Nestes últimos dias, o Reino Unido tem vivido dias desafiantes. Os hooligans, enjaulados no pub há quarenta anos por Thatcher, aproveitaram a onda nacionalista para mostrar que ainda têm músculo para segurar em pedras, e boca para balbuciar, confirmando a sua origem neandertal.
Do outro lado, os filhos do pós-modernismo aproveitaram a onda do progresso. Sempre zangados e com a testa franzida, predispõem uma leve, e repito, leve, tendência para o diálogo. Com os seus cabelos verdes, lá provaram que o dedo do meio tem utilidade, e que, afinal, não são só as crianças de cinco anos que deitam a língua de fora quando são contrariadas.
Ora, o verde Éden deu lugar a um autêntico circo. Com performances de palhaços e palhaçadas como há muito não se via. E, como qualquer circo de prestígio, neste também não podiam faltar os animais. E o artista britânico, Banksy, como um verdadeiro domador, deu-nos essa alegria.
Os que ainda estão a debater os abstracionistas não puderam juntar-se ao grande grupo de internautas que debatem apaixonadamente o significado destas obras (onde me incluo). Pura especulação. Ainda assim, pareceu-me interessante atentar num paralelismo, que alguns considerarão perfeitamente absurdo (e estão no seu direito!), entre os animais e os protagonistas do espetáculo que dura há vários dias no UK.
A cabra. Escape goat? O autor do crime cometido em Southport ou Tommy Robinson. Por razões diferentes, são os dois abomináveis. Quem culpar pelo fogo que deflagrou nos últimos dias. Como bem manda a bipolarização do mundo em que vivemos, basta escolher um lado, e, independentemente de qual, a lista de candidatos é interminável.
Os dois elefantes. Estarão na sala? E qual deles o maior? Uma parte sente que o multiculturalismo falhou e que a classe política os traiu. E outros, que apreciam o esforço inclusivo, sentem-se inseguros e, por isso, também eles traídos pela classe política. Ninguém está contente, mas alguém terá de ter a coragem de olhar o colossal elefante nos olhos antes que ele derrube a parede.
Os três macacos. Segundo aquilo que li, terá origem num provérbio japonês: See no evil, hear no evil, speak no evil. Infelizmente, a comunicação social é maçadora e, muitas vezes, não consegue ser isenta. Por isso, muitos procuram consolo nas incendiárias redes sociais onde vemos, ouvimos e comentamos. É um espaço perfeito para lidar com as frustrações do dia a dia e deixar perpetuar a vulnerabilidade. A rapidez com que se propaga conteúdo inflamável é perfeita para alhear os desiludidos. Dêem-lhes conteúdo e menos capacidade crítica terão. Cobram a pequenez da insensatez e a maldade prevalecerá.
O lobo ao luar. Lonely wolf? Lobos solitários é uma expressão a que nos fomos habituando. Ainda esta semana descobrimos mais um a caminho de um concerto. Mais não queria do que saciar a sua fome num banho de sangue swiftie.
Independentemente do bode expiatório, o elefante na sala por lá vai continuar e, quanto mais formos alimentados por macaquinhos malignos, mais divisão se criará e, com ela, maior a probabilidade de aparecerem lobos esfomeados.
Espero que o rastilho que alimentou este circo medieval seja à prova de água e que não pense, sequer, em atravessar o canal da mancha sob pena de repetir-se, numa espécie de tournée, por essa Europa fora.