Para começar, se não assistiram ao GP dos Países Baixos, deixem-me dizer desde já que perderam uma das corridas mais entusiasmantes desta temporada. Imaginem lá que quando se pensava que seria a Ferrari a dar problemas à Red Bull, acabou mesmo por ser a Mercedes o verdadeiro pesadelo. Agora sentem-se, relaxem e fiquem com os melhores e piores que passaram por Zandvoort.

Max Verstappen (+). Spa quase cheirava a casa, mas nada como um verdadeiro mar de laranja para se perceber onde estávamos e ao que vínhamos. É que cada vez mais parece que Zandvoord é o forte e fortaleza de Verstappen e mesmo quando parecia que as coisas podiam vir a correr menos bem, o holandês arregaçou as mangas e siga para bingo! Começou logo com problemas na primeira sessão de treinos e na segunda pouco melhorou. Só mesmo na terceira sessão é que vimos que Verstappen poderia mesmo entrar na luta pela vitória, mas acredito que ninguém apostava dinheiro nisso. Já na qualificação vimos um monstro completamente diferente, especialmente na Q3, onde o atual campeão do mundo levou as bancadas ao céu com uma volta impressionante que lhe valeu a pole, mas os pontos arrecadam-se no domingo e foi aí que as coisas se podiam ter complicado. Facto é que nem Max, nem a Red Bull cometeram qualquer erro e isso é meio caminho andado para não perder, tanto que foram os erros dos outros que obliteraram qualquer dúvida sobre quem iria para casa com a vitória. E assim tem sido, Verstappen faz tudo para ganhar, tem tudo para ganhar e os outros ajudam a que ganhe, mas antes de dizermos que “assim é fácil”, pensemos que para ganhar é preciso lá estar, e Verstappen está. Sempre. Agora despachem-se a escrever o nome do homem na taça e entreguem já isto. Mandem o Verstappen para casa e criem uma F1,5 a ver se isto ganha algum entusiasmo. Ou então deixem o rapaz até ao fim a ver se o recorde de vitórias numa temporada é batido. Já não falta tudo.

Carlos Sainz (-). Que dia mais deprimente para se ter e que coisa absolutamente triste de se ver, mas, acima de tudo, que grande porcaria conseguiram armar. Sendo muito honesto, não me lembro de ver algum piloto a ter um dia tão desastroso como Sainz e pouco disso foi culpa própria, mas também não pensemos que o espanhol sai de Zandvoort isento de culpas. Vamos por partes e comecemos pelo princípio. Mal se haviam apagado as luzes para a partida e já se percebia que Sainz não andava com a mesma passada que os dois da frente, tanto que começou a servir de tampão entre os líderes e os Mercedes que lhe vinham já a respirar bem na nuca. Depois, quando Hamilton já tinha a mira bem apontada e a ultrapassagem preparada, Sainz parou para pneus médios e imagine-se que a garagem da Ferrari pensou que três pneus seriam suficientes. Ora, não são e mais de 12 segundos se perderam numa paragem que roçou o absurdo. Mas não se pense que a tristeza fica por aqui! É que aquando do problema mecânico de Bottas, Sainz acaba por ultrapassar Ocon quando a bandeira amarela já estava a ser acenada. Sorte dele foi isto ter sido ignorado, mas nada temam que ainda há mais, e mais uma vez nas boxes. Desta vez teve quatro pneus mas, num movimento perto do desesperado e atabalhoado, teve ordem de saída e acabou por tocar no monolugar de Fernando Alonso e desta vez, sem qualquer desculpa, foi penalizado com 5 segundos que fizeram que terminasse a corrida na oitava posição. Se isto não é o cúmulo do desastre, não sei o que possa ser. Mas que Sainz não se preocupe muito. Todos nós partilhamos a sua dor e aceitamos uma carta de despedimento caso esta esteja para chegar.

Mercedes (+/-). Foi provavelmente um dos melhores fins de semana que vimos da Mercedes nos últimos tempos, mas não houve bela sem senão. Primeiro, conseguiram aproveitar tudo aquilo que a Ferrari fez de errado e depois, com uma estratégia alternativa, conseguiram fazer a pitwall da Red Bull trocar as fraldas numa ou outra ocasião. Quase parecia que a Mercedes que bem conhecemos estava de volta, mas um momento acabou por estragar a pintura e Lewis Hamilton teve certamente um ou outro flashback de Abu Dhabi 2021. Mas vamos por partes e comecemos pela grelha, onde ambos os pilotos alinharam com pneus médios, ao contrário dos restantes pilotos da frente do pelotão, que arrancavam em macios. Isto deu uma vantagem à Mercedes que, viu a Ferrari sofrer de alta degradação dos pneus e Max Verstappen a parar mais cedo, o que acabou por lhes dar posição na pista até pararem para pneus novos. Daqui, conseguiram um bom ritmo de corrida e colocaram-se em terceiro e quarto até ao momento em que Tsunoda causou um período de VSC, onde acabaram por ganhar um lugar cada, depois de Leclerc parar. Até aqui, tudo bem, não fosse mais um Safety Car, depois da avaria de Valtteri Bottas, ter forçado a Mercedes a manter Hamilton e Russell em pista enquanto que Max Verstappen parava para pneus macios, quase como um “remember Abu Dhabi”. Para piorar, desistiram de manter a posição em pista com Russell, deixando Hamilton completamente exposto aos ataques de todos aqueles que vinham atrás com pneus frescos. O resultado para Hamilton foi um aceitável quarto lugar, quando podia perfeitamente terminar na segunda posição, que acabou por pertencer a Russell. Resumindo, não foi mau, mas podia ter sido melhor e Hamilton sabe disso, a Mercedes sabe disso e, no final, Russell aproveitou-se disso. Imagino que o debrief tenha sido interessante.

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Ferrari (-). Amadores. É a palavra que me vem à cabeça. Que cambada de perfeitos amadores que por ali anda. Tenho mais palavras que acabaram por me passar no pensamento, mas esta não é a plataforma para tal abuso. Tenho de admitir que estou farto de falar da Ferrari e ser quase sempre pelas piores razões. Então, até ao final da temporada, sempre que a Ferrari fizer asneira vou apenas utilizar um meme e começo já por hoje dado que já não há palavras para tamanha palermice. Senhores, um grupo de crianças da escola primária faria um melhor trabalho que vocês. Tenham noção!

Fernando Alonso (+). Se há equipa que anda a fazer valer todas as armas que tem é a Alpine e se há piloto dentro da equipa que anda a tirar coelhos da cartola quando o que tem são ratos num boné, é Fernando Alonso. São já 10 corridas consecutivas a pontuar e só Verstappen consegue fazer melhor e começa a ser cada vez mais óbvio que a idade e experiência não são apenas um posto. São parte do material do qual lendas são feitas e Alonso tem aproveitado todo o milímetro que lhe dão. Depois de um início de temporada atribulado, o espanhol tem-nos mostrado o porquê de ainda pertencer de pedra e cal ao circulo fechado da F1 e apenas 21 pontos o separam da posição do “melhor dos restantes”. Em Zandvoort vimos um Alonso consistente, ponderado, relaxado e focado, e isso valeu-lhe a sexta posição (o seu segundo melhor resultado da temporada). Sendo honesto, adoro isto. Adoro o novo Alonso. Adoro a sua nova personalidade e, acima de tudo, adoro a forma como corre e como se entrega ao desporto, agora numa posição bem diferente daquela a que nos habituamos. Agora, Alonso é uma espécie de Mr. Miyagi e a F1 precisa de mais gente assim. Mais experiência, mais estilo “old school” e mais sangue na guelra. Que nada mude com a mudança de equipa. Que nada mude em Alonso. Que nada mude e que isto ainda dure muitos anos. Estou e vou continuar a adorar. Espero que façam o mesmo.

Valtteri Bottas (-). Foi quase de bestial a besta no curto espaço de uns míseros meses e são já seis corridas sem qualquer ponto. Aquilo que estava para ser uma temporada perto do genial, tem passado a ser uma temporada insignificante, sem qualquer fascínio e sem qualquer interesse para os lados de Valtteri Bottas. Honestamente, duvido que a maior parte da culpa venha da sua parte, já que das últimas seis corridas apenas terminou duas sem que tenha cometido erros de maior. Ainda assim, se olharmos para o seu colega de equipa, percebemos que a forma da equipa não é, de todo, a melhor, neste momento e isso poderá ter um impacto significativo no final da temporada. Mas calma, que nem tudo está perdido e depois da tempestade todos sabemos o que vem. Resta-nos acreditar que as coisas vão melhorar e, acima de tudo, resta-nos esperar que Bottas não perca a vontade de nos dar mais brilharetes como aqueles aos quais já nos habituou.

Lando Norris (+). Obrigatoriamente, falando de Lando Norris, temos de olhar para esta temporada como uma vez sem exemplo. Temos de perceber que a McLaren não é, de forma alguma, a McLaren que conhecemos nos dois anos passados e este ano temos apenas que nos contentar com qualquer ponto positivo. Se fizermos isso, percebemos que Norris é o “best of the rest” e neste momento ocupa a sétima posição no campeonato, apenas atrás dos pilotos da Red Bull, Ferrari e Mercedes. Então, quase curiosamente, Norris terminou o GP dos Países Baixos na sétima posição e apenas podemos considerar isso um resultado positivo, já que, neste momento, o britânico deve estar a sofrer de uma tremenda lombalgia por passar a temporada a carregar a equipa (e até o seu colega) às costas. Isto apenas me faz perceber o quão bom Norris realmente é, já que dos 101 pontos conquistados pela McLaren, mais de 81% foram arrecadados por Norris e, que eu me lembre, nunca vi tremenda brecha entre pilotos. Ah, e já agora, não estamos a falar de qualquer colega de equipa. Estamos a falar de Ricciardo. Daniel Ricciardo. Sim, esse mesmo, que venceu já 8 GPs na sua carreira. Eventualmente, depois de tudo pesado, cai-nos a ficha e realmente percebemos uma coisa muito, muito importante. Norris é perto do genial. Agora alguém que lhe dê um carro a sério e o resto que se cuide.

Daniel Ricciardo (-). Ricciardo é para mim, neste momento, como um animal de estimação em fim de vida. Um grande companheiro, uma grande paixão e, às vezes, até um tremendo amor, mas sabemos que chegará o dia em que vamos ter de nos despedir. Eventualmente vamos ter de dizer adeus e a F1 vai perder o maior sorriso que por lá passou, mas terá de chegar a altura em que nos veremos forçados em acabar com o sofrimento, tanto dele como nosso. É que isto já não dá. Isto apenas me entristece e não quero que o fim da carreira de um dos pilotos que mais admirei termine desta forma. A verdade é que as más escolhas de carreira foram todas tomadas por Ricciardo, mas a qualidade de um piloto não pode, nem deve, ser medida pelas escolhas feitas sentado numa secretária rodeada de pessoas de fato à espera de muito dinheiro para encher os bolsos. Por agora, o destino de Ricciardo é incerto e quase se espera que tire um ano sabático, longe das pistas. Honestamente, acho que será pelo melhor já que algo não está mesmo a resultar e ninguém ganha com isso. Talvez precise de um carro melhor ou, pelo menos, mais adequado às suas qualidades. Ou então talvez precise de descansar e afastar-se por uns tempos. Ou então está mesmo na altura de pendurar as luvas. De qualquer das maneiras, estamos todos à espera do momento da despedida, mas custa. Custa imenso. Custa tanto que tentamos sempre adiar ao máximo esse fim, com a esperança de que tudo irá melhorar, mas quando o inevitável acontecer, que saia pela porta grande. Que saia pela maior porta que a F1 lhe possa oferecer. É sempre merecido.

Alpha Tauri (-). Quem os viu e quem os vê? De pensar que Pierre Gasly era presença constante na minha Fantasy no ano passado e este ano nem sequer por lá passou uma vez. De pensar que muitas vezes fui a jogo com Tsunoda e lucrei com isso e agora, nada. Nada de nada para além de erros atrás de erros, problemas atrás de problemas e exibições medíocres atrás de exibições deprimentes. Nada parece funcionar, nada parece querer resultar e até os próprios pilotos parecem desmotivados, sem vida e sem vontade de combater por algo melhor. Se calhar, estão já consternados com o facto de que esta época é para esquecer e que está na altura de colocar o foco na temporada que vem, mas ainda há muito para correr e a última oportunidade de salvar a temporada aproxima-se a passos bem largos. Pensem só que a Haas está, neste momento, na sétima posição com cinco pontos de vantagem sobre a Alpha Tauri e a Alfa Romeo segue em sexto, já a vinte e dois pontos de distância. Se isso não faz soar alarmes numa equipa que na época passada terminou na sexta posição, não sei o que pode fazer. Está na hora de acordar, rapazes!