A realidade das escolas tem sofrido grandes alterações, nos últimos anos, com a proliferação e uso das tecnologias. A nova realidade das salas de aula leva ao surgimento de novos ambientes e novas estratégias de aprendizagem.

Como professor da área de Informática, e sentindo necessidade de inovar, parti em busca de algo novo para motivar os meus alunos. Como professor, desde cedo percebi que a heterogeneidade na sala de aula é uma realidade de que não poderia fugir. Por outro lado, considero que alunos diferentes devem ser ensinados de maneiras diferentes. Para atingir o objetivo de motivar todos os alunos, especialmente os que estão em risco de abandono escolar, parti em busca de novas metodologias. A Robótica Educativa aliada ao Project Based Learning tem-se mostrado uma parceria de peso para concretização do meu objetivo. Afinal, a observação de robôs móveis, autónomos, no desempenho de uma atividade qualquer é sempre um motivo de grande interesse, em qualquer idade. Nos jovens, quando se pode aliar à observação o desenvolvimento dos próprios robôs, há uma motivação acrescida, pelo esforço realizado na criação de algo novo e com um comportamento autónomo.

A utilização da Robótica Educativa tem uma forte componente prática e experimental. Fomenta-se um ciclo de projeto – construção – teste curto, de modo a tornar viável uma experimentação fácil. Assim, cada aluno pode constatar diretamente a validade das ideias que produz e ganhar sensibilidade face às potencialidades dos robôs móveis, muito distantes da perspetiva antropomórfica que nos é comum, por natureza. Acredita-se que o seu uso tem impacto positivo nas aprendizagens dos alunos e que pode ser encarado como uma nova estratégia de aprendizagem.

Com base nestes pressupostos, desenhei o projeto de integração da robótica educativa no ensino: “O Robot Ajuda!”. Assenta na utilização de robôs, como auxiliar educativo, com o objetivo de aproveitar a curiosidade dos alunos para a descoberta e aprendizagem de conceitos básicos das áreas STEAM. Inclui a planificação e apresentação de atividades experimentais, por e para os alunos, estimulando e promovendo o interesse pelas STEAM e a autoaprendizagem.

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Apesar de ter iniciado a atividade no Ensino Secundário, na disciplina de Área de Projeto, percebi que facilmente poderia integrar os alunos mais novos e, especialmente, os alunos com dificuldades de aprendizagem e/ou em risco de abandono escolar.

O momento em que apareceram os Cursos Vocacionais de 3.º Ciclo foi a altura ideal para integrar no currículo as atividades de robótica e implementar o Project Based Learning de modo transversal. A expetativa era partir de um grupo de alunos com múltiplas retenções e desmotivados e utilizar uma metodologia ativa e que se esperava motivadora.

Uma das turmas em que foi implementada a metodologia era composta por 22 alunos (oito com quatro retenções, oito com três retenções e seis com duas retenções), e o projeto “De visita ao Museu? O Robot ajuda!” teve como objetivo a criação um robô guia de museu. Para o concretizar, os alunos, em grupo, tiveram que pesquisar a vida e a obra de seis artistas plásticos portugueses e recolher imagens de seis obras, escrever um texto sobre o local e a época onde viveram, a biografia dos artistas e um resumo da biografia numa língua estrangeira, reproduzir as obras dos artistas e construir o cenário, aprender a realizar todos os cálculos de que necessitam para que o robô cumpra todas a funções previstas, estudar o funcionamento dos sensores a utilizar no robô a construir e programar o protótipo do robô guia de museu. No fundo, trabalharam conteúdos de todas as disciplinas e aprenderam “sem a obrigação de aprender”.

Após quase um ano trabalho, o projeto foi concluído com êxito e a sua qualidade foi validada pela Menção Honrosa no prémio “Portugal, País de Excelência em Engenharia” (destinado a alunos do 3.º Ciclo do Ensino Básico).

Alunos com múltiplas retenções concorreram pari passu com excelentes alunos e atingiram tão bons, ou melhores, resultados. A utilização de uma metodologia diferente com alunos diferentes é uma mais-valia.

O impacto junto dos alunos foi muito grande. O aumento da autoestima e da motivação para aprendizagem refletiu-se alguns anos mais tarde. Dos 22 alunos que iniciaram, 17 concluíram o 3.º Ciclo. A maioria prosseguiu os estudos e 15 alunos concluíram o Ensino Secundário sem nenhuma retenção. No final do Ensino Secundário, 3 alunos prosseguiram estudos na Universidade e os restantes integraram o mercado de trabalho.

Ao fim de 15 anos de implementação do projeto, e já com uma disciplina de oferta de escola na área da Robótica, ainda há um caminho grande a percorrer e sempre na procura de metodologias inovadoras que motivem todos os alunos e que fomentem aprendizagens significativas. Sinto-me como Newton: “Para mim próprio, não fui mais do que um rapazinho brincando à beira-mar e divertindo-me de vez em quando ao encontrar um seixo mais liso ou uma concha mais bela do que outras, enquanto o grande oceano da verdade estendia diante de mim tudo o que estava por descobrir.” Continuarei a procurar o melhor processo de ensino/aprendizagem para os meus alunos.

Uma coisa é certa: os robôs entraram na sala de aula e trouxeram uma nova maneira de aprender!

Professor no AE de Portela e Moscavide, Microsoft Innovative Education Expert 2024, Finalista do Global Teacher Prize Portugal, Global Teacher Award 2023

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.