O ex-reitor da Universidade de Lisboa e candidato presidencial acredita que vai haver “uma enorme revolução no espaço da escola” que acabe com os atuais currículos, que aumente o rácio professor/aluno e que coloque no centro a educação para todos.

António Sampaio da Nóvoa falava durante a conferência “Pensar a Educação Portugal 2015”, que tem como objetivo apresentar o trabalho de um grupo de académicos que resultou de um ano e meio de reflexão sobre a educação e que estes querem ver transformado num projeto educativo politicamente consensualizado para os próximos anos.

“Trata-se de tentar reconstruir, através deste relatório, um novo consenso em torno da educação. Neste consenso de futuro há necessidade de ume enorme revolução no espaço da escola”, afirmou.

No centro dessa revolução, duas ideias-chave: “todos” e “futuro”, destaca António da Nóvoa, explicando que todos é “uma escola inclusiva que consiga responder às necessidades de todas as crianças”.

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“Para isso, a escola vai mudar brutalmente nos próximos 20/30 anos, mais do que mudou nos últimos 300”, afirma, acrescentando que “o modelo escolar fixo, fechado na sala, com determinada política e currículo, com um professor para um grupo de aluno, tudo vai estar em mudança, em revolução”.

Segundo António Nóvoa, a escola do futuro “vai ser uma escola sem quadro negro, sem currículo estruturado, sem um professor apenas para vários alunos, uma escola que vai mudar nas próximas décadas, é uma revolução que está em curso em várias partes do mundo”.

A ideia é construir espaços públicos de educação, muito mais amplos do que a escola, espaços também designados como “territórios educativos” ou “cidades educadoras”, mas que para o reitor o importante é a sua essência, a abertura do espaço escolar.

Mas para este consenso, “é preciso investimento na educação e que todas as crianças tenham direito à educação”, lógica que, na opinião de António Nóvoa, tem vindo a ser abandonada desde o início do século XXI.

“Vários discursos de elites que começaram a revelar cansaço de tanta educação, de tanto investimento na educação e de que é preciso educação para todos. Por volta de 2000, começou a haver “dois discursos (que escondem um cansaço do discurso da educação): o de que estamos a gastar muito, demais para os resultados que temos, e o da exigência e do rigor, um discurso autoritário sobre a educação”.

Para o responsável, estes dois discursos juntos “produzem a lógica seletiva, de exclusão e não de inclusão”.

O reitor criticou ainda a forma “como se tratou os professores” e como se criaram políticas contra os professores.

António da Nóvoa defende assim uma “política de inclusão e de tentar que todos tenham sucesso na escola”, e aí encontrem “o espaço de felicidade e realização”, mas também a necessidade de sentido crítico e mais professores.

“Foram dos grupos profissionais mais mal tratados e mais encostados à parede nos últimos dez anos ou mais. Os professores têm que estar no centro para nos dotarmos, como país das décadas que aí vêm”, afirmou.

A propósito desta nova ideia de escola defendida, o responsável terminou citando o pensador e pedagogo António Sérgio, para mostrar que afinal não é assim tão nova, pois este já defendia “uma escola útil para a vida”, em que o mais importante é o conhecimento das coisas e da vida, porque “uma carneirada escolar dá uma carneirada administrativa, e um decorador de compêndios, um amanuense”.