No quadro da União Europeia, Portugal é um dos países com rendimentos salariais mais baixos e, por todo o lado, encontram-se vínculos laborais precários. A somar a esta precariedade característica do nosso país, junta-se uma produtividade média que se afasta cada vez mais dos padrões europeus. Defendendo pessoalmente que rankings e listas comparativas, baseadas em indicadores meramente quantificativos, devem ser analisados com precaução – por tenderem a negligenciar componentes qualitativas e estruturais que contribuem significativamente para moldar a realidade espelhada em elementos quantificativos –, acredito também que estes de algo devem servir.
Guiados por esta linha de pensamento, podemos analisar alguns dados de interesse para o presente artigo de opinião. Primeiramente, considerando os dados providenciados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no ano passado, referentes a 2021, relativamente à produtividade laboral, percebemos que, em lista (ranking) que visa espelhar a produtividade laboral por país, incompleta devido à falta de dados de alguns países, Portugal fica à frente apenas de Hungria, Roménia, Croácia, Grécia e Bulgária.
Paralelamente, podemos analisar dois outros indicadores interessantes: a média de horas de trabalho semanal na Europa e o índice de felicidade. Relativamente às horas laborais semanais, dados da Eurostat reportam que a média da União Europeia encontra-se, em 2023, nas 36.4 horas semanais. Em Portugal, este valor estanca nas 37.9 horas semanais. Os Países Baixos apresentam a taxa de horas laborais semanais mais baixa, correspondendo a 32.4 horas semanais e, abaixo da média europeia, encontram-se todos os países nórdicos: Noruega (34.1), Dinamarca (34.6), Finlândia (34.9), Suécia (35.9) e Islândia (36.3). Já no que diz respeito à felicidade, ao observar o Relatório da Felicidade no Mundo, publicado pela Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, em 2023, a Finlândia lidera o pódio pelo sexto ano consecutivo, seguindo-se a Dinamarca em segundo lugar e a Islândia em terceiro. Também no top 10 encontra-se a Suécia (6º) e a Noruega (7º). Deixe-se a nota que este relatório incide em todas as nações do mundo, sendo que Portugal não se encontra no top 50, situando-se em 56º. Não procuro aqui defender uma relação direta entre a felicidade e o número de horas de trabalho, mas penso que estes indicadores merecem alguma atenção.
Como é que um país tão bem localizado, com um clima tão aprazível, regiões únicas, serra e mar, inserido em dinâmicas europeias repletas de potencial e oportunidades, apresenta índices de felicidade tão baixos? A resposta passa por salários baixos, cargas horárias excessivas, precariedade e, na base de tudo, problemas estruturais crónicos de organização governamental.
A política deve servir as pessoas, procurar o desenvolvimento e sustentar os territórios. A felicidade das pessoas tem de ser fomentada pelas políticas públicas e a redução da carga horária é um passo inevitável e necessário para o desenvolvimento do país. Uma carga de horário mais baixa permitirá uma panóplia de vantagens para a população, para as organizações e para o país. O pressuposto de menos horas alocadas ao emprego é um pressuposto que procura dar tempo e espaço às pessoas e que comporta vantagens para todos os envolvidos.
Para as pessoas este passo significará mais tempo de ócio, que pode ser dedicado a diversos tipos de atividades, abrindo-se uma nova oportunidade para formações complementares, novos passatempos, mais aproveitamento cultural. No fundo, uma cultivação maior do ser e o fomento da possibilidade de formação holística, mas também mais tempo livre para uma maior dedicação à componente familiar e social, que se caracterizam como vitais para o bem-estar de cada um. Assim, o bem-estar das pessoas é fomentado, promovendo-se a sua satisfação e motivação, o que poderá trazer vantagens a nível da produtividade em termos laborais, tendo em conta que pessoas mais motivadas apresentam mais predisposição e vontade.
O caminho a ser traçado passa por recolocar as pessoas e a sua felicidade no centro das prioridades políticas e, a partir dessa base central, os benefícios serão acolhidos por todos. É importante estimular o potencial de cada um e a diminuição da carga de horário laboral poderá vir a revelar-se um passo imprescindível para a concretização duma sociedade mais harmonizada, feliz e desenvolvida.