A profissão de professor está em crise em bastantes países europeus, incluindo Portugal. Há uma constante falta de docentes nas escolas, a profissão não é atraente, é mal remunerada, o corpo docente está cada vez mais envelhecido e há poucas oportunidades na progressão de carreira. Isto faz com que Portugal se coloque numa posição de risco num futuro próximo, visto que terá menos professores habilitados.

Em 2009, Portugal apresentava a segunda percentagem mais baixa de alunos a candidatarem-se a cursos superiores de educação entre os países da OCDE – cerca de 4% de novos inscritos, sendo que a média da OCDE era o dobro. Nos últimos 10 anos o problema manteve-se, pois a percentagem de diplomados no Ensino Superior nos cursos de Educação caiu de 8,6% em 2011 para 5% em 2020, colocando mais uma vez Portugal abaixo da média da UE e da OCDE. Contudo, não é só a percentagem de diplomados no Ensino Superior que cai; a própria escolha na licenciatura também tem caído. Desde 2010/2011 até 2019/2020, foram menos 52,4% os inscritos nos cursos superiores de educação.

Segundo dados do Estado da Educação 2019, divulgados pelo Conselho Nacional de Educação, a maioria dos professores tem mais de 50 anos (52,9%) e cerca de 1% tem menos de 30 anos, o que resulta numa acelerada redução dos quadros educativos, visto que faltam professores jovens enquanto os outros estão cada vez mais envelhecidos. Indicadores como os da CNE (Conselho Nacional de Educação) preveem que mais de metade dos professores se aposentem nos próximos 10 anos.

Estes dados indicam-nos que estamos num caminho complicado. Um estudo da Universidade Nova, em conjunto com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), prova que será necessário contratar 34,5 mil profissionais até ao final da década para garantir que não faltam docentes nas escolas, o que acrescenta um terceiro problema neste caso, não só a pouca atração por parte dos jovens, nem o envelhecimento, mas sim o elevado número de desistências da profissão – só nos últimos 20 anos foram cerca de 10 mil os professores que abandonaram a profissão devido a Portugal ser um país com uma lenta progressão de carreira e com poucos incentivos salariais, o que, mais uma vez, desincentiva a fixação ou a escolha de seguir a carreira. É importante diminuir a burocracia e oferecer melhores condições aos professores, desde o nível de horários às deslocações que tem de realizar e à continuidade da diminuição do número de alunos por turma.

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Ora, Portugal, a longo prazo, deveria chegar ao patamar finlandês. Os dados apresentados pela Teaching and Learning International Survey (TALIS) colocam a Finlândia como o país que mais valoriza os professores e onde estes se sentem mais valorizados. Neste país nórdico, os docentes ainda são melhor remunerados e não estão sujeitos a horários tão alargados. O Estado finlandês investe todos os anos no desenvolvimento profissional dos docentes, entrando estes para a formação de professor através de um exame de ingresso. Um professor finlandês dá aulas apenas numa escola e geralmente fica com o mesmo grupo de alunos durante 6 anos.

Neste sentido, é necessário que Portugal valorize mais a carreira docente em prol da atração dos jovens para a profissão, lançando a discussão sobre os modelos de contratação pública de professores, bem como da descentralização das escolas. O nosso país continua a ser um dos poucos países europeus onde a colocação dos docentes cabe ao Estado e não às escolas. Como referido acima, é necessária a discussão de novos métodos de acesso à carreira de professor. Ora, um exemplo comprovativo de que o nosso sistema é burocrático é o facto de que quem quiser seguir a carreira de professor de Geografia no ensino público tem, especificamente, que optar pelo Mestrado em Ensino de Geografia, incapacitando quem tirou licenciatura nesta área, ou mesmo um Mestrado em Geografia e ordenamento do território, de percorrer esta carreira, sendo que ambas criam condições semelhantes ou até superiores para seguir a carreira de professor de Geografia, e especialmente a Geografia, que é um setor bastante envelhecido.

A falta de professores é um problema nacional e gera outros problemas. Atualmente em Portugal, há cerca de 100 mil alunos sem todos os professores atribuídos, e prevê-se que para o ano 110 mil alunos fiquem sem professores devido às reformas dos mesmos e que em 2025 o problema duplique, afetando cerca de 250 mil alunos.

Por fim, há que analisar esta situação a longo prazo, o futuro da educação não pode passar por uma escola sem professores, temos que refletir.  O que seríamos nós sem um professor? O que seria aquele empresário, advogado ou mesmo arquiteto a que tanto damos valor e seguimos como exemplo sem um professor? A realidade é que ninguém chega onde chega sem um professor. Um professor é essencial para todos nós, é essencial para crescer e especialmente para formar. Precisamos de professores, precisamos de garantir que as futuras gerações têm condições melhores daquelas que nós tivemos. Não podemos deixar os cidadãos do futuro à deriva, sem alguém que os guie. Os alunos não podem sair penalizados, tem de ser ajudados.