28 de junho de 2024 dita a inauguração da extensão da Linha Amarela do Metro do Porto entre Santo Ovídio e Vila D’Este.

Para trás, ficam 13 anos sem qualquer expansão da rede de transportes de referência da Área Metropolitana do Porto desde a expansão da Linha Laranja até Fânzeres em Gondomar a 2 de janeiro de 2011.

No entanto, não há bela sem senão. 13 anos sem crescimento da rede poderiam ter ditado o amadurecimento da mesma e a reconfiguração deste serviço de transporte a um número de utilizadores que cresceu de forma exponencial, ano após ano.

Não foi o que sucedeu.

O leitor irá constatar nas várias notícias que já chegaram até si sobre este tema que esta expansão envolveu a criação de 3 novas estações: Manuel Leão, Hospital Santos Silva e Vila D’Este, passando a rede a contar com 85 estações no total e tendo esta linha um custo global de cerca de 209 milhões de EUR.

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No entanto, a realidade que se verifica é que não se construíram 3 estações.

Construíram-se duas estações e, depois, um apeadeiro a que chamam estação em Vila D’Este.

Efetivamente, não se pouparam expensas na conceção, desenho e construção das estações de Manuel Leão e Hospital Santos Silva e até mesmo do traçado.

Primeiro, a estação Manuel Leão, subterrânea, e até com um anfiteatro à superfície na praça criada como forma de inserção urbana da mesma na área envolvente.

Imagem 1 – Estação Manuel Leão

Em segundo lugar, a estação Hospital Santos Silva, um exemplo do que deve ser uma estação à superfície, a qual cobre de forma integral os utentes dos elementos nos dois cais e permite que estes aguardem abrigados pelo Metro que terá uma razoável frequência de 7 minutos prevista para este troço da linha.

Imagem 2 – Estação Hospital Santos Silva

Finalmente, o traçado, que envolve dois túneis, um viaduto de 420 metros de comprimento em aço e betão armado e total inexistência de cruzamentos com a rede viária existente.

Imagem 3 – Viaduto de Santo Ovídio

Porém, a “estação” Vila D’Este, que serve uma urbanização de mais de 18 mil habitantes, os quais aguardavam há décadas a chegada deste meio de transporte apenas tem direito a:

  • num dos cais, um abrigo de 10 metros de comprimento semelhante a inúmeras paragens de autocarro em Vila Nova de Gaia ou Porto ou Lisboa;
  • no outro cais, só um muro de retenção em cimento.

Imagem 4 – “Estação” de Vila D’Este

A “estação” de Vila D’Este ditará que muitos utentes terão de aguardar pelo Metro, validar os seus bilhetes ou estar na fila pela renovação do passe mensal à chuva ou, na melhor das hipóteses, num abrigo onde apenas cabem confortavelmente 15 pessoas.

O Metro do Porto teve 13 anos para perceber que tinha de mudar o paradigma da qualidade das suas estações.

O Metro do Porto não percebeu.

O Metro do Porto teve 13 anos para perceber que 62 estações das 85 estações da rede como esta nova “estação” de Vila D’Este não se encontram adequadas a uma das mais pluviosas áreas do país.

O Metro do Porto não percebeu.

O Metro do Porto teve 13 anos para perceber que, à falta de um Heavy Rail Transit ou um Metro Pesado na cidade do Porto, o Metro do Porto tem de ser muito mais um Metro e muito menos uma cópia glorificada do elétrico 15E de Algés.

O Metro do Porto não percebeu.

O Metro do Porto teve 13 anos para perceber que nunca como hoje é necessário maximizar a utilização e a atratividade do Metro do Porto para reduzir o congestionamento das vias rodoviárias de acesso ao Porto e garantir a sustentabilidade ambiental do futuro que é de nós todos.

O Metro do Porto não percebeu.

O Metro do Porto teve 13 anos para perceber que é uma injustiça que uns tenham estações onde os utentes não se encontram expostos aos elementos e outros tenham que entrar no Metro encharcados.

O Metro do Porto não percebeu.

O Metro do Porto teve 13 anos para perceber que a população portuguesa é carreirista, que há uma cultura e um modo de vida intimamente associado ao automóvel e que só um transporte público excecional em todos os parâmetros é que dita um efeito-substituição significativo.

Aliás, Mário Alves, engenheiro civil e consultor em mobilidade, refere que “(…) as pessoas não mudam de carro para o transporte público por causa do preço. As pessoas precisam que o transporte público seja mais frequente, mais fiável e mais cómodo também (…)”

O Metro do Porto não percebeu.

Cerca de 1 milhão de EUR ou 0,5% do custo total da linha facilmente chegaria para criar uma estação com cobertura integral dos dois cais em Vila D’Este.

Quando o Metro do Porto inaugura apeadeiros e não inaugura estações, não é um problema de financiamento. É um problema de não se levar a sério a mobilidade em Portugal.