Marta Temido é a primeira mulher a vencer eleições nacionais em Portugal. É uma vitória individual, da relação de confiança que a Marta desenvolveu com os portugueses, coletiva, de todos os socialistas que se bateram por este resultado, com certeza, mas mais do que isso, é uma vitória da luta pela emancipação e pela igualdade.

Nestas últimas eleições de dia 9 de junho, um pouco por toda a Europa a extrema-direita reforçou-se. Em França, a União Nacional de Jordan Bardella venceu (e venceu em grande), com quase o dobro da votação do partido de Emmanuel Macron. Na Bélgica, Vlaams Belang, partido de extrema-direita e anti-imigração, acabou em segundo lugar logo atrás dos conservadores nacionalistas da Nova Aliança Flamenga; Já na Alemanha, o partido Alternativa para a Alemanha (Afd), de extrema-direita, fica em segundo, à frente de todos os partidos que estão no Governo. Por cá, venceu a Marta. Mulher, feminista, progressista e humanista. É uma diferença de sobremaneira.

Ainda assim, se é verdade que neste jardim à beira-mar plantado, ao longo dos anos, temos vindo a avançar na igualdade de oportunidades e de direitos, também é verdade que estamos longe de a conseguir em pleno.

Somos pagas da mesma forma que os homens? Não. Temos a mesma progressão na carreira que os homens? Não. Seria bom que em 2024 a resposta fosse um sim, mas continuamos longe de o poder dizer. Pois, então vejamos: as mulheres ganham, em média, 11,4% menos do que os homens pelo mesmo trabalho e esta estatística não é apenas um número, mas antes o reflexo de uma sociedade que ainda não valoriza o trabalho das mulheres de forma igual. Para além disso, as mulheres dedicam, em média, 1,5 horas a mais por dia em tarefas domésticas e cuidados familiares do que os homens, num trabalho que não é pago e muitas vezes é invisível.

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E podemos ainda falar da sub-representação de género em posições de liderança. Um estudo da consultora Informa D&B diz-nos que a presença das mulheres nas empresas diminui à medida que a responsabilidade dos cargos aumenta, bem como quanto menor for a empresa.

E já que cá estamos, então e violência de género? Segundo dados do INE, aproximadamente 20,1% de pessoas entre 18 e 74 anos já foram vítimas de violência física ou sexual, sobretudo as mulheres, que são as mais afetadas pela violência em contextos íntimos; o relatório de 2023 divulgado pela PGR, sobre os homicídios em ambiente de violência doméstica, indica que 22 pessoas foram assassinadas, das quais 17 eram mulheres, e 2 crianças do sexo feminino.

Afinal, igualdade para quem e para quando? Quando nestas eleições outras candidaturas e outros cabeça de lista insistiam, de forma atrapalhada, em não se comprometer com diretos fundamentais, como a inclusão da IVG na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia, a Marta demonstrou estar do lado certo da história. Porque sim, os direitos das mulheres são direitos humanos e negar esta consagração é significado de contribuir para o atraso na conquista de direitos de mulheres por toda a Europa – como na Polónia, onde as mulheres polacas todos os dias acordam a saber que têm a sua liberdade violada pelo sistema que as deveria proteger.  Nas ruas crescem os movimentos ativistas em defesa dos direitos, mas por enquanto, somam-se as mortes de mulheres nos hospitais. Perante tudo isto, ao invés de esperar pelos Estados-Membros que ainda resistem à consagração deste direito em legislação nacional, não deve ser a UE a dar o pontapé de saída e liderar o caminho pela igualdade?

Numa Europa onde a extrema-direita cresce precisamos de mais Martas, pelos direitos, pelo progresso, pela esperança que todos os dias renova o compromisso com o progresso e o humanismo. Quero acreditar em Portugal como um pequeno sinal de esperança para a Europa. No ano do cinquentenário do 25 de Abril, da liberdade, aqui, venceu a empatia!