Como todos sabemos Portugal padece de um bipartidarismo desde praticamente o início da sua democracia. PS e PSD vão alternando as cadeiras governativas e, mesmo com algumas coligações ou acordos, são sempre estes dois partidos as figuras principais. Até na atualidade, quando um terceiro foco cresce, mas sem se consolidar, as lógicas binárias entre o centro-esquerda e o centro-direita se mantêm na sua apresentação e na sua dinâmica. Como tantos outros cenários políticos dentro e fora da Europa, duas grandes forças permanecem as mais votadas e com contacto mais direto com o poder.

Ora, estes partidos são autênticas máquinas de produção de candidatos para as várias eleições e cargos associados. Os milhares de militantes que neles estão inscritos contribuem, pontual ou diariamente, para que estas organizações não se desmoronem, procurando estratégias de revitalização. E mesmo os partidos que, não sendo poder, já se encontram com representação parlamentar, se têm transformado em espécies de fábricas onde o contacto com as suas direções e órgãos mais elevados é inferior. Assim como num curso de Faculdade, em que quantos mais estudantes existirem mais os docentes se esquecem de quem eles são e se revelam impessoais, em partidos com dimensões amplamente crescentes os militantes de base vão sendo esquecidos e o trato torna-se mais frio.

Deste modo, é nas pequenas forças partidárias, aquelas que ainda não tiveram a hipótese de se manifestar na casa da democracia, que encontramos o maior dinamismo e a maior aproximação entre filiados e os altos quadros no interior destes partidos. Sem especificar muito a vida ativa e o bom senso que vários destes grupos têm revelado – como o R.I.R. e o Volt, por exemplo – o que pretendo questionar é até que ponto se respeita o que têm a dizer estas organizações partidárias e se valoriza a diversidade e a pluralidade de ideias democráticas. Estes partidos quase não surgem em tempos de antena e momentos de debate, sendo, comummente, reservado um mero espaço pela RTP de discussão entre todos eles. O que demonstra, claro, que o próprio “quarto poder”, ou seja, o poder mediático, contribui para este fosso eleitoral e representativo. Não existe, sequer, uma abordagem dos chamados “grandes” sobre estes “pequenos”, como se estivéssemos a falar de futebol e existissem duas ligas, com a 1.ª e a 2.ª divisões. Acontece que todos os partidos se candidatam nas mesmas eleições e merecem o apreço dos seus colegas e do povo português que lhes é devido.

Ter menos tempo para expor as suas visões também conduz a que as vozes destes partidos políticos não sejam muito permeáveis ao erro e à sua correção. Como possuem pouquíssimas oportunidades para invocar as suas propostas, basta um pequeno deslize para serem inferiorizados e ridicularizados, não se permitindo, na prática, que exista uma justificação e uma reparação de maneira eficaz. E como não voltam a surgir em mais debates com visibilidade estas forças ficam condenadas ao (in)sucesso de uma única ocasião, não se revelando esta postura como justa e séria.

Por tudo isto apraz-me dizer que são estes apelidados de pequenos partidos quem mais contém empenho e diligência na sua forma de atuação, transformando-se, assim, vitais para o vigor da política portuguesa e para a intervenção social e cidadã necessária. Como se diz na gíria popular, têm de fazer pela sua vida, o que implica ouvir muito mais os militantes e simpatizantes e ser bem mais dialogantes e promotores das sínteses de ideias e dos consensos. E demonstram, com o seu caráter genericamente humilde e igualitário, como deveriam comportar-se os grandes, que, cada um com a sua história, se foram esquecendo de quem foram um dia e de que é graças ao povo que todos os dias continuam a ter a pujança que manifestam.

Ouçamos mais o que os novos e ainda menos sufragados partidos defendem antes de os subjugarmos e afirmamos instantaneamente que nunca os selecionaremos. Poderão emergir muitas surpresas positivas e muitas parcerias com lógica e fundamento para um futuro benévolo e mais inclusivo das pessoas e suas perspetivas.

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