesta quinta-feira o Dia Mundial da Diabetes, uma doença metabólica crónica, muito frequente na população e que pode atingir vários órgãos, levando a uma diminuição da qualidade de vida dos doentes. A diabetes pode afetar pessoas de todas as idades, género e localizações geográficas – e, comprovadamente, diminui a esperança de vida.
Estima-se que 537 milhões de pessoas vivam com diabetes, o que representa 10,5% da população mundial. Os dados são da Federação Internacional da Diabetes (IFD) e reportam-se a 2021. A mesma instituição prevê que este número possa ascender a 643 milhões em 2030 e a 783 milhões de pessoas em 2045, se não forem tomadas medidas preventivas e sem uma aposta efetiva no diagnóstico precoce. Só assim, será possível prevenir o aparecimento de novos casos e/ou iniciar o tratamento logo que exista um diagnóstico, evitando assim, uma evolução mais desfavorável da doença, como insuficiência renal, enfartes do miocárdio, cegueira, acidentes vasculares cerebrais e mesmo amputações dos membros inferiores.
Em Portugal, tal como no resto do mundo, a diabetes representa um flagelo de saúde pública. Segundo o relatório anual do Observatório da Diabetes 2023, mais de um milhão de portugueses vive com a doença, que resulta sobretudo de erros alimentares, falta de atividade física, e também de fatores hereditários. A diabetes é responsável por 2,8% das mortes em Portugal e, ainda mais preocupante, cerca de 40% dos portugueses não sabem que a têm.
A diabetes tipo 1 e tipo 2 são as formas mais comuns da doença, sendo o tipo 2 muito mais frequente, estando associado a fatores ambientais, hereditários e a obesidade. A prevalência da diabetes nas pessoas obesas é cerca de quatro vezes maior do que nas pessoas com índice de massa corporal normal
No que diz respeito ao tratamento da diabetes tipo 2, é importante realçar o papel da cirurgia bariátrica/metabólica. Em 1992, Pories publicou o seu trabalho pioneiro, que levantou a hipótese de que a cirurgia de obesidade podia tratar a diabetes tipo 2. De facto, desde esta publicação, nas últimas duas décadas, vários trabalhos demonstraram a eficácia da cirurgia bariátrica na melhoria do metabolismo da glicose, na diminuição da necessidade de antidiabéticos orais e na redução das complicações micro e macrovasculares da diabetes tipo 2.
Um número significativo de doentes submetidos a cirurgia bariátrica/metabólica têm mesmo a remissão ou a cura da diabetes tipo 2, que é definido por um valor normal de HgbA1C, na ausência de medicamentos antidiabéticos, por um período mínimo de três meses. Além disso, os doentes têm menos probabilidade de serem diagnosticados com diabetes tipo 2 nos 15 anos seguintes, em comparação com aqueles que não foram operados.
Além da sua eficácia no tratamento da obesidade e suas comorbilidades, a cirurgia está incorporada nos próprios algoritmos de tratamento da diabetes, uma vez que todas as técnicas cirúrgicas certificadas para o tratamento da obesidade podem ter um impacto positivo na diabetes tipo 2, que é variável consoante cada técnica. No âmbito da avaliação multidisciplinar dos doentes, é determinada a técnica cirúrgica individualizada em função do perfil clínico do doente.
Assim, a cirurgia bariátrica é considerada uma abordagem eficaz para a diabetes tipo 2 em pessoas com obesidade, não apenas pela perda de peso, mas pelos benefícios metabólicos e hormonais que melhoram significativamente a saúde e o controlo da doença.