Ainda nasci em ditadura. Mas conheço-me como pessoa em Liberdade. O 25 de Abril é uma data importante para Portugal, e para mim. Quebra um ciclo político e social, elimina um regime, e estabelece um novo tempo. Como todos os processos, não foi – nem é, ainda – um caminho fácil. Um país pluralista tem sempre tensões entre diferentes ideias para o futuro, como gerir os problemas de hoje, e como avaliar a história que nos trouxe até aqui.
Mas há uma carga simbólica no 25 de Abril, que tem sido até hoje monopolizada por uma certa forma de estar na política. A esquerda arroga-se o direito de clamar a autoria da democracia, e esquece-se que foi preciso muita gente levantar-se, ao cimo de uma alameda ou em cima de um tanque, para parar a instauração de um estado marxista em Portugal.
O PREC viu mortos, sectarismo, e até deu origem a um movimento terrorista. A democracia pós-25 de Abril viu a bancarrota do país umas poucas vezes, os cintos apertados da austeridade, interesses internos e externos aproveitarem-se das fraquezas do sistema, e até uma corrupção ética e factual que ainda estamos a deslindar. Tem há 44 anos sempre as mesmas caras na direção do país, os mesmos partidos de sempre na aplicação prática do paradoxo de Lampedusa.
Mas também viu um país pobre, atrasado e muitas vezes considerado miserabilista ganhar confiança em si próprio. Os filhos que antes o abandonavam para fugir da fome, vão hoje para fora competir com os melhores do mundo, na ciência, na tecnologia, no desporto, na gestão e até na arte. O analfabetismo e a mortalidade infantil desapareceram. O país cresceu, construiu infraestruturas, inovou em certas indústrias. As nossas empresas espalham-se num mundo globalizado. Até alguns dos nossos estadistas, que tanto criticamos em casa, são reconhecidos lá fora. A nação que deu novos mundos ao mundo é hoje parte do mundo, de pleno direito.
A celebração do 25 de Abril tem sido centralizada numa grande manifestação que desce a Avenida da Liberdade, encabeçada pelos revolucionários e comunistas de 74-75, os sindicalistas dos direitos e das reduções de horário com crescimento de salário e os saudosistas das causas fraturantes. Descem a Av. da Liberdade. Talvez porque a descer todos os santos ajudam e continuam a reivindicar um novo 25 de Abril. O que tiveram em 1974 não lhes deu o que queriam?
A Iniciativa Liberal também vai celebrar o 25 de Abril, juntando-se à manifestação. E eu que sou membro lá estarei. Mas gostava mais se estivéssemos a subir a Avenida da Liberdade. Subir para chegar a um Portugal, uma Europa, e um Mundo melhor. Subir para que a Liberdade seja individual e plena, e não apenas a tolerada pelo Estado, que até onde se comem rissóis gosta de decidir. Uma Liberdade de afirmação de cidadania, de ação em favor de nós próprios, das nossas famílias, e da nossa comunidade. Uma Liberdade plena de autonomia, que cresce no respeito pelos direitos de todos, e da Responsabilidade de cada um. Uma Liberdade que não espera, que não vai pelo caminho fácil, pela descida da encosta, mas que nos leva a superar o que somos, a trabalhar em conjunto, cada um com a sua vontade e a sua iniciativa, e a construir um Portugal Mais Liberal.
Membro da Iniciativa Liberal
O crédito da ideia do título devo ao Carlos Guimarães Pinto, a quem agradeço a inspiração para este artigo.