Esqueçam a geografia, esqueçam o clima, esqueçam as fronteiras, esqueçam a fertilidade dos solos, esqueçam a presença ou ausência de matérias-primas. Vocês encontram exemplos de nações prósperas e para onde migram trabalhadores, que não têm matérias-primas de relevo (hidrocarbonetos por exemplo) e, no entanto, também são prósperas. E o seu contrário também é verdade. Há igualmente nações prósperas que são geograficamente periféricas (Irlanda), outras centrais (Áustria). E nações periféricas pobres, como Madagáscar, apesar de ali ao lado, ser possível existir uma ilha periférica com elevados padrões de qualidade de vida (Maurícias), ou países centrais pobres (República Centro-Africana), apesar de não muito longe dali, o Botsuana estar a prosperar e a tornar-se num dos países mais ricos de toda a África. Existem países com solos tremendamente férteis que são inacreditavelmente pobres (República Democrática do Congo) e outros montanhosos, como a Suíça, avaliado como um dos melhores locais do mundo para viver.

Alguns países são prósperos e praticamente “fecham” no Inverno devido à agressividade do clima, outros, com excelente clima (Haiti), infelizmente fazem parte do leque dos países mais pobres do mundo. Entretanto, outros países têm uma diversidade imensa no clima, como, por exemplo, os EUA, onde no Alasca há gelo e frio e mais a Sul, no Estado do Nevada, um deserto imenso. Ou no Egito, onde o clima é desértico e quente na maior parte do país, mas um egípcio tem um rendimento que representa cerca de 12% do rendimento de um cidadão dos EUA e vive menos dez anos do que este. Ou seja, como vemos,  nenhuma das realidades anteriores serve, ou devia servir, como justificação para um país e o seu povo triunfarem. Olhando para o resto do planeta, é possível encontrar exemplos para todos os gostos.

Apesar de este ser um tema complexo e que merece uma abordagem exaustiva, parece-me evidente que o que leva uma nação a ser próspera, ou não, são as políticas seguidas. Tudo o resto são desculpas. As políticas seguidas permitem, com a devida imaginação, fazer prosperar os locais mais inóspitos do planeta. Se por esta altura do artigo, ainda não estão convencidos, realço três exemplos avassaladores. Tanto a Alemanha como a Coreia foram dividas após duas guerras (a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, respectivamente). A divisão da Alemanha não foi imediata, só aconteceu algum tempo depois da Segunda Guerra terminar. Os alemães chegaram a fugir aos milhares por semana, para a parte ocidental, e esse foi um dos motivos principais porque se ergueu o muro de Berlim.

Tanto a Alemanha como a Coreia optaram por estratégias diametralmente opostas em cada um dos territórios divididos. Basicamente, a Alemanha Ocidental e a Coreia do Sul apostaram no capitalismo e a Alemanha Oriental e a Coreia do Norte, no comunismo. Não foi preciso esperar muito tempo, para verificar a brutalidade das diferenças e da qualidade de vida. Enquanto o lado capitalista prosperava, o lado comunista definhava. Hoje, a Coreia mantém-se dividida e enquanto a Coreia do Sul (capitalista) tem um nível de vida ligeiramente superior ao nível de vida em Espanha, a Coreia do Norte tem um nível de vida inferior a muitos países da África Subsariana. Tanto no caso da Coreia como no caso alemão, nas duas metades vivia o mesmo povo, a geografia não variava, a prevalência de doenças também não, assim como o clima. O que explicou as enormes diferenças ao nível da qualidade de vida foram, e são, as opções políticas.

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O outro exemplo que queria salientar e que é menos conhecido, é a cidade de Nogales que está dividida por um muro. Metade da cidade fica no México e a outra metade nos EUA. Apesar da parte mexicana até ficar numa das zonas mais prósperas do México, o rendimento médio de um agregado familiar equivale a cerca de um terço do rendimento médio de um agregado familiar na outra metade da cidade, esta norte-americana. A esperança de vida é também maior na metade americana e a taxa de mortalidade infantil é menor.

Com o exemplo alemão e coreano vimos a diferença gritante entre comunismo e capitalismo. No seu auge, o comunismo governou mais de metade da superfície terrestre. Teve à sua disposição os solos mais férteis e as maiores reservas de matérias-primas, contudo, ruiu sem ser disparado um único tiro. O comunismo caiu praticamente em todo o lado, por genuína vontade popular e porque as pessoas estavam fartas da miséria em que viviam. Arrumado o comunismo como uma teoria de miséria, fica ainda por explicar porque é que metade da cidade de Nogales é bem mais rica do que a outra, sua gémea.

O México, tal como os EUA, adotaram o capitalismo e o livre mercado. De entre os países que seguem o capitalismo, porque prosperam uns mais que outros? Este é o busílis da questão. E resposta fica para a segunda parte deste artigo.