Ponto final na investigação forense mais antiga do Reino Unido. As ossadas encontradas em 2012, por baixo de um parque de estacionamento, são mesmo de Ricardo III, o último rei inglês morto em combate, conta o El País. Este bombom para os amantes da História vem com uma revelação bombástica: levantam-se dúvidas sobre a legitimidade da sucessão da realeza britânica. Sim, até para a Rainha Isabel II.

Uma coisa de cada vez. Ricardo III, uma das figuras retratadas com pouca simpatia por Shakespeare, subiu ao trono em 1483, após a morte do irmão, Eduardo IV, cujos filhos desapareceram. Há teorias que sugerem que Ricardo III os assassinou, para não ter problemas em ascender ao poder (ver aqui). A fama deste senhor, imortalizada pelo escritor que mudou o mundo das palavras, descreve alguém brutal, impiedoso, sem olhar a quê e a quem para cumprir os seus objetivos. “Déspota odioso”, é assim que o El País situa o tom de Shakespeare.

Morreu com 32 anos, na Batalha de Bosworth, aos pés de Henrique Tudor, que se transformaria em Henrique VII. Perdeu o trono somente dois anos depois de o ganhar (1483-1485). Esse conflito marcou o fim da dinastia Plantagenet, que deu lugar à Tudor, à qual pertence a atual rainha. Rei morto, rei enterrado algures na Igreja Greyfriars, hoje no centro de Leicester, onde nasceria o tal parque de estacionamento. Henrique VII, com a humilhação e o esquecimento do antecessor em mente, mandou destruir a igreja. Seria o fim desta história.

Mas não foi. Uma investigação da Universidade de História da Universidade de Leicester confirmou agora que os ossos encontrados no local onde fora uma igreja são mesmo de Ricardo III. Afinal, o rei não era corcunda, como soava nas descrições de Shakespeare. O homem que esteve apenas dois anos no poder sofria sim de escoliose (desvio na coluna). Sempre pintado pelos cientistas como alguém “invulgarmente belo, quase feminino”, há porém uma novidade quanto à estética deste homem: os genes prometiam um cabelo loiro e olhos azuis, algo que não se chegou a confirmar.

Num outro texto do El País, de fevereiro de 2013, é contada a história de um carpinteiro canadiano, que se transformou num dos protagonistas da investigação. É que se descobriu que Michael Ibsen, de 55 anos, pertence à 17.ª geração de descendentes de Ana de York, a irmã de Ricardo III. Mais: o ADN deste carpinteiro de sangue azul corresponde aos ossos retirados da igreja que outrora morou no centro de Leicester.

E descobriu-se mais alguma coisa? Sim, algo que promete agitar as águas no Reino Unido. A investigação aos genes mitocondriais demonstrou que o DNA de Ricardo III não corresponde ao dos parentes que estão vivos, o que significa, como explica o El País, que num determinado momento da história aconteceu algo que não era suposto: uma relação adúltera, quebrando assim a linha de sucessão. Não deverá ser viável investigar onde houve esta quebra, pois falamos de 19 ligações em cima da mesa. É verdade que desvendar todo este enigma seria pertinente, mas a dúvida e a suposição não deixam de ser saborosas…

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