Todos nós, em alguma situação da nossa vida, já respondemos à questão “O que queres ser quando fores grande?”. Mas será que esta é a pergunta mais adequada para se fazer atualmente?
A transição da juventude para a vida adulta é um momento capital no percurso de qualquer pessoa, e apresenta um conjunto de desafios e ajustes que podem exercer um impacto significativo nas suas carreiras profissionais, muitas vezes subestimado.
É verdade que os jovens de hoje são a geração mais qualificada de sempre, mas também não é menos verdade que a sociedade e o mercado de trabalho têm mostrado dificuldades em adaptar-se plenamente a esta realidade, registando-se consistentemente valores de desemprego jovem elevados, assim como números alarmantes sobre os vínculos contratuais precários existentes, os baixos salários que se praticam, a dificuldade de acesso universal à habitação, e até mesmo o estado da sua saúde mental.
Em Portugal, mesmo passada a “fronteira da idade da juventude”, seja ela qual for, os nossos jovens adultos parecem continuar a enfrentar uma enorme dificuldade em se autonomizar e, por consequência, atrasam os seus ciclos de vida, o que pode gerar, no presente e no futuro, ainda mais desequilíbrios na sociedade.
Mas que impacto tem este contexto nas suas carreiras profissionais?
A verdade é que grande parte dos jovens, em Portugal, vive hoje uma espécie de falsa autonomia e liberdade de escolha, onde todas as suas decisões pessoais e profissionais são, cada vez mais, altamente pressionadas pela dificuldade de emancipação dos mesmos.
Todos sabemos que, desde sempre, o contexto socioeconómico moldou de maneira profunda o curso da vida de uma pessoa, influenciando as suas oportunidades, experiências e perspetivas, ao longo do tempo, mas o país tem assistido a um crescimento da sua desigualdade social que é verdadeiramente preocupante, e que amplifica este fenómeno.
No que ao mercado de trabalho diz respeito, assim como às suas carreiras profissionais, e perante este contexto, os jovens podem sentir-se perdidos ao terem de enfrentar decisões primordiais, como escolher um curso, procurar emprego, gerir finanças e prosseguir uma carreira. Principalmente, quando temos professores universitários a queixarem-se da interferência excessiva dos pais nos percursos dos jovens e da progressiva diminuição da autonomia dos mesmos.
Todos sabemos que a emancipação é um fenómeno multidisciplinar que fomenta pressão para o alcance da estabilidade financeira, mudanças nas relações familiares e sociais, e um enorme processo de autoaceitação e construção de identidade. Perante estes desafios, os jovens podem sentir-se pressionados e ansiosos na prossecução de uma carreira sólida que lhes permita alcançar a autonomia desejada, mas que irá correspondentemente aumentar o seu nível de ansiedade e stress associado ao processo árduo de emancipação, assim como, exigir outro tipo de requisitos ao tecido empresarial, que também enfrenta os seus próprios desafios.
A pressão para tomar decisões rápidas sobre as suas carreiras pode levar os jovens a fazerem escolhas impulsivas ou seguirem caminhos que não estão alinhados com seus verdadeiros interesses, valências e paixões, sobrepondo-se a busca desenfreada pela emancipação ao desejo legítimo de perseguir uma carreira que traga satisfação pessoal. Steve Jobs dizia que “para se ter sucesso, é necessário amar-se de verdade o que se faz. Caso contrário, levando em conta apenas o lado racional, as pessoas acabarão por desistir”, reforçando, que esse desalinhamento entre as expectativas sociais e as aspirações pessoais pode resultar em insatisfação profissional e desmotivação a longo prazo.
Eu não sei se Steve Jobs está correto ou equivocado, até porque eu sou parte desta classe, que está à procura de encontrar o balanço perfeito entre fazer o que gosta e alcançar a emancipação. Mas de uma coisa eu tenho a certeza, eu não quero que Portugal esteja repleto de jovens e adultos que foram ou são o que o contexto os permitiu ser, mas sim o que eles querem ser, sempre suportados pelo contexto.
O Observador associa-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.