Para alguns, o desporto mais caricato do mundo pode ser aquele onde 22 pessoas tentam ajudar uma bola a encontrar o caminho para a baliza do adversário, também conhecido como futebol. Para outros, podem ser carros barulhentos a dar voltas e mais voltas a uma pista ou, até o que inclui duas pessoas à luta. Eu penso de modo diferente.
Para mim, é indubitavelmente a Alimentação Competitiva, que consiste na atividade de comer o maior volume de comida, num tempo limitado. Imagino que estejam a pensar, “mas isso é um desporto?”. Surpreendentemente, sim. Existem, inclusive, múltiplos eventos, sobretudo nos Estados Unidos e Japão, alguns dos quais com exibição televisiva em canais de desporto, vistos em direto por milhões de pessoas.
E se eu vos disser que podemos aprender uma lição valiosa com a história de um atleta deste desporto? Apresento-vos Takeru Kobayashi. Em 2001, tinha 23 anos e vivia no Japão com rendas em atraso e a eletricidade cortada. Certo dia, sem nenhuma razão aparente, a sua parceira decidiu inscrevê-lo num evento local de alimentação competitiva e, contrariamente ao que se esperava, dado o seu físico magro e baixo, Kobayashi ganhou.
Esta não seria uma história digna de contar, caso Kobayashi não tivesse tomado de imediato a decisão de competir no evento mais famoso, a nível mundial, desta modalidade, o Nathan’s Hot Dog Eating Contest, um concurso que consiste em comer o número máximo de cachorros-quentes num período de 12 minutos. O evento realiza-se todos os anos, desde 1972, em Coney Island, Nova Iorque, e é transmitido em direto pela ESPN, sendo visto por milhões de espetadores.
Com um peso de 58 kg, Kobayashi sabia que teria de pensar de modo diferente se queria ter uma possibilidade de ganhar. Depois de analisar a forma como os concorrentes comiam os cachorros, Kobayashi decompôs o processo, experimentou e cronometrou diferentes formas, até que chegou a um método diferente que foi treinando e aperfeiçoando.
Chegado o dia do evento, diante de uma multidão entusiástica, estava um palco e uma mesa repleta de cachorros-quentes. Atrás da mesa, as estrelas do espetáculo: um conjunto de enormes atletas e, entre eles, o pequeno Kobayashi, que, definitivamente, não era um dos favoritos.
Logo que a competição começou, todos os olhares se voltaram para o peculiar modo de Kobayashi atacar a comida. Pouco tempo depois, continuavam a olhar, mas a razão era outra: a superioridade de cachorros comidos pelo pequeno atleta, em relação aos demais. Ao longo dos 30 anos de história desta competição, os vencedores tinham sido capazes de comer entre 20 a 25 cachorros nos 12 minutos estabelecidos. Naquele ano, quando a campainha tocou, ninguém conseguia acreditar no que Kobayashi havia conseguido: tinha conseguido comer o dobro do recorde anterior, fixando-o em 50 cachorros-quentes. Transpondo esta vitória para outros desportos, seria o mesmo que alguém correr os 100 metros em 5 segundos ou a maratona numa hora. Inacreditável.
Kobayashi dominou esta modalidade durante seis anos e ainda hoje é a sua estrela mais famosa, equivalente a um Michael Jordan no basquetebol ou a um Tiger Woods no golfe. Atualmente, vive de publicidade e de presenças em eventos. Entretanto, os seus métodos foram utilizados por outros concorrentes, sendo o recorde atual de 75 cachorros-quentes.
Embora não recomende a ninguém a prática deste desporto, acredito que esta história realça quatro importantes lições que podem ser transportas para o mundo dos negócios:
- Tudo é passível de melhoria, mesmo quando acreditamos que não é possível. Mais do que isso, sobretudo quando não acreditamos que pode ser melhorado. Antes de Kobayashi entrar em eventos de alimentação competitiva, todos consideravam que melhorar o recorde de 25 era improvável. Mesmo que acontecesse, seria por um cachorro ou dois mais. Porque existia esta crença limitadora, o recorde manteve-se por muito tempo.
- Métodos diferentes têm resultados diferentes. Se tivesse optado pela forma tradicional de competir, Kobayashi não teria ultrapassado significativamente o recorde. Ele desenvolveu a sua própria técnica, trabalhando nela arduamente. Na maior parte das áreas de negócio, trabalhar a solo não é viável e especializar-se pode levar anos, pelo que se não for perito numa determinada área, não hesite em pedir a ajuda de alguém que o seja. A vontade de experimentar coisas novas, acompanhada por um conhecimento profundo em determinado tópico, pode conduzir a resultados extraordinários.
- Decompor a tarefa completa em pequenos passos e questionar cada um desses passos foi uma das chaves para Kobayashi desenvolver o seu método. Também as empresas, para conseguirem que os seus produtos cheguem aos clientes em perfeitas condições podem optar por múltiplas combinações de embalagem e logística, separando, segmentando ou combinando vários materiais ou rotas para conseguirem um resultado ótimo.
- A prática deliberada conduz a resultados notáveis. No caso de Kobayashi, não foi suficiente desenvolver um novo método, teve de o treinar repetidamente, aperfeiçoando-o. Assim é, também, com as práticas de redução de custos: quanto mais se pratica e se absorve o processo, melhores nos tornamos. Quanto mais uma organização pratica a otimização de custos com uma mente aberta, acolhendo contribuições interna e externas, mais impregnada a cultura de contenção se torna.
Como é evidente pelos pontos acima, acreditar na melhoria contínua, dominar o know-how correto, estar disposto a tentar formas radicalmente diferentes de trabalhar, questionar continuamente os processos e incorporar uma cultura partilhada de redução de custos, é importantíssimo. Ainda que continue a achar que a Alimentação Competitiva é o desporto mais caricato do mundo, aprendamos estas lições que ela nos traz.