Uma família portuguesa vai ser deportada do Canadá no próximo dia 05 de julho, mas aguarda ainda uma decisão judicial sobre o pedido para que possa permanecer no país.

Carlos Araújo, de 47 anos, emigrou para o Canadá em março de 2007. Um ano mais tarde, a sua esposa, Rosa Araújo, de 45, e os seus dois filhos, de 11 e 17 anos, juntaram-se a ele numa ‘cruzada’ que parece ter os dias contados.

“Em Portugal estava a ficar complicado, não havia muito trabalho, tínhamos comprado uma casa há pouco tempo. Um familiar arranjou-me trabalho, a minha esposa veio cá ter um ano depois com os meus filhos”, começou por explicar o emigrante.

Após sete anos com o respetivo visto de trabalho aprovado, em 2014, o Governo federal decidiu não renovar o visto, o que levou o emigrante a trabalhar ilegalmente para “conseguir sobreviver”.

Mas numa operação de fiscalização de verificação por parte da Agência dos Serviços de Fronteiras do Canadá (CBSA, sigla em inglês), a 15 de julho de 2004, Araújo foi detetado numa viatura, e recebeu ordem de deportação.

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“No ano passado o meu marido foi apanhado numa operação ‘stop’. Esteve detido um dia e meio, pagámos três mil dólares (2.169 euros) de fiança. Deram a cada um de nós três meses para recorrermos, mas foi novamente negada a nossa permanência no Canadá. Depois informaram-nos que íamos ser deportados. Temos de deixar o país no dia 5 de julho”, lamentou Rosa Araújo.

A família também sublinhou que entre 2007 a 2014 contribuiu com cerca de 100 mil dólares (72.310 euros) em impostos, situação que ainda causa mais revolta à família.

“Sempre pagámos impostos. Só não estamos legais porque não tínhamos o contrato aprovado. Foram mais de 100 mil dólares e temos documentos que o provam, tudo em dia”, frisou a mulher.

Durante este período, Carlos Araújo já tentou por diversas vezes efetuar o processo para a residência permanente, mas o “difícil teste linguístico” foi a principal barreira, isto apesar de frequentar um curso profissional de inglês com certificação.

Segundo o programa Federal Skilled Trades (FST), para se tornarem residentes permanentes, os imigrantes têm de passar num teste linguístico de inglês bastante exigente.

“Os responsáveis desse curso disseram-nos que o inglês que ele sabe é suficiente para trabalhar”, disse Rosa Araújo.

Outra das preocupações do casal são os dois filhos. O de 11 anos que chegou ao Canadá com quatro anos e agora “pouco português fala e escreve”. O mais velho, de 17 anos, vai “ter de fazer a escola” em Portugal.

“Estamos aqui para que os nossos filhos tenham um futuro melhor. É a única coisa que pedimos. Estamos com a deportação marcada, mas estamos a trabalhar e a descontar, tal como se estivéssemos legais. Não sabemos o que fazer para que o primeiro-ministro reconheça que está errado”, referiu o casal.

No dia 30 de junho, o casal irá apresentar-se no Tribunal Federal do Canadá num processo liderado pelos advogados Rocco Galati e Richard Boraks, que vão tentar que os emigrantes possam “permanecer no Canada”.

“O tribunal vai decidir se a família Araújo vai ter dificuldades em caso de regressar a Portugal. Normalmente, as dificuldades não significam questões económicas. O tribunal não vai permitir que o Sr. Araújo fique no Canadá simplesmente porque pode haver problemas económicos em Portugal”, disse Richard Boraks, advogado especialista em questões de imigração.

O advogado Rocco Galati, que vai defender a família Araújo em tribunal, vai argumentar que no dia 27 de fevereiro de 2015 o Tribunal Federal decidiu “que o ministro (da Imigração) agiu de má-fé na sequência da revisão do pedido de visto”, e que não pode expulsar a família antes do ministério (da Imigração) analisar o requerimento de legalização”.

Outro dos argumentos do advogado será que é do “melhor interesse que as crianças” fiquem no Canadá, apresentando também a questão de que o fundo de pensão “deve dinheiro” ao emigrante, daí que é “necessário que permaneça” no país para poder lutar para reaver esse dinheiro.

Existem no Canadá 429 mil portugueses e lusodescendentes segundo os censos de 2011, mas as estimativas não oficiais apontam para 550 mil, estando a grande maioria localizada no Ontário.