Assim são os portugueses para o Estado. É 1h40 da manhã do dia 21 de Dezembro. O Alfa Pendular que deveria ter chegado ao Porto às 22h50 de ontem está parado em Alfarelos desde as 11 da noite, depois de ter saído de Lisboa com mais de uma hora de atraso. Há um quarto de hora informaram-nos que às 2h00 (só às 2h00) recuaremos até Pombal, onde farão transbordo para um autocarro.

O comboio tem um wi-fi que, como os passageiros habituais sabem, é meramente decorativo. A cobertura móvel vai e vem conforme o vento. 3G ou 4G fora dos grandes centros, mesmo nas vias principais de comunicação, são preocupações que a ANACOM não tem quando dá novas licenças, pois são mais importantes uns milhões em taxas do que um bom serviço aos portugueses. O bar não serve uma sopa, nem um iogurte, nem fruta, nem nada que se pareça com um alimento para um Europeu adulto. Uma adolescente ou um gordo americano têm mais sorte, não faltam batatas fritas nem bolos gordurosos de anteontem.

Dizem que não havia nada a fazer, que houve uma inundação na via, que ninguém no ministério do tipo que faria tremer as pernas aos Banqueiros Alemães é capaz de prever que essa espalhafatosa da Elsa faria transbordar as águas do Mondego. Que com a maior carga fiscal de sempre e tantas benesses (anunciadas…) para tudo e todos a CP não tem capacidade para respeitar não apenas os seus passageiros, mas também quem trabalha a bordo e as suas famílias, tratando-os pior que gado.

Há quem se resigne em ter um país assim. Aqui dentro já ouvi quem diga que não há nada a fazer. Eu acredito num país em que, prevendo problemas nas linhas, o operador dos caminhos de ferro ponha imediatamente ao dispor dos seus clientes alternativas razoáveis. Que nos tivesse deixado a todos em Pombal quando lá passámos e lá estivessem autocarros ou táxis para nos transportar. Um país em que a coesão territorial seja mais que mudar a sede da secretaria de Estado para a sala de estar do Sr. Secretário de Estado. Um país que antes de taxar alimentos se preocupe em exigir mais aos concessionários dos espaços públicos. Um país em que a educação e a saúde sejam um direito, mas em que dizer que a educação e a saúde são um direito não seja direito exclusivo dos que dos que de todos os direitos nos privam. Um país que nos trate como gente. Infelizmente, por muito que acredite nesse país, Portugal continua o mesmo pesadelo de sempre.

Feliz Natal!

P.S. Quando terminei passava das duas e dez e recuo, nem vê-lo. Às 3 da manhã chegámos a Pombal, mas os autocarros não. Um responsável da CP responde que não está previsto no regulamento que nos deem uma sopa ou uma cama para dormir. Que nos compreende, mas que fardado não pode dar a sua opinião (sei que não pode, mas não será essa mais uma das coisas que devia mudar?).  Às 4h10, em Coimbra, a Cruz Vermelha dá-nos uma água, um pacote de bolachas e o primeiro sorriso deste inferno. Alguém desabafa: “o que um gajo faz por um pacote de bolachas!”. Chego às Devesas às 5h47. Talvez para a próxima venha para o Porto de avião com escala em Nova Iorque. Sou capaz de chegar mais rápido!

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