O setor dos transportes e da logística é um dos mais importantes para a economia e para a sociedade, exatamente por garantir a circulação de bens e serviços entre produtores e consumidores. No entanto, e apesar da relevância que detém, continua a ser maltratado e desrespeitado por aqueles que deveriam protegê-lo e valorizá-lo, enfrentando grandes desafios no futuro. Aqui, destaque-se, desde logo, a contração económica na Europa, que afunda a procura e a rentabilidade dos serviços nesta área, e que pode arruinar muitas empresas, que já operam com margens muito reduzidas. Outro dos enormes desafios passará pela enorme falta de motoristas qualificados no setor dos transportes, que torna impossível a contratação e a retenção de profissionais e que ameaça, por sua vez, a qualidade e a segurança dos serviços prestados, colocando em risco a vida de milhares de pessoas. O setor enfrenta, ainda, uma inflação persistente, que dispara os custos operacionais, especialmente no que se refere aos combustíveis, seguros e impostos, e que inviabiliza a competitividade e a sustentabilidade das empresas, que têm de suportar um peso fiscal insuportável.
A concorrência desleal das novas plataformas digitais, que oferecem serviços de transporte e logística, sem cumprir as normas legais e fiscais, e que roubam clientes e receitas às empresas que operam de forma regular e transparente, estão a criar, igualmente, uma situação de dumping e de desregulação do mercado. Enfrentamos, ainda, o desafio das alterações energéticas, que obriga o setor do transporte rodoviário de mercadorias a adaptar-se a uma transição para fontes de energia mais limpas e renováveis, mas que ainda não dispõe de soluções viáveis e acessíveis para fazê-lo, ficando à mercê dos interesses e das imposições dos grandes grupos energéticos. Acrescente-se, por fim, os desafios políticos, que exigem estabilidade e previsibilidade para este setor, que se depara, infelizmente, com um cenário de incerteza e de conflito, que dificulta a tomada de decisões e a defesa dos interesses.
Para enfrentar estes desafios, é preciso que o setor dos transportes e da logística adote uma estratégia baseada na valorização das pessoas, na legalidade das empresas e no combate às práticas ilegais. Para tal, fica o desafio, para o setor como um todo, de reconhecer e valorizar o papel dos trabalhadores que nele operam e que são essenciais para garantir a satisfação dos clientes e a eficiência dos serviços, mas que são, frequentemente, explorados e desvalorizados. É urgente criar e proporcionar condições de trabalho dignas, salários justos, formação contínua e oportunidades de progressão na carreira, respeitando, simultaneamente, os direitos e as reivindicações.
É urgente, ainda, defender e promover a legalidade das empresas que cumprem as suas obrigações fiscais, laborais, ambientais e de segurança, mas que são constantemente prejudicadas e penalizadas. É preciso, para isso, exigir o cumprimento das normas legais por parte de todos os agentes do setor e denunciar as situações de fraude, evasão e concorrência desleal, exigindo a aplicação de sanções efetivas e dissuasoras. E, ainda, de combater e eliminar as plataformas que praticam concorrência desleal, que oferecem serviços de transporte e logística sem respeitar as regras do mercado e os direitos dos trabalhadores, e que representam uma ameaça para a sobrevivência e a qualidade do setor. Para isso, é preciso fiscalizar e sancionar estas plataformas e sensibilizar os consumidores para os riscos e as consequências da utilização destes serviços, que podem pôr em causa a sua segurança e a sua responsabilidade social.
É, também, premente apoiar e incentivar a transição energética do setor do transporte rodoviário de mercadorias, que precisa de apoio e de incentivos para o fazer. E é necessário investir em investigação e desenvolvimento de soluções tecnológicas, facilitar o acesso a financiamento e infraestruturas e, ainda, harmonizar os critérios e as normas a nível europeu, respeitando a diversidade e a especificidade de cada país e de cada empresa.
Por fim, mas não menos relevante, é urgente reforçar e consolidar a estabilidade e a cooperação política no setor, o que requer um diálogo permanente e construtivo entre os diferentes países e regiões, especialmente no espaço europeu. Só assim se conseguirá garantir a segurança jurídica, a harmonização fiscal e a livre circulação de bens e serviços. Só assim será possível enfrentar os obstáculos e as resistências de alguns atores políticos, que não reconhecem a importância e a necessidade do setor.
O setor de transporte e logística é, como referido, um setor essencial, que continua a ser maltratado e desrespeitado por aqueles que deveriam protegê-lo e valorizá-lo. É, também, e por isso, um setor que enfrentará grandes desafios no futuro, que exigirão uma resposta urgente e eficaz dos seus agentes e das autoridades competentes. Acreditamos que a valorização das pessoas, a legalidade das empresas, o combate às plataformas que praticam concorrência desleal, a transição energética e a estabilidade política são os pilares para garantir a competitividade, a sustentabilidade e a qualidade do setor, e para defender os seus interesses e os seus direitos. Sabemos qual é o caminho, temos, agora, que percorrê-lo. O que nos faltará?