Comecei a fazer voluntariado aos 16 anos. Achava que tinha muito tempo livre no verão e inscrevi-me como monitora de colónias de férias. A partir daí, nunca mais parei. Durante cinco anos, dei aulas semanais de artes plásticas num bairro social e, na altura da faculdade, fiz parte da tuna e do G.A.S. Porto – Grupo de Ação Social, onde estive num centro de ocupação para pessoas com deficiência. Hoje, e desde 2013, dedico a minha vida aos Transformers, um movimento constituído por mentores dos 16 aos 64 anos, na sua maioria voluntários, que querem transformar o mundo, começando pelo nosso país.

Portugal continua a ter baixos níveis de voluntariado. De acordo com o “World Giving Index” da Charities Aid Foundation, a taxa de voluntariado nacional, em 2018, foi de apenas 28%, o que equivale ao 83.º lugar no ranking mundial. O documento avalia ainda outros indicadores, como “ajudar um estranho”, “doar dinheiro para caridade” ou “tempo de voluntariado”. Com exceção do primeiro critério, em que Portugal figura no 76.º lugar da tabela, nos dois restantes indicadores o cenário é ainda pior (ocupamos a 93ª e a 94ª posição, respetivamente).

A participação cívica e social é um indicador muito importante no que diz respeito ao desenvolvimento da vida em sociedade. Nos Transformers, por exemplo, quando as pessoas não se envolvem, não é porque não querem, mas porque muitas vezes ainda não encontraram a sua forma efetiva de fazer a diferença. E, quando encontram, nem sempre é no contexto onde vivem. Acredito muito nisto porque quase tudo o que aprendi sobre competências sociais e de gestão emocional e de pessoas, aprendi em atividades de voluntariado, e não na faculdade ou em cursos superiores.

Mas, ainda a propósito do contexto nacional, o voluntariado em Portugal está obsoleto. A lei de bases do enquadramento jurídico desta atividade é de 1998 e precisa de ser revista o quanto antes. Enquanto não profissionalizarmos o voluntariado, este não vai ser atrativo, nem reter talento. Esta é uma área que tem de ser avaliada, tem de ser medida e tem de se regular, para ter impacto positivo. O voluntariado tem de ser sério e tem de prever, para cada organização, que os direitos e deveres dos seus voluntários sejam comunicados e transparentes. Por exemplo, se houvesse fiscalização nas organizações que acolhem voluntários, acredito que 90% delas fechariam por falta do bem mais básico de todos: um seguro de voluntário. De facto, não há nenhuma entidade que faça a supervisão dos programas nacionais.

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Outro aspeto importante, e que exige alguma ação e reflexão, tem a ver com a distinção entre o voluntariado e o trabalho remunerado. Os voluntários nunca hão-de substituir o trabalho pago, porque voluntariado prevê trabalho desinteressado. Por isso é que é tão difícil reter bons voluntários, sobretudo quando não há um plano individual e coletivo para essas pessoas, para que se possam sentir ouvidas e parte das decisões. O voluntariado deveria pressupor o conhecimento acerca do perfil necessário e das tarefas a desempenhar, por parte das organizações e, mais importante que isso, formação adequada para as funções. Mas o trabalho desarticulado que se verifica em muitos dos casos não deixa espaço, nem tempo, para se profissionalizar esta área.

O voluntariado profissional pode, e deve, gerar impacto. Se as pessoas se juntarem por causas, tudo se tornará muito mais interessante.

Movimento Transformers