O debate sobre o Orçamento de Estado (OE) deste ano tem sido dominado por questões como o IRS Jovem e o IRC, temas que, embora importantes, têm ofuscado uma discussão essencial para o futuro do país: o financiamento do ensino superior. É lamentável que o foco político esteja tão centrado em “jogos de palavras” e nas dinâmicas parlamentares, em vez de abordar com seriedade as reais dificuldades enfrentadas pelos jovens.

A realidade que se vive nos corredores das universidades, e que raramente chega aos holofotes mediáticos, é a de um sistema de ensino superior que há muito tempo opera com um financiamento aquém do necessário. Os estudantes, especialmente os deslocados, sofrem diariamente com as dificuldades associadas aos custos de habitação, alimentação e transporte, que têm tornado cada vez mais difícil o acesso e a permanência no ensino superior. Estas são questões fundamentais que mereciam estar no centro do debate do OE.

Um dos pontos críticos levantados pelos estudantes é o problema do subfinanciamento crónico das instituições de ensino superior. Esta dependência de propinas, taxas e emolumentos para financiar as universidades não só é insustentável, como questionável em termos de justiça social. A educação superior deveria ser um direito acessível a todos, independentemente da sua condição económica, e não uma despesa adicional que sobrecarrega ainda mais os orçamentos familiares já fragilizados pela inflação e pelo aumento do custo de vida.

É também inquietante que, ao invés de aumentar o financiamento, o governo tenha dado sinais de descongelar as propinas, uma medida que, na prática, pode levar ao aumento destas, agravando ainda mais a situação financeira dos estudantes e das suas famílias. Este tipo de decisões cria um ambiente de insegurança e ansiedade, especialmente entre os jovens que já enfrentam enormes desafios para frequentar a universidade.

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Além disso, a falta de investimento na habitação estudantil agrava ainda mais o problema. Em Coimbra, uma cidade universitária histórica, muitos estudantes são obrigados a procurar alojamento privado, onde os preços têm disparado, empurrando muitos para situações de precariedade. Sem uma resposta adequada por parte do governo, estas dificuldades podem afastar ainda mais os jovens das universidades, privando o país de um capital humano fundamental para o seu desenvolvimento.

Apesar destas falhas, houve um avanço no reconhecimento de problemas importantes, como a saúde mental e o bem-estar dos estudantes. A inclusão de nutricionistas e psicólogos nas instituições de ensino superior é um passo na direção certa, especialmente num momento em que a obesidade e as doenças mentais estão a tornar-se verdadeiras epidemias. No entanto, este avanço não pode servir de desculpa para a falta de ação noutras áreas igualmente importantes.

Em suma, o OE poderia ter sido uma oportunidade para enfrentar de forma corajosa e séria os problemas estruturais do ensino superior em Portugal. No entanto, a sua discussão foi capturada pelos interesses políticos imediatos, deixando de lado as questões fundamentais para os jovens e para o futuro do país. O financiamento do ensino superior não pode continuar a ser uma questão adiada, e os jovens não podem ser deixados para segundo plano numa sociedade que deveria, acima de tudo, investir na sua educação e no seu futuro.