Sabemos que vivemos, nos últimos anos, tempos estranhos, com muitos desafios e muita incerteza. Crises económicas, sociais, políticas e pandemias à parte, continuo com a convicção plena de que a valorização das pessoas, independentemente do momento ou do setor de que falamos, é e será o caminho de futuro.

No caso dos Transportes Rodoviários de Mercadorias, setor ao qual estou diretamente ligado e que assume uma importância determinante em qualquer economia mundial, a verdade é que vivemos (há demasiado tempo) pressionados por uma falta de mão de obra preocupante. Não nos decidimos limitar, contudo, a falar apenas sobre este tema, na expectativa de que algo mude; decidimos agir e, em 2019, assumimos que a inversão deste caminho e desta realidade seria a nossa prioridade: valorizar, atrair e, acima de tudo, reconhecer quem no nosso setor trabalha.

É, para nós, essencial a regulação do setor, pois essa é a única forma de proteger quem mais paga e assume a legalidade dos acordos estabelecidos, garantindo que não são prejudicados por um mercado muito competitivo, por vezes das formas menos legais. Temos a convicção plena de que não haverá setores a acreditar tanto como nós nem a assumir aumentos únicos como os Transportes Rodoviários de Mercadorias.

É, por isso, premente envolvermo-nos global e transversalmente na melhoria das condições de trabalho, mas, também, no reconhecimento da importância das pessoas. Isto é, a par do aumento de salários, fundamental para tornar o setor mais atrativo, sobretudo para as novas gerações, as do presente e as do futuro. As gerações que farão o caminho do novo setor.

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Apesar de ser incontornável focar o acordo para o novo contrato coletivo no transporte de mercadorias – assinado pela Fectrans e pela ANTRAM, no final de 2022 –, que contempla a atualização do salário base e diuturnidades de acordo com o percentual de aumento do Salário Mínimo Nacional – ou seja, 7,81% –, queremos mais. Precisamos de mais. Sabemos das limitações que enfrentamos, nomeadamente no que se refere ao modelo de trabalho, que nos afasta de conceitos tão em voga – e absolutamente relevantes nos setores em que tal é possível –, como é o caso do teletrabalho, do trabalho remoto ou do trabalho em regime híbrido. Mas, estando conscientes desta realidade, de que forma a podemos potenciar? De que modo poderemos evoluir? Não temos forma de adivinhar o futuro nem temos, tão pouco, a resposta certa para estas inquietações.

Olhamos para o atual estado da Educação com preocupação. A realidade que nos é apresentada diariamente leva-nos a indagar: Para onde caminhamos? Por onde passará a solução? Estaremos, como país, a comprometer o futuro das gerações futuras? No setor dos Transportes Rodoviários de Mercadorias, ainda que não seja uma realidade que nos “entre”, diariamente, pela televisão, pela rádio, pelos jornais ou pela internet, o problema assume contornos igualmente preocupantes.

Independentemente do setor de que falamos, o grande objetivo do país passará por criar condições que tornem o mercado de trabalho mais apelativo. Que o transformem. Que façam valer a pena o esforço. Que o recompensem. Imaginem se, em todos os setores, pudessem existir ecossistemas unicórnio? Não estará na altura de pensarmos e reinventarmos até os setores mais tradicionais? O mundo mudou. As gerações também. A mudança terá, por isso, que ser global. Fiquemos, por isso, com esta ideia: E se os Transportes Rodoviários de Mercadorias dessem origem a um novo ecossistema unicórnio?