A chegada generalizada dos primeiros Transformers, em 2019, anunciava um futuro empolgante para a IA. Atualmente, essas expectativas não só foram cumpridas, como foram excedidas. A IA está a evoluir a um ritmo espantoso, em que conceitos como a multimodalidade ou os chain of thoughts estão a mudar as regras do jogo. Estes avanços permitem-nos imaginar máquinas capazes de processar informação de forma semelhante aos humanos e de se adaptarem a novas situações com uma autonomia nunca antes vista.

Mas talvez o mais surpreendente seja a forma como a nossa perspetiva sobre o futuro da IA mudou. Até há pouco tempo, a criação de uma inteligência artificial geral (AGI), ou seja, uma IA capaz de realizar qualquer tarefa intelectual humana, parecia um horizonte distante. Atualmente, parece que todos concordamos que esse horizonte está muito mais próximo do que imaginávamos. A promessa da AGI é entusiasmante, mas também nos recorda a nossa responsabilidade de orientar este desenvolvimento de uma forma ética e sustentável.

Vale a pena notar que a influência da inteligência artificial existe há anos, mas os marcos recentes, especialmente os avanços dos modelos GPT-3 e GPT-4 da OpenAI, chegaram mais cedo do que o esperado e aceleraram drasticamente a sua adoção. Estes desenvolvimentos alimentaram uma vibrante comunidade de código aberto, que está a construir modelos “fundacionais” mais eficientes e acessíveis. O sucesso surpreendente de aplicações como o ChatGPT, que ultrapassou gigantes digitais como o TikTok ou o Instagram em termos de utilização no seu primeiro mês, é um reflexo claro de como a sociedade está cada vez mais preparada para adotar novas tecnologias. Embora estejamos a assistir a estes desenvolvimentos, ainda não temos plena consciência do profundo impacto que terão. A adoção da IA tem tanto a ver com o seu desenvolvimento técnico como com a nossa vontade de a integrar na nossa vida quotidiana.

Se pararmos para pensar no que poderá ser alcançado a curto prazo, a inteligência artificial tem um enorme potencial para transformar sectores que lidam com grandes quantidades de dados e processos complexos. O desenvolvimento de software, por exemplo, poderia sofrer uma revolução semelhante à da indústria têxtil no século XIX, quando a tecnologia permitiu satisfazer a procura crescente e gerar empregos de maior valor. A IA poderá assumir tarefas que atualmente requerem a intervenção humana, como a programação, desde que tenhamos profissionais qualificados para formar e gerir estes sistemas.

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A longo prazo, é difícil prever exatamente qual será o impacto da IA, mas não há dúvida de que será profundo. Já estamos a ver como a IA é capaz de encadear acções, tomar decisões e gerar pensamentos de forma autónoma. Isto poderá levar-nos para além da simples automatização de tarefas e poderá redefinir completamente a forma como trabalhamos e vivemos.

Em suma, a inteligência artificial está a transformar muitos aspectos das nossas vidas, por vezes de forma tão subtil que mal nos apercebemos. As mudanças vão desde a forma como procuramos informação, interagimos com dispositivos e aplicações até ao modo como fazemos compras, aprendemos e nos entretemos. Um exemplo claro são os assistentes virtuais, como a Siri ou a Alexa, e a popularidade de aplicações como o ChatGPT, uma ferramenta que está a revolucionar o mundo do trabalho, automatizando tarefas e permitindo que os trabalhadores se concentrem em funções de maior valor. Está também a transformar os cuidados de saúde, melhorando os diagnósticos e personalizando os tratamentos.

Enquanto sociedade, estamos a adaptar-nos rapidamente a estas mudanças, muitas vezes sem nos apercebermos da dimensão da transformação até olharmos para trás. Se voltarmos ao exemplo de aplicações como o TikTok ou o Instagram, os seus algoritmos baseados em IA estão a fazer com que milhões de pessoas mudem os seus hábitos e passem muito tempo a fazer scrolling nos seus ecrãs. De facto, os nossos hábitos mudaram, e isso é apenas uma amostra do impacto que a IA tem e continuará a ter nas nossas vidas.