A tecnológica norte-americana TripAdvisor anunciou esta quinta-feira que adquiriu a startup portuguesa BestTables, plataforma web que permite a reserva de mesas em restaurantes em tempo real, através do site ou da app, gratuita e disponível para iPhone e sistema operativo Android. O valor da transação não foi divulgado.

Em 2013, Ricardo Sécio e Sérgio Sequeira, promotores do projeto, iniciaram uma estratégia de internacionalização, com o Brasil como primeiro destino. O investimento para avançarem chegou através de uma parceria entre a empresa de capital de risco Shilling Capital Partners e outro investidor particular. Em dois anos, investiram cerca de 230 mil euros em troca de cerca de 17% do capital social.

“A BestTables já era uma empresa quase líder de mercado em Portugal, em termos de reservas online, e vimos que havia ali potencial para expandir. Era uma plataforma muito sólida, que tinha um modelo de negócio que achávamos interessante: os restaurantes pagam uma comissão variável proporcional ao número de pessoas que faz reservas através da plataforma”, explica Hugo Pereira, partner da Shilling Capital Partners, ao Observador.

O facto de empresas concorrentes, como a norte-americana Open Table, terem crescido muito rapidamente em anos anteriores também contribuiu para a aposta da Shilling na BestTables. “Percebemos que havia falta deste tipo de serviços noutras regiões e que a penetração de reservas online nos EUA alcançava os 20 a 30%. Em Portugal, alcançava 2%. Havia grande margem de progressão. E as tendências chegam mais tarde a Portugal, mas acabam sempre por chegar”, acrescentou.

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Sérgio Sequeira, da BestTables, e Hugo Pereira e António Casanova, da Shilling Capital Partners

A entrada da BestTables no Brasil, em parceria com uma empresa brasileira, fez “algum sucesso” junto daqueles que são os restaurantes de topo, conta Hugo Pereira. Além da plataforma de reservas, a empresa desenvolveu um sistema de gestão de reservas, o Best Manager, e tudo isto fez com que os restaurantes que tinham parcerias com startups locais começassem a mudar para a BestTables.

A integração do BestTables está a ser efetuada pela equipa de gestão do TheFork, uma marca TripAdvisor, que é a principal plataforma de reserva de restaurantes em França, Espanha, na Bélgica, em Itália e na Suíça, segundo a Bloomberg. “Portugal e Brasil são mercados importantes para nós e a empresa será uma adição valiosa enquanto continuamos a fortalecer a nossa oferta de restaurantes”, afirmou Bertrand Jelensperger, presidente do TheFork.

Portugal, um dos países “mais interessantes” para criar startups

Com a empresa em crescimento no Brasil, Ricardo Sécio e Sérgio Sequeira começaram à procura de um novo investidor, mas os sócios brasileiros informaram que a TripAdvisor “estava no mercado”. Ricardo Sécio enviou um email a apresentar a startup e houve interesse por parte da tecnológica norte-americana.

“Achámos que era uma boa altura para sairmos do mercado, que se estava a consolidar. Começa a haver uma luta de gigantes e nós não tínhamos recursos para fazer-lhes frente”, conta Hugo Pereira.

A notícia da compra da BestTables chega cerca de um mês depois de a portuguesa Farfetch ter sido avaliada em mil milhões de dólares. “As coisas estão definitivamente a mudar. Portugal tornou-se num dos países mais interessantes para criar startups na Europa, por um misto de razões “, disse Hugo Pereira. Trabalhadores qualificados a um custo competitivo, o nível de inglês, as infraestruturas tecnológicas ou o facto de Lisboa se ter tornado num destino turístico “popular” são alguns dos pontos de interesse sobre Lisboa, segundo o investidor.

Hugo Pereira diz que o país está a viver uma altura única para investir. “Há dois anos era muito difícil convencer investidores de topo do Reino Unido, por exemplo, a virem cá. E hoje já vimos pessoas dos melhores fundos a virem cá perceber o que estamos a fazer“, acrescenta.

Desde o início do ano, a TripAdvisor adquiriu quatro empresas. Além da portuguesa BestTables, comprou a italiana Restopolis, a norte-americana Zetrip e a holandesa Iens. Em 2014, efetuou quatro aquisições.