Depois de tantos anos em que alguns repetiram, de forma irresponsável, que havia professores a mais, Portugal enfrenta hoje dificuldades na substituição de professores e precisa de atrair jovens para esta profissão.

Historicamente, a crise de 2011-2014 ficará sublinhada pelo corte nos serviços públicos, especialmente na educação, perdeu-se cerca de 35 000 docentes, tanto pelo envelhecimento, como pelos cortes. Além disso, durante nove anos letivos interruptos, as carreiras dos professores foram congeladas, nomeadamente entre 2005 a 2007, retornando o mesmo fenómeno a partir de 2011 até ao final de 2017.

De 2015 a 2022, assistiram-se a recuperações, desde o crescimento do número de profissionais, onde ingressaram nos quadros mais de 10 mil professores, a uma maior vinculação por parte dos mesmos. Em 2018, 42% dos professores encontravam-se nos três primeiros escalões, enquanto hoje um terço dos professores está nos três patamares mais elevados da carreira. Em 2023, ainda está previsto serem gastos 76.5 milhões de euros na valorização salarial e 40 milhões de euros em progressões salariais, sendo que 22 milhões de euros serão utilizados para reintrodução de estágios remunerados, no acesso a esta profissão.

Todavia, o ano letivo 2022/2023 fica novamente marcado pela falta de professores nas escolas, prevendo-se um agravamento futuro deste fenómeno. Os quadros mantêm-se envelhecidos e o rejuvenescimento parece ainda estar muito longe.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo a Pordata, o número de diplomados em 2021 nos curso de educação foi de 3543 alunos, sendo que, se compararmos os mesmos dados das últimas duas décadas, constatamos que no início dos anos 2000 eram cerca de 12 mil os diplomados nesses mesmos cursos, os quais abrem portas para quem queira exercer a profissão até ao final do 3º ciclo.

A nível de matriculados, verificamos que há 20 anos atrás eram cerca de 50 mil os matriculados em cursos de educação, atualmente são cerca de 15 mil – um claro decréscimo tanto a nível de diplomados, como mesmo de matriculados. Ainda em 2021, 1593 indivíduos formaram-se em mestrado com habilitações profissionais para a docência, há 20 anos eram 5621 os “mestres”.

A carreira implora por um rejuvenescimento! Se não forem aplicadas políticas que promovam melhores condições e se mostrem atrativas, continuaremos a verificar pouco interesse por parte dos jovens, e os números tornar-se-ão mais drásticos.

Segundo o relatório Eurydice, com base nos dados TALIS 2018, em Portugal mais de dois terços dos professores com menos de 35 anos têm contratos a termo. Portugal classifica-se assim como o país na UE onde há mais docentes da faixa etária jovem com contratos a termo, cerca de mais 50% do que a média europeia. O que me faz constatar que um jovem que até gostaria de ser professor fica hesitante em ingressar na carreira dada a sua instabilidade, fracos salários, muitas vezes desinseridos da realidade da zona em que o docente trabalha. Ou seja, Portugal nos últimos anos não têm apostado na profissão em si, os jovens entram na carreira, mas sempre com a incerteza da efetividade, e ainda com a possibilidade de andar com a “casa às costas”.

Como jovem, acredito que a carreira teria mais ingressos se:

  1. Os professores não tivessem de ser submetidos à elevada burocracia causadora de stress, como a elevada carga de tarefas administrativas.

  2. O número de alunos fosse reduzido, visto que contribui para um melhor acompanhamento entre aluno-professor, dando maior espaço de lecionação aos docentes.

  3. Aumentos salariais: Portugal continua a ser um país com uma lenta progressão de carreira e com poucos incentivos salariais. Os nossos professores não se mostram satisfeitos – menos de um em cada dez professores encontra-se agradado com o seu salário.

  4. Reforçar os salários no início de carreira, Portugal continua a ser um dos países da UE onde os aumentos salariais não são significativos no início da carreira.

  5. Revisão do modelo de recrutamento, evitando que haja professores com “a casa às costas”.

Concluo, enaltecendo que a luta por esta profissão tem de ser levada com seriedade, é fulcral lutar pelos jovens que pretendem ser professores, não só para garantir um melhor futuro para o nosso país, como para os futuros jovens.