É provável que no final do dia, depois de muitas horas de trabalho, se sinta cansado e com dor nas costas. Ou que quando se baixe, para pegar num determinado objeto, dê um jeito na coluna que o força ao saco de água quente e a uma estadia mais demorada no sofá. Custa, não custa?
A 16 de outubro celebra-se o dia mundial da coluna e, para que os seus filhos não tenham de passar por situações semelhantes num futuro mais próximo do que julga, o Observador reuniu uma série de conselhos com base na experiência de dois especialistas: Anabela Nabais, neurocirurgiã associada à campanha Olhe pelas suas costas, e o psicólogo de educação e docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada José Morgado.
Da promoção de uma postura acertada (dentro e fora da sala de aula) ao peso ideal da mochila de escola, deixamos ficar um conjunto de propostas para evitar as dores de costas dos mais pequenos. Porque prevenir ainda é o melhor remédio.
1. A mochila de escola não pode pesar mais do que 10% do peso total de uma criança, diz Anabela Nabais. Os pais têm de fazer as contas e ver quanto pesam os filhos e as malas que estes transportam no dia-a-dia: se a criança pesar 20 quilos, por exemplo, a mochila não pode ter mais do que dois quilos. O excesso de peso contribui para uma sobrecarga na coluna e nos discos que, apesar de não se notar nesta fase da infância, mais tarde pode trazer problemas. José Morgado corrobora a ideia e refere ainda um estudo de 2011, coordenado pelo pediatra Mário Cordeiro, que diz que sete em cada dez crianças na cidade de Lisboa, entre os 6 e 13 anos, usam mochilas com um peso superior ao suposto.
2. Não é só o peso da mochila que está em causa, mas também a forma como esta é transportada. Caso não seja corretamente colocada nas costas, com as duas alças devidamente ajustadas sobre os ombros, pode provocar deslizamentos ao nível da coluna e o surgimento de escoliose (desvio lateral da espinha dorsal), assegura a neurocirurgiã.
3. Além da recomendação óbvia — o seu filho tem de estar sentado de forma correta sempre que possível –, quando ao computador ele deve olhar para o terço superior do monitor, sendo que o ecrã não pode estar numa mesa nem muito baixa nem muito alta, mas sim a uma altura proporcional à do olhar da criança.
4. Os cuidados com a coluna devem ser levados para casa, tal qual um TPC. “Muitas vezes as crianças fazem os trabalhos de casa em cima da cama, com o lápis numa mão e uma perna em cima da almofada”, comenta Anabela Nabais. Os jogos de computador também estão em sobreaviso por causa das posições que os mais pequenos adotam na hora do entretenimento. É ter atenção.
5. Nenhuma atividade extracurricular é perigosa, desde que devidamente orientada. Não se pode impedir uma criança de fazer karaté ou judo (apesar de existir mais risco para as costas), mas a natação é mesmo a melhor proposta porque ajuda a manter a coluna perfeitamente alinhada, além de trabalhar e reforçar os músculos que se encontram à volta da coluna — quanto mais forte estiverem esses músculos, chamados paravertebrais, melhor é o sustento que é dado à parte óssea;
6. Como convencer uma criança a fazer tudo isto? O psicólogo de educação José Morgado recomenda uma estratégia específica para a desejada mudança de comportamento: incentivar, reforçar e apoiar as atitudes corretas. Resumindo, chamar a atenção de uma criança quando esta apresentar a postura ideal e explicar-lhe o porquê (a situação descrita depende da idade da criança, até porque não se deve infantilizar um adolescente). O importante é saber não desistir, pelo que o incentivo deve ser feito ao longo do processo de aprendizagem.
7. E porque o óbvio nunca é de mais: promova a atividade física dos mais pequenos, de modo a evitar o sedentarismo, e um estilo de vida saudável acompanhado de uma correta alimentação.