A história mostra-nos que os artistas sempre procuraram novas formas de arte e meios não convencionais e que arte e tecnologia têm trabalhado e evoluído lado a lado. A tecnologia tem-se tornado um pilar na nossa sociedade e tem vindo também a influenciar e mudar a forma como criamos, apreciamos e percecionamos a arte. Cada vez mais artistas usam a tecnologia para criar, editar e divulgar o seu trabalho, assim como para criar ligações com outros artistas e comunidades. Mas não são só os artistas que estão a usar a tecnologia de uma forma inovadora e inesperada, também o próprio público, os museus e as galerias estão a fazê-lo, contribuindo assim para uma transformação digital nunca antes vista.

Tecnologia como ferramenta artística

Na perspetiva dos processos de criação de arte, a integração de tecnologias como edição digital e impressão 3D são dos primeiros exemplos que nos surgem. Porém, a inteligência artificial e realidade aumentada estão a assumir um papel preponderante nesta mudança e já há artistas a usar essas ferramentas na sua arte, de forma a proporcionar experiências únicas ao seu público. Um excelente exemplo foi a exposição Mulher Máquina, da artista Katia Wille, que combinou inteligência artificial com as suas obras, de forma a proporcionar experiências distintas para cada participante.

No que diz respeito a museus e espaços de exposição, também aí a integração da tecnologia com o objetivo de melhorar experiência do visitante tem sido disruptiva e é cada vez mais usual integrar tecnologias como video g, realidade aumentada e/ou realidade virtual nos espaços físicos, tornando a experiência de ver uma exposição em algo muito mais “holístico” e completo.

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O poder da Internet

Numa sociedade globalizada e cada vez mais tecnológica, tornou-se crucial para museus e galerias ter as suas coleções acessíveis online. Mas para além disso, surgiram plataformas especializadas e direcionadas, como o Artsy, Sigulart, Minted ou Arfinder que têm trazido transparência e equidade ao mercado de arte e contribuem ativamente para que a forma como a arte é vista, compartilhada, consumida e posteriormente vendida também tenha mudado, tornando-a muito mais acessível.

Também as plataformas de crowdfunding como o Kickstarter ou Indiegogo têm tido um papel preponderante nesta democratização de acesso à arte. Recorrendo a estas plataformas, os artistas assumem um papel independente, onde são também capazes de se promover e simultaneamente vender as suas peças online diretamente ao seu consumidor final, sem necessitar de qualquer tipo de intermediário, agente ou galeria.

Tradicionalmente, os artistas iriam a uma galeria com seu portfólio e a galeria decidiria se o trabalho é suficiente bom para expor. Agora, eles vão à internet, tanto para expor o seu trabalho como também para vendê-lo.

Blockchain e a validação da Arte

Num relatório de 2014, o Fine Arts Expert Institute (FAEI) descobriu que mais de 50% das obras de arte examinadas eram falsificadas ou não estavam atribuídas ao artista correto. A ascensão do blockchain, mais especificamente do NTF, têm assumido um papel cada vez mais relevante no mundo da comercialização de Arte, sobretudo no que diz respeito à validação da autenticidade das peças. O NFT funciona como um certificado de autenticidade digital impossível de falsificar, o que pode ajudar a resolver a questão da falsificação de arte. Para além disso, devido à rastreabilidade total associada aos NFT é possível identificar todos os elementos da cadeia, desde o criador da obra até ao último proprietário, a cada transação. O artista decide o montante dos direitos de autor e, como é possível conhecer o histórico completo do NFT, cada vez que há uma transferência de propriedade, os artistas recebem a sua parte.

A forma como a Arte tem integrado a tecnologia para ousar, ultrapassar limites e definir novos significados que estão a mudar a forma como pensamos e sentimos tem sido um exemplo a reter. Claro que, com recurso a tantas novas ferramentas e técnicas, qualificar uma obra será sempre um desafio, mas o importante será sempre a experiência que o artista entrega ao público.

Sofia Ferreira é eCommerce Manager e trabalha no ecossistema digital desde 2007. Já trabalhou em várias empresas, como Sonae, Salsa e Claus Porto e já trabalhou também em Angola. Recentemente, decidiu fazer aquilo que jamais faria: ser empreendedora.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.