Vivemos tempos polarizados e polarizadores, onde procuramos todos os pretextos para antagonizar e nos desviamos de todos os motivos passíveis de consenso. A verdade é que esta tendência afasta-nos uns dos outros e de um ideal simples de compreender e, diria até, fácil de aceitar e de defender: o de Saber Estar.

A crispação facilmente presenciada nas relações interpessoais, nomeadamente no que concerne a assuntos de interesse público – vulgo política –, é evidente. A necessidade de catalogar e “encaixotar” o outro reflete-se na forma como percecionamos a nossa própria pessoa e conduz-nos a catalogar e “encaixotar” até o “eu”. Esta forma de Estar encontra-se normalizada, reflete-se no quotidiano e, muitas das vezes, fazemo-lo inconscientemente.

Não ser a favor de A, em detrimento de B, pode não ser sinónimo de inexistência de opinião ou de capacidade para a ter. Revela até, várias vezes, maturidade e consciência.  O mundo, felizmente, não se divide apenas entre “o bom e o mau”, “o nós e o eles”, a esquerda e a direita. Há espaço para meios termos ou posições terceiras, bem como para a compreensão da necessidade de saber mais. Devemos refletir seriamente sobre o peso que esse espaço tem perdido na sociedade.

Saber Estar pressupõe, mais do que identificar e tolerar a existência da diferença de opinião ou pensamento, aceitar e respeitar as diferenças em si e procurar perceber os exercícios lógicos por trás dessas diferenças (e também do que é comum). Explorar caminhos de divergência sem excluir a possível existência de convergências é construir uma sociedade mais una, coesa e madura.

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Evelyn Beatrice Hall, para ilustrar as crenças de Voltaire, escreveu “posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-lo”. Não se trata de uma mera ideia liberal, mas sim do direito de liberdade de expressão. A somar a esta linha de pensamento, defendo que também temos de procurar compreender o porquê de o outro dizer o que diz.

Temos um longo percurso para percorrer, mas creio, convictamente, que só assim – ponderados, mas abertos ao outro e ao diferente – é que podemos caminhar todos, com as nossas diferenças, ao mesmo tempo.

P.S. – Este texto não menciona acontecimentos, assuntos ou organizações propositadamente, pois trata-se de uma reflexão livre sobre vivências e o quotidiano.