Em 1984, no nosso primeiro Europeu, a “coisa” ficou-se pelas “meias”, ante os anfitriões franceses, sempre eles. A nossa equipa era bem jeitosa, num torneio com somente oito países. Foi Platini que, no auge do seu temperamento futebolístico explosivo, fez com que o nosso sonho terminasse no prolongamento daquela partida de Marselha. Teve sorte de não haver um Diogo Costa qualquer que o fizesse chorar. Estávamos em 1984 e Cristiano Ronaldo dava os primeiros toques na bola… na cada vez mais dilatada barriga da dona Dolores Aveiro.
Falhámos os dois torneios seguintes, tendo a selecção regressado em 1996 e 2000 com a “geração d`oiro”, nos Europeus de Inglaterra e, em parceria, da Bélgica e Holanda. A “chapelada” categórica de Karel P. e a mão sussurrante de Abel Xavier afastou-nos das ansiadas finais. Era eu um pequeno catraio a descobrir o mundo e os seus dúbios prazeres quando vibrei com estes dois campeonatos. Depois, a desilusão, especialmente pela maneira de como fomos mandados para casa em ambas as ocasiões. Pelo menos, as provas globais da escola corriam-me bem, até porque tinha o malogrado estádio Mário Duarte (em Aveiro, para os mais distraídos) ali ao lado, como fonte inspiradora. Adiante.
Em 2004, a prática desfaçatez grega fez-nos mergulhar numa tragédia inesperada, até porque jogávamos em casa e a malta queria, mais do que “ontem”, ser campeã europeia em pleno território nacional. A desilusão demorou a passar, Ronaldo chorava como nunca chorou, os exames da faculdade corriam-me mal e a minha namorada de então acabara comigo nem sei bem por que motivo. Tudo ao mesmo tempo. Foi cruel. Meti gelo e não passou. Era lidar.
Antes do golo do Éder, em 2016, andámos pelos Europeus da Suíça e Áustria e, quatro anos depois, da Polónia e Ucrânia, sem relevância: passámos a etapa dos grupos como sempre e ficámo-nos pelo caminho mais ou menos logo a seguir. Estava tudo a guardar-se para França, onde o futebol apresentado pela turma portuguesa era, no mínimo, paupérrimo, mas eficaz aqui e acolá. Passámos o grupo no terceiro posto, com um total de três empates. O engenheiro-mor garantiu ao povo que seríamos campeões. Ninguém acreditava naquelas palavras. Mas quem tinha razão – e bem, e bem – era Fernando Santos. Sem Ronaldo, mas com o “patinho feio” Éder, vencemos a final aos da casa, aos franceses, os mesmos adversários dos “quartos” de agora.
E se em 2021 (Europeu de 2020) uma Bélgica autoritária (timonada por… Roberto Martínez) nos eliminou, pode ser que a malta que hoje representa as nossas cores nos faça sonhar e nos proporcione uma alegriazinha daqui a duas semanas, em Berlim. O povo português merece! O povo português menos a minha namorada de 2004, que terminou comigo nem sei bem por que motivo. Se estiver viva e a ler estas linhas, um beijo cínico para ela.