Ao contrário da história da galinha, no caso do negócio aberto por Filipa Cordeiro e Maria Dagnino, é facil saber o que veio primeiro: foi o ovo mole. As duas sócias e amigas, ligadas à área da comunicação e produção de eventos, trocaram um emprego numa agência para se dedicarem a um novo projeto: “trazer os ovos moles de Aveiro para Lisboa”. Depois de se estrearem com um quiosque no Mercado de Campo de Ourique, em Lisboa, acabam de abrir uma Casa dos Ovos Moles em Lisboa não muito longe da localização original: na Calçada da Estrela, a dois passos do jardim e da basílica.

A montra que se vê do elétrico 28, daquelas antigas e com a estrutura em ferro onde em tempos se pousaram os detergentes de uma drogaria, fechada há dez anos, é um espelho do que está lá dentro: ovos moles de Aveiro, em versão hóstia (1,05€) ou copo (1,80€), mas também todo um desfile de doçaria conventual, da trouxa de ovos das Caldas da Rainha (2,20€) ao Fidalgo de Évora, um bolo que leva — não é brincadeira — 180 ovos na sua composição.

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O Fidalgo, devidamente elevado e em grande plano. © André Correia

A ideia do negócio é fácil de explicar: “Identificámos um dos poucos nichos que estava a crescer durante a crise, o turismo, e cruzámo-lo com a doçaria conventual”, diz Filipa Cordeiro. “Não havia uma montra em Lisboa que reunisse tudo, o que era surpreendente porque estamos a falar de receitas que, nalguns casos, existem há 500 anos.”

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Para abrir a Casa dos Ovos Moles em Lisboa, onde a cor dos azulejos condiz com a das gemas, as duas sócias tiveram de estudar, viajar e fazer o sacrifício de provar todo o tipo de doces conventuais. Foram a feiras regionais, contactaram a APOMA (Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro), e fizeram uma espécie de história desta doçaria: “Quando as freiras entravam nos conventos, tinham de prometer sigilo, pelo que as receitas foram passando de poucas em poucas mãos e ainda hoje são feitas artesanalmente por pequenos produtores em pequenas cozinhas onde há dias que são passados a separar as gemas das claras”, conta Filipa. A título de curiosidade, os próprios doces começaram com esta divisão: “nos conventos usavam as claras para engomar os hábitos e por isso as receitas nasceram para aproveitar as gemas. Cada convento começou a testar fórmulas com os seus produtos autóctones — uns juntavam amêndoa, outros gila –, e assim foram nascendo as diferentes receitas que ainda se comem hoje em dia.”

Do queijinho do céu que vem de Évora ao pão-de-ló de Ovar, passando pelo Dom Rodrigo (2,50€) do Algarve, o pastel de Santa Clara (2€) de Coimbra, o rebuçado de Portalegre (1,40€), o pastel de Tentúgal (1,70€) e o pudim abade de priscos de Braga, a Casa dos Ovos Moles em Lisboa propõe um roteiro para segurar com um guardanapo que vai de norte a sul do país. “Vemos a loja como uma embaixada que põe nas bocas do mundo a nossa glória doceira”, diz Filipa, concluindo: “Os turistas têm um nome na cabeça que é o pastel de nata, mas entram aqui e de repente ele passa para segundo plano.”

Nome: Casa dos Ovos Moles em Lisboa
Morada: Calçada da Estrela, 140-142 (Lisboa)
Telefone: 91 930 3788
Horário: Terça a sexta das 10h00 às 19h00; Sábado e domingo das 10h30 às 19h00