Um dos grandes problemas da sociedade portuguesa é a crença de que é preciso tirar de um lado para pôr no outro. Demasiadas pessoas estão agarradas à convicção de que um só pode ficar mais rico se outros ficarem mais pobres.

Virando assim costas, enquanto sociedade, ao enriquecimento, vivemos aprisionados num ciclo de pobreza e crescente dependência de apoios, subsídios e empregos do Estado, crentes que só as políticas socialistas poderão socorrer os mais frágeis. Comprovadamente, a maior percentagem dos eleitores activos em Portugal é refém desta armadilha de raciocínio e das consequências políticas das suas escolhas. Mais e mais Estado. Mais e mais dependência, menos e menos sector produtivo. Menos e menos dinheiro para todos. Menos e menos esperança e felicidade.

Quase 50 anos depois do fim da ditadura, quase 50 anos de alternância governativa PS/PSD, com ou sem outros parceiros no crime, temos um país onde 20% da população está em situação de pobreza.

Mais de metade dos pobres em Portugal são pessoas que trabalham. E não, não são os precários que estão em maior número, são os efectivos. Esta realidade, inesperada e inquietante, foi agora exposta através do estudo “Pobreza em Portugal – Trajectos e Quotidianos”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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O raciocínio imediato é culpar os empresários por pagarem pouco e concluir que a solução será obrigá-los a aumentar os salários. Verdade? Parece lógico, mas só piora a situação. Uma análise do tecido empresarial português explica esta afirmação.

Em 2019, Portugal contava com 99% de PMEs, em que 96% das empresas eram microempresas. Mais de metade dos empresários portugueses vivia na corda bamba. Às vezes, com lucro, outras vezes, endividando-se para não deixar morrer o negócio. Em 2020, chegou a Covid que colocou Portugal no top do aumento das insolvêncas da Zona Euro.

É fácil perceber que a imposição de aumentar salários tem como consequência ainda mais fechos de portas, retirando, quer a empresários, quer a funcionários, o seu sustento.

Portugal tem um clima fantástico, um povo acolhedor, uma gastronomia deliciosa e saudável. É um dos países mais seguros do mundo. Tem acessos e internet razoáveis. Fisicamente, há espaço para acolher mais empresas e indústrias. Uma geração bastante qualificada e verdadeiros casos de sucesso em inovação e investigação. Afinal de contas, os Portugueses são ou não são os heróis do desenrascanço?

Já é mais do que altura de aproveitarmos as nossas valências e dar reais oportunidades para os nossos trabalhadores saírem da pobreza. Para isso precisamos de mais empresas, mais postos de trabalho e mais produção.

Aquele vizinho que sonha há anos com o seu próprio negócio precisa de sinais claros de que vale a pena arriscar as suas economias e o seu tempo para criar algo que lhe venha a dar melhores condições de vida. Se for bem sucedido, e o seu projecto crescer, irá criar riqueza e postos de trabalho que beneficiarão toda a sociedade.

Também um investidor estrangeiro não vai decidir instalar a sua empresa em Portugal pelas belas sardinhadas no Verão. Este e outros empreendedores serão estimulados pela simplicidade e estabilidade fiscal, pela simplicidade legislativa e burocrática, por impostos menos demolidores, por uma Justiça rápida, ordenados compatíveis com a produtividade e leis do trabalho mais flexíveis. Se pensarmos bem, não é impedindo os despedimentos que se conseguirão mais e melhores empregos.

Cada vez mais, uma rápida capacidade de adaptação será um factor diferenciador de competitividade. As leis que desligam a produtividade da garantia do posto de trabalho negam a oportunidade de readaptação das empresas aos diversos factores que as condicionam. Consequências? Uma maior fragilidade das empresas e algumas insolvências. Assim como menos postos de trabalho e menos contratações. Além de dissuadir muitas empresas de se instalarem em Portugal, onde contratar alguém é quase um compromisso para a vida. É incontornável o receio sentido pelos empresários portugueses, que a contratação prejudique a dedicação e compromisso manifestados por determinada pessoa numa fase experimental. Consequências? Menos empresas e postos de trabalho. Inibição de novas contratações.

Na melhor das hipóteses, impedindo os despedimentos obtém-se uma estagnação dos actuais postos de trabalho. E assistimos a gerações e gerações de pessoas condenadas ao emprego que conseguiram arranjar, gostem ou não, com medo de não conseguirem encontrar outro.

É importante percebermos que a flexibilização das leis laborais representa também a flexibilização das contratações, o que resulta numa maior taxa de pessoas empregadas. A cada momento, mais pessoas têm oportunidade de mostrar o que valem e de encontrar uma equipa de trabalho com quem se dão bem, o emprego que as faz feliz.

É inegável que há opções políticas que incentivam o crescimento da economia dando oportunidade de uma vida melhor a uma maior percentagem da população. Há outras que, mascaradas de uma vertente social, nunca se concretizam com sucesso e sistematicamente nos derrubam, tolhendo a nossa energia e felicidade. Quais as políticas que queremos continuar a seguir?