No passado dia 22 de Julho, em texto intitulado «Ai Jesus, que calor está em Julho!», o cronista Alberto Gonçalves, colaborador regular desse jornal, afirmou, a dado passo: «Por mim, não sei se o mundo está a aquecer ou a arrefecer. Não sei se qualquer das hipóteses nos é alheia ou provocada pelo homem, essa excrescência que convém extirpar à natureza. Não sei se, a provar-se, a influência antropogénica tem retorno, e o que é que, descontado o folclore, o retorno implica.»

A afirmação, feita pelo referido cronista, de que não sabe se o planeta está a aquecer ou arrefecer, pode ficar a dever-se tão-só ao facto de desconhecer pura e simplesmente o esmagador consenso científico que actualmente existe sobre o aquecimento global, do qual poderemos citar, como mero exemplo, «Scientific Consensus: Earth’s Climate Is Warning», elaborado pela NASA e disponível aqui.

Tal afirmação – repete-se: «por mim, não sei se o mundo está a aquecer ou arrefecer» – pode ficar a dever-se, porém, não à ignorância do autor, mas a um cepticismo ou menosprezo das fontes científicas que, insiste-se, garantem em termos consensuais e esmagadores que o planeta está a aquecer – e não a arrefecer, hipótese colocada pelo cronista.

Assim, para nosso esclarecimento, e para cabal esclarecimento dos leitores do jornal Observador, muito gostaríamos que o cronista Alberto Gonçalves indicasse publicamente que fontes ou trabalhos lhe permitem sustentar a  afirmação «por mim, não sei se o mundo está a aquecer ou arrefecer», a qual, se acaso não tiver uma base científica séria e sólida, ademais num domínio que tanto preocupa os cidadãos de todo o mundo e sobre qual existem centenas de dados científicos públicos, se arrisca a pertencer ao campo do mero e irresponsável palpite.

Sublinhe-se que aqui não está em causa uma simples opinião subjectiva, como aquela que, no mesmo artigo, o cronista avança sobre um suposto alarmismo climático e a qual, mesmo discordando, respeitamos. O que aqui está em causa é uma afirmação de desconhecimento de um facto objectivo – «por mim, não sei se o mundo está a aquecer ou arrefecer» –, facto sobre o qual existe abundante e convergente literatura científica, além de posições públicas tomadas por organizações internacionais como a ONU, governos de todo o mundo, as mais reputadas instituições científicas, organizações da sociedade civil e milhões de cidadãos.

A questão que o texto do cronista Alberto Gonçalves nos suscita é, pois, a de saber se é ainda hoje aceitável fazer público alarde da ignorância sobre um tema como o das alterações climáticas ou emitir opiniões sobre questões de ciência com base em meros palpites, «bitaites» ou «achismos», os quais poderão ter graça, para quem aprecie o género, mas são, ou podem ser, enganadores e equívocos e, pior ainda, deturpadores da verdade científica.

Admitimos que não seja o caso do cronista Alberto Gonçalves e, nessa eventualidade, muito gostaríamos de conhecer as fontes e dos dados em que o mesmo se baseou e que lhe permitem assumir a atitude de despreocupação, cepticismo e indiferença que manifestamente publicamente.

Pela nossa parte, muito gostaríamos de partilhar essa sua atitude despreocupada e optimista, mas, infelizmente, não é para isso que apontam os dados reiterados e convergentes dos cientistas e a realidade a que diariamente assistimos.