992 euros. Este é o valor de rendimento médio mensal de cada português com mais de 18 anos de idade, menos 40% face ao rendimento médio dos cidadãos europeus (UE27), onde o rendimento médio mensal corresponde a 1654 euros. Estamos a falar de valores brutos, referentes a 2019, segundo o Eurostat, e mesmo corrigindo os valores em poder de compra, a diferença continua a existir, fixando-se em 1148 euros por mês para cada português contra 1667 euros para cada europeu – quase um terço a menos em poder de compra para aqueles que trabalham em Portugal!

Vamos por o dedo na ferida: enquanto cidadãos portugueses, podemos e devemos aspirar a melhores condições de vida. O nosso poder de compra é, no mínimo, um terço inferior ao dos nossos pares europeus. E um terço é uma grande diferença! O que se passa no nosso país para termos resultados tão abaixo dos europeus?

Existem muitos diagnósticos sobre o tema, que revelam fatores já evidenciados por diversas vezes, nomeadamente: corrupção, fraude, burocracia, reduzida produtividade, administração pública pesada, regime fiscal pouco atrativo, elevado endividamento, qualificações baixas na população, tecido empresarial fragmentado, entre tantos outros problemas, cujo impacto é bem conhecido por todos nós.. Mas falamos pouco de um fator crucial para o desenvolvimento económico do país: a reduzida capacidade de gerar maior valor económico no nosso sistema nacional de inovação, assente no pouco aprofundamento da colaboração entre empresas e universidades.

Vivemos numa época de dupla transição: climática e digital. O choque da pandemia Covid-19 acelerou a forma como utilizamos a tecnologia para conseguirmos operações mais eficientes e explorarmos novos canais de venda. A tecnologia permite-nos aceder a um mercado verdadeiramente global, mas temos de ter noção que a forma como competimos no mundo se está a alterar radicalmente. Já não estamos protegidos pela proximidade geográfica. Estamos agora verdadeiramente expostos à concorrência internacional e podemos comprar produtos e serviços a partir da nossa casa e a qualquer fornecedor mundial.

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E essa transformação na forma como competimos e concorremos vai fazer com que tenhamos de ser ainda mais rápidos a agir. Não há tempo a perder! Temos de saber fazer bem e fazer melhor do que a concorrência internacional para, enquanto país, conseguirmos prosperar no futuro. E é aqui que é importante voltar a falar de inovação, da capacidade de transferir conhecimento, na capacidade de resolver problemas rapidamente, na capacidade de modernizar a administração pública em Portugal, seja nas operações, nas tecnologias, no capital humano, e colocar as instituições de ensino superior e o tecido empresarial a colaborar lado a lado.

Basta consultar o European Innovation Scoreboard de 2020, publicado pelo Eurostat, e percebemos que Portugal tem:

  • Menos 51,8% de co-publicações científicas públicas-privadas por milhão de habitantes (PT com 44,1 contra 91,4 na UE);
  • Menos 14,8 pontos percentuais de exportações de produtos de média-alta tecnologia no total de produtos exportados (PT com 42,3% contra 57,1% na UE);
  • Menos 31 pontos percentuais de exportações de serviços de conhecimento intensivo no total de exportações de serviços (PT com 37,4% contra 68,4% na UE);
  • Menos emprego em atividades de conhecimento intensivo em % do emprego total que os seus pares europeus (PT com 10,9% contra 13,7% na UE).

Além do mais, sabiam que em Portugal 68,9% dos académicos referem que nunca colaboraram com empresas em atividades conjuntas de Investigação e Desenvolvimento (I&D)?

Resumindo: Portugal tem dificuldade em gerar maior valor acrescentado na sua inovação, algo que só se resolve com melhor cooperação e articulação entre empresas e instituições de ensino superior, alinhando as políticas públicas e os incentivos. Este é o desafio que a Fundação AEP, com o apoio da Accenture, irá promover através do novo projeto Desafio 2030, financiado pelo COMPETE 2020.

Da União Europeia vão chegar a Portugal cerca de 15,3 mil milhões de euros em subvenções ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). É uma oportunidade única para um verdadeiro salto qualitativo e quantitativo no desenvolvimento do nosso país. Saibamos utilizar estas verbas para acelerar o aprofundamento dos consórcios entre instituições de ensino superior e as empresas, criar grandes centros de digitalização e inovação e assegurar a produção de inovação com impacto. Portugal precisa de melhores resultados.