Aquele meu amigo, numa graça de ínvia solidariedade, reagia a um desabafo irritado que, horas antes, eu tinha deixado, nas redes sociais: “Vê lá se tens um bom álibi para a noite do desaparecimento da Maddie! E onde é que tu estavas quando o avião caiu em Camarate? Olha que ainda se lembram do teu nome!”.

Eu não estava na melhor das disposições, não sabendo exatamente o que iria aparecer, no dia seguinte, na notícia sobre a qual um jornalista me contactara, horas antes. Ri-me, mas sem vontade de rir.

Pela segunda vez, em escassos meses, o meu nome ia surgir em parangonas de imprensa, associado a supostas suspeitas — sublinho, supostas, porque ninguém me confirmou se existiam — por parte da nossa Justiça.

No primeiro dos casos, era uma requentada efabulação relativa à barragem Foz-Tua, ecoada por boateiros da calúnia, que fazem disso o seu “fond de commerce”, sem, no entanto, conseguirem alguma vez adiantar a menor prova de nada. Não obstante, televisões, jornais e redes sociais logo se encheram de referências à tal “intenção” da Justiça de me ouvir sobre o assunto.

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Como julgo que, lá na Justiça, sabem o meu endereço, fiquei a aguardar. Sentado. Até hoje. Continuo à espera da oportunidade de poder explicar, aliás com assumida vaidade, que, em grande parte graças à intervenção que protagonizei, como embaixador junto da Unesco, o contribuinte português pode ter sido poupado a pagar centenas de milhões (leram bem!) de euros de indemnização a várias empresas. Querem saber como? Chamem-me, que eu conto!

Agora, na insídia, o cenário mudou. Agora é o Brasil, a Odebrecht, o rescaldo do Lavajato, serão luvas pagas sabe-se lá como e a quem. Ficou-se a saber – pela imprensa, sempre pela imprensa – que a Justiça portuguesa enviou o meu nome, entre outros, para que a sua congénere brasileira inquirisse se figuro nos ficheiros da Odebrecht – curiosamente, uma empresa com a qual nunca tive o menor contacto, onde não conheço uma única pessoa. Nem uma! A Justiça portuguesa pediu isso quando? Em 2018. Estamos quase em 2021. Não houve resposta? Então a imprensa passa a ser testemunha da curiosidade insatisfeita dos nossos operadores de Justiça.

Nessa altura, o leitor, em especial o leitor de títulos, começa a matutar: “Este tipo aparece mencionado em dois casos! Não deve haver fumo sem fogo!” E, desta forma, sem que ninguém alguma vez me tenha acusado do que quer que fosse, sem que alguém me tenha sequer colocado a mínima questão sobre nada, a minha cara, o meu bom nome, aparece posto em causa.

Os justiceiros que vivem nas sombras, sem cara nem nome, podem semear suspeitas, impunemente, sobre quem muito bem lhes aprouver, quando lhes der na real veneta, durante os anos que quiserem. São os verdadeiros senhores do tempo. Mesmo do tempo dos outros.