Nunca tivemos uma geração tão qualificada e com tantas opções de futuro. Hoje os nossos filhos podem escolher onde vão estudar, trabalhar, viver. A globalização e a transformação digital criaram um admirável mundo novo de oportunidades para os mais novos, um mundo que não julgávamos ser possível quando tínhamos a idade deles.

Com tantas possibilidades, seria então de esperar que as gerações mais novas fossem otimistas em relação ao seu futuro. No entanto, não é necessariamente assim. Os mais novos são hoje mais pessimistas do que eram há poucos anos.

Segundo o estudo Ambientes de Aprendizagem e Trabalho Saudáveis, metade dos jovens entre os 18 e os 25 anos não tem uma visão assim tão cor-de-rosa do futuro. E porquê? Por causa das expectativas negativas que criaram relativamente à sua capacidade de se autonomizarem e de serem independentes. E, como todos sabemos, expectativas negativas impactam direta e negativamente na saúde mental, comprometendo a capacidade de estabelecer relações interpessoais empáticas, de fazer escolhas saudáveis, de lidar com o stress, de tomar decisões complexas, de gerir as emoções e até de definir um propósito ou um sentido na vida, individual ou coletivo.

É urgente inverter esta tendência para o pessimismo entre os jovens e apostar mais na promoção da sua saúde mental. Tal só é possível se formos capazes de preparar esta geração para a incerteza que caracteriza a educação e o mercado de trabalho.

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No que toca à saúde mental dos mais novos o grande desafio passará pelo desenvolvimento de competências cognitivas de literacia numérica e digital, de resolução de problemas, comunicação, análise de informação, empreendedorismo, mas não só. Também de competências socio-emocionais relacionadas com a gestão de relações interpessoais, emoções e atitudes — como a liderança, o trabalho em equipa, a autorregulação e a iniciativa.

Num mundo que muda a uma velocidade vertiginosa, a incerteza é o que temos de mais certo. O princípio deve ser dotar a nova geração de ferramentas que lhe permitam navegar na crista da onda, com a leveza do otimismo e o foco na saúde mental.

Tânia Gaspar é professora e diretora do Serviço de Psicologia Inovação e Conhecimento da Universidade Lusófona. É coordenadora nacional do Health Behaviour School aged Children, da Organização Mundial de Saúde e coordenadora do Laboratório Português de Ambientes de Aprendizagem e Trabalho Saudável.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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