De acordo com um estudo realizado pelo ICS/Iscte, baseado em quatro sondagens feitas durante o ano de 2023, o Chega, quando comparado com o Partido Socialista e a Aliança Democrática, é o partido que apresenta mais probabilidade de intenção de voto entre os jovens (faixa etária dos 18 aos 23 anos).
Estes dados parecem comprovar um incremento significativo de eleitorado jovem no Chega face a eleições passadas, contrastando com uma base de eleitorado predominante de faixas etárias mais avançadas e sem estudos superiores. Ainda que, estas intenções de voto não representem necessariamente votos, sobretudo pela tendência abstencionista característica desta faixa etária, esta “conquista” de eleitorado jovem por parte do Chega deveria servir como um alerta para os restantes partidos da democracia portuguesa.
Sempre que são discutidas as razões para o surgimento e consequente crescimento do partido de André Ventura, a discussão termina rápida e redundantemente em apelidar os eleitores e os membros do partido de fascistas, racistas e xenófobos. Embora estas características se apliquem à vasta maioria dos membros do Chega, tenho dificuldade em conceber que as mesmas definam a maioria do seu eleitorado.
No caso dos jovens, muitos se apressaram a culpabilizar o TikTok e a fácil manipulação dos indivíduos de faixas etárias inferiores face a discursos políticos radicais e populistas. Mais uma vez, apesar de estas afirmações serem válidas para algum eleitorado, parece-me óbvio que estas não serão as principais razões que levam os jovens a votar neste sentido. Para os jovens, tal como para a maioria da restante população, o catalisador de voto no Chega é apenas um: descontentamento para com o rumo do país nos últimos anos.
Com efeito, o jovem português comum (um dos poucos que ainda resida em solo nacional) olha à sua volta e encontra um país em que os seus estudos superiores não são compensados justamente em termos salariais e em que dificilmente conseguirá sair de casa dos seus pais e adquirir habitação própria antes dos seus 30 anos. Aqueles que estiverem mais atentos à situação política e mediática portuguesa, constatam ainda que o país está mergulhado num clima de suspeição sobre as instituições democráticas, desde a justiça até ao poder local.
Desta feita, se os restantes partidos democráticos portugueses estão tão preocupados com o crescimento do Chega como dizem estar, talvez não seja má ideia tirarem a cabeça da areia e restituírem a confiança dos portugueses de que será possível dar um rumo diferente ao país.