… Portugal sobe e desce de forma quase bipolar, em modo de empobrecimento anestesiado entre a enorme dificuldade na gestão e organização das instituições, no défice de planeamento, baixa autoestima e falta de ambição por um lado, e por outro nas euforias pontuais e erráticas, individuais e coletivas, na negação infantil da realidade, no empurrar para a frente, no “logo se vê”, numa espécie de movimento ioiô hipnotizante, indutor do transe do qual o País tem sido incapaz de se libertar.
Os países, as instituições, as sociedades, tal como as pessoas obedecem desejavelmente a um equilíbrio virtuoso no que respeita de forma esquemática a uma horizontalidade linear da sua história de um dos lados , à projeção do futuro coletivamente assumido do outro, e uma linha vertical que cruza a anterior relativa à consciência coletiva das fragilidades, dos fracassos e, no extremo superior, aos apelos e anseios da concretização do potencial individual e coletivo.
Resulta da interseção harmónica destas duas linhas, destas duas vertentes, a capacidade ou a falta dela de uma sociedade acreditar, evoluir, de se reformar, de crescer e de se adaptar em superação a realidades em constante mutação.
Portugal não tem conseguido nesta encruzilhada em que se encontra identificar o caminho da intersecção das dinâmicas antagónicas dos extremos destas duas linhas, o da ponderação, do bom senso, da capacidade de realizar proficuamente o futuro.
Se, por um lado o País parece ter integrado razoavelmente e sem ressentimentos as suas memórias, a sua história, embora com alguma tendência para a culpabilização coletiva e a tentação errónea de reescrever aquelas à luz dos dias de hoje, tem sido por outro lado manifestamente incapaz de identificar, transmitir e assumir desígnios, metas e objetivos concretos e mobilizadores para a sociedade no seu todo.
No que respeita à linha vertical de integração das nossas fragilidades conhecidas e reconhecidas, como indivíduos, como sociedade, Portugal sobe e desce de forma quase bipolar, em modo de empobrecimento anestesiado entre a enorme dificuldade na gestão e organização das instituições, no défice de planeamento, baixa autoestima e falta de ambição por um lado, e por outro nas euforias pontuais e erráticas, individuais e coletivas, na negação infantil da realidade, no empurrar para a frente, no “ logo se vê” , numa espécie de movimento ioiô hipnotizante, indutor do transe do qual o País tem sido incapaz de se libertar.
De facto, não temos tido capacidade , em particular desde o final dos anos 90 do século passado, de implementar as mudanças, as inovações, as acomodações necessárias para que possamos ser um referencial de desenvolvimento, produtividade e crescimento retendo e atraindo investimento, talento e pessoas, proporcionando em todas as vertentes o incremento de indicadores económicos, sociais e de qualidade de vida compatíveis com aqueles de realidades da União Europeia com as quais nos deveríamos querer comparar.
Decorridas como visto, várias décadas sobre reformas sempre adiadas, desperdiçados incontáveis recursos financeiros, sociais e humanos, será ainda razoável esperar pela galvanização da sociedade e do País no seu todo? Ou, pelo contrário, deveremos estimular condições de exceção em diversas zonas ou regiões do país e em vários estratos populacionais particularmente dinâmicos, para que possam florescer sistemas paralelos a diferentes velocidades nas áreas da saúde, segurança social e educação, em particular através de mecanismos de liberdade de escolha , mas também na justiça, pelo alargamento de tribunais arbitrais, na fiscalidade aplicável, com regiões do país beneficiando de estatutos diferenciados capazes de atrair investimento específico, na regulação, através do tratamento igual dos setores público e privado em todas as vertentes, do licenciamento à fiscalização, assegurando uma concorrência efetiva da economia no seu todo , na legislação do trabalho e políticas de imigração, só para enumerar alguns exemplos?
O status quo atual já não parece passível de ser estruturalmente reformado, de preso e encurralado na sua inércia, no seu torpor. Necessitamos de sistemas paralelos, a diferentes velocidades onde caiba a audácia, a mudança e a ambição coerente para um Portugal produtivo, optimizador e inovador.
Seria permitido e estimulado, sob certas condições, apanhar o elevador do sistema atual para um patamar superior. Jamais o contrário.
Até que com o passar do tempo, talvez menos lentamente, do que se possa esperar, o primeiro se extinga.
Amigo não empata amigo. Metade do país não pode empatar a outra….
Queremos, um Portugal de primeira. Não um país ioiô.