São três assassínios, recordados pelo El Confidencial, que atravessaram o tempo e chegaram ao presente com mais pontos de interrogação do que respostas. Os contornos destas histórias são sangrentos e uma grande sombra levantou-se sobre os seus autores. Houve suspeitos, mas nunca houve certezas. E o passar do tempo levou-os a escapar ao castigo. Pegue na lupa: quem terá morto Joseph Bowne Elwell, Luciana Borcino e Mary Rogers?

O mistério da porta fechada de Elwell

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A Marshal Cavendish Weekly lançou um livro onde conta a história da investigação sobre a morte do jogador de bridge Elwell.

11 de junho de 1920. O famoso jogador de bridge Joseph Bowne Elwell é encontrado morto aos 44 anos em casa, de pijama vestido. Estava sentado numa cadeira com um tiro de revólver calibre 45 na testa. Em cima da mesa, a bala que lhe roubou a vida. O chão coberto de cartas seladas, exceto uma que falaria sobre negócios. Um cigarro meio fumado pousado no cinzeiro. E a porta fechada… por dentro.

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Este foi o cenário que a empregada doméstica encontrou quando se deparou com o corpo de Elwell, às 8h30 do dia seguinte, conta o El Confidencial.

A casa estava cheia de dinheiro e materiais de elevado valor, incluindo quadros de Rembrandt. Mas nenhum desses bens foi levado: estava tudo intacto. Os vizinhos garantem que ninguém entrou em casa depois das 3h45 da manhã, hora a que Elwell chegou. Tinha estado a jantar com amigos magnatas e esperava a chegada de uma visita feminina na manhã seguinte, mas Florence Ellenson só apareceu tarde demais.

A lista de suspeitos do crime foi enorme. Eram mil os suspeitos, entre os maridos traídos das mulheres com quem o jogador mulherengo manteve relações. Porque, apesar da frieza, Elwell fazia com que o mundo feminino se sentisse atraído por ele, sublinha o New York Daily News. Que alguém tivesse uma chave suplente não era de estranhar: conta-se que Elwell teve pelo menos cinquenta mulheres.

Mas como é que a casa foi fechada por dentro e o assassino ficou fora dela?

Um ano depois da morte, um homem declarou-se autor do crime. Mas ninguém lhe deu crédito, por ser um lunático. E até hoje não há resposta para o mistério da porta fechada de Elwell. A polícia acredita que a posição em que o jogador foi encontrado sugere que o assassino deve ser alguém que conhecia bem Elwell e com quem conversaria regularmente.

O mistério da rua Fuencarral

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O crime da rua Fuencarral fez manchetes nos jornais da época.

Estamos em Espanha. Luciana Borcino é uma viúva tão respeitada quanto temida em Madrid. Tinha uma personalidade solitária e independente. É assim que a descreve o site Gorgas.

Há seis dias que morava com uma assistente pessoal chamada Higina Balaguer, uma mulher de 28 anos que se envolveu com vários homens e que tinha traços de mitomania. Era tão inteligente como maliciosa, mas naquela altura seria apenas mais uma empregada que tentava satisfazer as necessidades da difícil Luciana.

A 2 de julho de 1888, os vizinhos chamam a polícia em pânico: o corpo de Luciana Borcino ardia dentro de casa, em plena rua Fuencarral. A rua tinha acordado de madrugada com gritos e fumo vindo da casa da viúva: quando o porteiro entrou no andar com um polícia, Luciana estava deitada junto à cama com meio corpo queimado. No ar, um cheiro a carne queimada.

Higina, essa, estava desmaiada no chão na cozinha junto com um cão. Quando acordou, a empregada de Luciana não conseguiu dar muitas informações à polícia. Lembrava-se de a patroa lhe ter pedido que fosse para os seus aposentos, e que estava acompanhada por um homem. Mas este ataque de amnésia não convenceu as autoridades e Higina foi detida como principal suspeita, relembra o El Confidencial.

A autópsia provou que a mulher foi morta com três punhaladas nas costas, uma da qual perfurou o coração. O fogo surgiu depois, quando Luciana já estava morta. Tudo parecia indicar que a culpada do crime era Higina. O padre da região, que era também o diretor da prisão modelo de Madrid, sugeriu à empregada que confessasse para salvar a vida.

Mas uma outra teoria chegou à vizinhança: e se morte de Luciana tivesse sido provocada pelo filho da mulher? José Vázquez-Varela tinha 23 anos e toda a gente sabia da tendência do jovem para a violência: tinha mesmo ameaçado a mãe de morte e estado na prisão inúmeras vezes, ora por crimes menores e até por homicídio. Pergunta-se o leitor onde estaria ele naqueles momentos. Estava precisamente na prisão modelo de Madrid. E assim foi descartado.

Até porque quanto mais Higina falava, mais parecia certo que a empregada era a assassina. As versões contraditórias não abonaram a seu favor e acabou por ser condenada à guilhotina. Uma suposta cúmplice a quem Higina terá entregue dinheiro, Dolores Ávila, ficou-se pelos 18 anos de prisão.

A 19 de junho de 1890, a cabeça de Higina é posta debaixo da lâmina. IE imediatamente antes de lhe cortar a garganta, a emprega gritou: “Dolores, catorze mil duros!”, a moeda espanhola da época. O grito de Higina segundos antes de morrer apenas veio adensar o mistério.

A beleza mortal de Mary Rogers

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Ilustração do corpo morto de Mary Rogers encontrado no rio Hudson.

O nome de Mary Rogers deixava os homens de Nova Iorque loucos, tal como as sereias aos piratas. Numa população com 320 mil pessoas no século XIX, Mary era conhecida pela maioria. Tratar-se-ia de uma mulher de grande beleza, que costumava passear junto ao rio Hudson. Em 1838, a jovem desapareceu por dois dias, o que chegou a ser notícia dos jornais locais. Quando regressou, vinha diferente.

Mas o terror só chegou em 1841, a 28 de julho. Mary Rogers foi encontrada morta, a flutuar no rio Hudson, poucos dias depois de ter avisado o noivo, Daniel Payne, e a mãe, de que iria visitar uma tia fora da cidade, mas que voltaria no dia seguinte. Os dias passaram e a bela Mary não apareceu. Até que o corpo foi encontrado, segundo o Smithsonian, e identificado por um amigo da família: o advogado Alfred Crommelin, que tinha gostado de Mary, mas a quem a jovem rejeitou.

Foi a ele que Mary recorreu quando prometeu à mãe que não casaria com Payne. Tentou reconciliar-se com o advogado e pediu-lhe dinheiro, mas ele nunca respondeu. Decidiu então pedir ajuda a Anderson, o dono da tabacaria onde trabalhava. Ele acedeu e ela fez a dita viagem para fora da cidade. E desapareceu, conta o El Confidencial.

A última vez que foi vista estava junto à quinta de Frederika Loss, em New Jersey. Os filhos de Loss eram discípulas de Madam Restell, que fazia abortos a mulheres solteiras. Esta informação levou a supor que Mary tinha tentado abortar, mas que a operação teria corrido mal e o corpo teria sido atirado ao rio. Mas Restell negou conhecer Mary e a mãe insistiu que a filha era virgem.

Quando foi encontrado, o corpo já estava em elevado estado de decomposição. Tinha um tecido em forma de laço no pescoço, muito comum entre marinheiros, e o médico legista afirmou que havia feridas estranhas na genitália.

A hipótese de suicídio também foi considerada. A teoria tornou-se ainda mais provável quando foi encontrado um texto de Mary Rogers chamado “Deus me perdoe a minha vida inútil”.

O noivo suicidou-se dois meses e meio depois, em busca de pistas que pudessem dar-lhe respostas sobre a morte de Mary: tomou veneno, conta o My Illinois State. Sóque houve quemcontavsse que teria deixado uma carta onde sugeria estar envolvido na morte da jovem mulher.

E até hoje, a morte de Mary Rogers está por apurar.

Texto editado por Filomena Martins